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África do Sul: Desconfinamento é mais um teste a Ramaphosa

AFP | mjp
31 de maio de 2020

Admirado por uns e criticado por outros pela imposição de um confinamento rigoroso, o Presidente sul-africano torna a ver a sua liderança posta à prova com alívio das restrições da Covid-19, a partir de segunda-feira.

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Südafrika Präsident Cyril Ramaphosa
Foto: Reuters/R. Bosch

A nação mais industrializada de África prepara-se para reabrir a sua economia, na segunda-feira (01.06), altura em que entra no nível 3 de um confinamento com 5 níveis, em vigor desde 27 de março – e que criou divisões profundas.

A África do Sul já tinha entrado em recessão em 2019, antes da chegada do vírus em março de 2020. O rand, entretanto, desvalorizou 22,9% desde janeiro. A taxa de desemprego é elevada, tal como a pobreza.

"Inicialmente, havia um grande apoio a isto [ao confinamento]", diz o analista político Ralph Mathekga à agência de notícias France Presse. "Mas o Governo fez com que essa boa vontade desvanecesse, começou a ter dificuldades com o problema da legitimidade quando as pessoas ficaram revoltadas com as medidas de confinamento".

No nível 3, todos os setores da economia, à excepção dos de alto risco, poderão reabrir, tal como escolas e locais de culto. A venda de álcool vai também voltar a ser permitida, mas apenas para consumo doméstico.

"O Presidente vai para o nível 3, porque está a ceder à pressão de todas as frentes", considera Mathekga.

Críticas da oposição

O principal partido da oposição, a Aliança Democrática (AD), saudou a medida, mas diz que chega "demasiado tarde para milhões de sul-africanos que já pagaram um preço elevado pela hesitação do Governo".

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"Este confinamento está a custar cerca de 13 mil milhões de rands (742 milhões de dólares) por dia", afirma o dirigente da AD John Steenhuisen. "O Presidente tem de pôr fim ao confinamento amanhã".

O líder dos Lutadores pela Liberdade Económica (EFF, na siga em inglês), Julius Malema, por sua vez, opõe-se ao alívio do confinamento e diz que Ramaphosa definitivamente abandonou o cargo de "capitão do navio".

"As nossas avós vão morrer da mesma forma que as avós morreram em Itália", alertou Malema, referindo-se à reabertura das igrejas.

Até agora, a África do Sul registou quase 31 mil casos do novo coronavírus. Com 643 mortes, é o país mais afetado pela Covid-19 na África Subsaariana.

Saúde pública VS Recuperação da economia

Dois anos depois de vencer as eleições presidenciais com a promessa de reavivar a economia, Cyril Ramaphosa tem sido forçado a encontrar um equilíbrio entre manter a saúde pública e garantir a recuperação económica.

"Há negócios que vão fechar e que não voltam a abrir", diz Sifiso Skenjana, economista-chefe da empresa de consultoria e gestão IQ Business. Apesar de um pacote sem precendentes de 26 mil milhões para fazer frente ao vírus e ajuda alimentar, muitos sul-africanos enfrentam atualmente enormes dificuldades.

O Tesouro Nacional já lançou o alerta: mais de 2.5 milhões de empregos podem desaparecer na sequência da pandemia. E o valor dos salários pode baixar até 30%.

Para Mathekga, Ramaphosa está na corda bamba mesmo no seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), onde não goza de grande popularidade. "Se ele falhar às empresas, à classe média e aos pobres, só poderá contar com o ANC, onde nunca gostaram dele", afirma o analista.

Amanda Gouws, professora de Ciência Política na Universidade de Stellenbosch, acredita, no entanto, que Ramaphosa "mostrou uma liderança excepcional". "Impôs o confinamento muito cedo, isso salvou muitas vidas", considera.

Südafrika Essenshilfe für Bedürftige in Johannesburg
Distribuição de alimentos em JoanesburgoFoto: Getty Images/AFP/M. Longari

Assumir os erros – Uma estratégia

Ramaphosa, antigo sindicalista e homem de negócios, já admitiu que o Governo cometeu alguns erros na resposta à Covid-19. "Algumas das ações que levámos a cabo não foram muito claras, algumas foram contraditórias e algumas foram mal explicadas", disse recentemente numa declaração ao país, notando a "raiva" causada pelo confinamento.

Ramaphosa foi alvo de uma série de piadas nas redes sociais pela forma desajeitada como colocou a sua máscara durante um discurso na televisão, com os sul-africanos a fazer circular as hastags #facemaskchallenge e #CyrilMaskChallenge (em português, 'desafio máscara' e 'desafio máscara Cyril') e aproveitou o momento para aliviar a tensão: "Vou criar um canal na televisão onde vou ensinar às pessoas como colocar uma máscara", disse aos jornalistas, após o incidente.

Gouws considera que Ramaphosa é alguém que "gosta de trabalhar com consenso" e um "estratega". Mas mantêm-se alguns problemas, como a probição da venda de cigarros, que criou uma "guerra" com as tabaqueiras, à medida que floresce o mercado ilegal de cigarros. Na sexta-feira, a British American Tobacco South Africa deu início aos procedimentos legais para contestar a proibição governamental. Segundo a empresa, o tesouro sul-africano está a perder 35 milhões de rands (2 milhões de dólares) em impostos todos os dias por causa da medida.

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