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"O Presidente ainda não me ligou", diz Nhongo sobre trégua

Arcénio Sebastião (Beira)
26 de outubro de 2020

O Presidente Filipe Nyusi lançou uma trégua militar unilateral de sete dias nas províncias de Sofala e Manica. O objetivo é possibilitar uma negociação com a autoproclamada Junta Militar da RENAMO.

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Guerrilheiros da RENAMO na Serra da Gorongosa
Mariano Nhongo (à esq.) diz que ainda não recebeu um convite da FRELIMO para o diálogoFoto: DW/A. Sebastiao

A notícia foi dada pelo Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, no último sábado (24.10) na província de Cabo Delgado, norte do país. O chefe de Estado anunciou que instruiria a partir de domingo (25.10) as Forças de Defesa e Segurança posicionadas no centro de Moçambique a pararem de perseguir o grupo armado da autoproclamada Junta Militar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), liderada por Mariano Nhongo. 

Segundo Nyusi, a trégua serviria para dar a oportunidade a este grupo de aderir a um diálogo com o Governo para pôr fim às hostilidades militares no centro do país, concretamente nas províncias de Sofala e Manica.

Os dissidentes da RENAMO têm sido apontados como autores de ataques contra alvos civis e militares, principalmente na Estrada Nacional Número Um (EN1).

"Não vamos perseguir a Junta durante uma semana, precisamente para dizer que nós estamos abertos, eu estou aberto, o país está aberto. Eles já sabem como estamos a trabalhar as vias necessárias para ver se encontramos a solução para que o problema não prevaleça com os moçambicanos a matarem outros moçambicanos", afirmou o Presidente da República. 

"Vamos dizer para pararem por enquanto. Depois, chamo mais uma vez a Junta Militar da RENAMO para aproveitarmos essa oportunidade que estou a dar para poder juntar-se ao diálogo e, assim, encontrarmos soluções como moçambicanos e sairmos a ganhar", acrescentou Nyusi. 

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"Isto é batota"

O líder da autoproclamada Junta Militar, Mariano Nhongo, diz que ainda não foi contatado por nenhuma estrutura do Estado para um diálogo. Apesar de mostrar-se aberto a negociar, avança que iniciaria conversações apenas com o Presidente da República e não com Ossufo Momade, líder da RENAMO. 

Nhongo reitera que Ossufo Momade deve ser afastado da liderança do maior partido da oposição moçambicana para que uma eventual negociação de paz tenha sucesso. "Ele [o Presidente] ainda não me ligou e eu nem recebi um telefonema. Como eu estou no mato, nem rádio eu tenho. Quando eu ouvir e ver que a FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] está interessada para que haja paz, eu enviarei os meus homens para negociar com a FRELIMO", disse. 

"A FRELIMO está a sequestrar. Aqui na Gorongosa, dois homens foram raptados [recentemente]. Dizem 'vamos negociar', mas não está certo, isto é batota. Em Moçambique, não podemos viver em batota", sublinhou Mariano Nhongo. 

Apesar de ver possibilidade de diálogo, o líder da autoproclamada Junta Militar olha com desconfiança para o que chama de interesse unilateral do Presidente Filipe Nyusi, anunciado em plena reunião partidária da FRELIMO.

"Quando o Governo falar a verdade e não enganar o povo e os militares, se o Governo está a falar verdade, eu tenho todos métodos quer internacionais quer nacionais e eu vou provar o meu eu. Eu não vou me esconder mais, vou sair ao público e dizer: 'Estou aqui, venha, Governo. Negociamos, mas com enganos não, não, não. Não vamos aceitar, porque temos medo de enganar o povo", afirmou.

MDM apela a negociação

No domingo, o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política no país, congratulou o esforço e a coragem de Filipe Nyusi ao se abrir para o diálogo e o alcance da paz. Daviz Simango encorajou, ao mesmo tempo, a Junta Militar a levar a sério esta oportunidade. 

"O MDM é pela paz, por isso, deseja que as ambas partes se sentem na mesma mesa e ultrapassem as suas divergências. Achamos injusto que as mortes das populações continuem a acontecer. Que esse diálogo seja inclusivo e que se evite o que tem vindo a acontecer no passado, pois nos lembramos que o secretismo e a exclusão têm sido a fonte perpétua dos problemas até hoje", sublinhou o líder do MDM.

O Governo da FRELIMO tem vindo a negociar a paz e a transição democrática com a RENAMO desde 1992. De lá até cá, já foram assinados três acordos. O último teve lugar em Maputo a 6 de agosto de 2019. Apesar de parecer ter engajado todos os interessados, este acordo é rejeitado pelo braço dissidente armado liderado por Mariano Nhongo. 

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