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Junta Militar: RENAMO acusa FDS de informações falsas

Arcénio Sebastião
3 de março de 2022

O ressurgimento da Junta Militar na província de Sofala, centro de Moçambique, pode ter motivações políticas e corruptas, diz a RENAMO. Analista estranha a posição das autoridades face ao anúncio do reagrupamento.

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Membros da autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto de arquivo)
Membros da autoproclamada Junta Militar da RENAMO (foto de arquivo)Foto: DW/A. Sebastião

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) acusa as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de fomentar falsas informações sobre o ressurgimento da Junta Militar, grupo dissidente do maior partido da oposição, para beneficiar politicamente a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), nas próximas eleições autárquicas de 2023 e eleições gerais de 2024.

O anúncio do reagrupamento foi feito na semana passada por um quadro do Exército moçambicano. "Este anúncio visa recriar o cenário de violência política e militar contra os membros da RENAMO sob a alegação de que colaboram com a Junta Militar", reagiu esta quarta-feira (02.03) a delegada política da RENAMO na província de Sofala, Maria Celeste.

"Este anúncio pretende impedir as atividades políticas dos membros da RENAMO com perseguições, prisões, torturas, sequestros, raptos e assassinatos, o que contraria o espírito de paz e reconciliação", acrescentou Maria Celeste.

Atestado de incompetência ou estratégia política?

O analista político Wilker Dias questiona o posicionamento das autoridades governamentais sobre o alegado reagrupamento da Junta Militar. "Uma coisa também meio estranha, porque movimentos do género para um reagrupamento de um grupo para desestabilizar não pode ser assistido por parte do Executivo sem que haja uma ação efetiva", comenta.

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Para o analista, o Governo também não pode "permitir que grupos armados se reagrupem para desestabilizar o próprio país, isto pode até servir de um atestado de incompetência para os serviços de inteligência, os serviços militares e policiais existentes no país. Isso leva-me a crer que, se não houve esta incompetência, pode também servir de uma espécie de estratégia política".

Neste contexto, Wilker Dias antevê mudanças no cenário político: "Isto pode mexer no xadrez político moçambicano, qualquer e outra tentativa também pode ser usada a favor de quem as perpetra."

Por outro lado, argumenta ainda, "neste caso concreto, uma das desvantagens que a própria RENAMO carrega é o facto de termos descendentes deste partido com um braço armado. Existindo ou não esta possibilidade de reagrupamento, qualquer uma e outra notícia pode acabar mexendo com este conjunto político."

"FADM ficaram sem pretexto de guerra"

A líder da RENAMO em Sofala suspeita ainda das intenções das FDS por detrás da narrativa do ressurgimento da Junta Militar. "Com a morte de Mariano Nhongo e a integração de maior parte do efectivo residual no DDR [processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração], certos círculos das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) ficaram sem pretexto de guerra", sublinha Maria Celeste.

E como já não recebeem "os recursos que recebiam devido aos ataques da junta", acrescenta a delegada da RENAMO, "então, pretendem reativar o círculo de corrupção, de soldados fantasmas, combustível para viaturas alimentação para soldados etc."

A Junta Militar da RENAMO é um grupo dissidente da guerrilha da RENAMO, criado em 2019, que contesta a liderança do partido e desvaloriza os acordos assinados entre o Governo e a RENAMO, em 6 de agosto de 2019. O grupo perdeu o seu líder fundador em outubro de 2021.

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