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SaúdeCamarões

Malária: Camarões iniciam histórica campanha de vacinação

Carla Bleiker | tms | com agências
24 de janeiro de 2024

Os Camarões lançaram uma campanha de vacinação contra a malária em grande escala que deverá atingir 250.000 crianças este ano e no próximo. A vacina deverá salvar milhares de vidas em todo o continente africano.

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As autoridades estimam que a vacina deverá salvar milhares de vidas em toda a África
Foto: Desire Danga Essigue/REUTERS

A luta mundial contra a malária deu um importante passo. Os Camarões lançaram a primeira campanha mundial de vacinação em grande escala contra a doença. Um passo histórico contra uma das maiores causas de morte de crianças africanas, segundo a ONU. 

Na segunda-feira (22.01), as autoridades sanitárias dos Camarões deram início a uma campanha de vacinação contra a malária, uma doença parasitária que mata centenas de milhares de pessoas todos os anos, a maioria das quais crianças. Cerca de 95% das mortes ocorrem em África.

"A vacinação vai salvar vidas. Proporcionará um grande alívio às famílias e ao sistema de saúde do país", disse Aurelia Nguyen, diretora de programas da Gavi Vaccine Alliance, citada pela ABC News.

Os Camarões são o primeiro país com uma campanha de vacinação deste género fora dos ensaios clínicos.

A malária é transmitida pelo mosquito anopheles. A doença matou 608.000 pessoas em todo o mundo e infetou 250 milhões em 2022. As resistências aos medicamentos comuns contra a malária estão a aumentar. A campanha de vacinação vem juntar-se a medidas como a sensibilização, a pulverização de inseticidas e a distribuição de redes mosquiteiras de proteção.

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Que vacina é utilizada?

A vacina, que será administrada rotineiramente a crianças nos Camarões, chama-se Mosquirix, ou RTS,S, e é produzida pela empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK). Em 2021, foi a primeira vacina contra a malária a ser reconhecida como eficaz e a ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde. Em 2022, foi incluída na lista de "vacinas pré-qualificadas" da OMS, um requisito para entrar nos programas de distribuição de organizações humanitárias como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Gavi Vaccine Alliance.

Com início em 2019, um ensaio-piloto da Mosquirix no Maláui, no Gana e no Quénia revelou resultados promissores. No total, mais de dois milhões de crianças a partir dos cinco meses de idade foram vacinadas nos três países. A Gavi Vaccine Alliance afirmou que a mortalidade infantil diminuiu significativamente, assim como o número de casos graves de malária.

A OMS informou em 2021 que, entre as crianças com idades entre os 5 e os 17 meses que receberam quatro doses de RTS,S, a vacina preveniu aproximadamente 39% dos casos de malária ao longo de quatro anos de acompanhamento e cerca de 29% dos casos de malária grave.

A campanha nos Camarões é um marco importante. A procura de uma vacina contra a malária tem sido elevada em toda a região.

"Toda a gente na África Subsariana quer estas vacinas", disse Marie-Ange Saraka-Yao, diretora-geral de Mobilização de Recursos e Crescimento da Gavi, em entrevista à DW em outubro de 2023.

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Quantas doses são necessárias?

A GSK disse que será capaz de produzir cerca de 15 milhões de doses de Mosquirix por ano. Pode parecer muito, mas uma dose completa da vacina inclui quatro injeções. Na segunda-feira (22.01), um funcionário do Ministério da Saúde Pública dos Camarões disse aos pais para se certificarem de que os seus filhos de seis meses recebem as primeiras doses de vacinas contra a malária disponíveis em vários hospitais públicos.

O funcionário disse ainda que a segunda e terceira doses seriam administradas quando as crianças tivessem sete e nove meses, e a quarta e última dose quando as crianças tivessem 24 meses de idade.

Com tantas doses necessárias, o risco de as crianças falharem uma e não receberem toda a proteção de que necessitam é elevado. E mesmo nas crianças que recebem todas as vacinas, a proteção contra a doença desaparece ao fim de vários meses.

Outra vacina contra a malária,a R21, desenvolvida por cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, requer apenas três injeções. O Serum Institute da Índia calculou que poderia produzir até 200 milhões de doses por ano, informou a ABC News. A R21 ainda não é utilizada na campanha de vacinação atualmente em curso nos Camarões porque só foi incluída na lista de "vacinas pré-qualificadas" da OMS no final de 2023.

No entanto, o facto de existirem duas opções na luta contra a malária é motivo de alegria para os profissionais de saúde.

"A procura da vacina RTS,S excede largamente a oferta, pelo que esta segunda vacina é uma ferramenta adicional vital para proteger mais crianças mais rapidamente e para nos aproximar da nossa visão de um futuro sem malária", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em outubro de 2023, quando a R21 recebeu a recomendação da OMS.

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Foco nas crianças

As crianças pequenas são as mais afetadas. Em 2020, as crianças com menos de 5 anos de idade foram responsáveis por 80% das mortes por malária em África.

"Em termos de crianças, [a malária] é provavelmente a doença mais mortal neste momento", disse Saraka-Yao.

As pessoas que vivem onde há muita malária e que são infetadas repetidamente à medida que crescem podem desenvolver naturalmente um certo nível de imunidade.

Os casos em crianças são mais graves e acabam em morte mais frequentemente porque as crianças ainda não conseguiram desenvolver essa imunidade. É por isso que campanhas de vacinação como a que foi agora iniciada nos Camarões são vitais para proteger vidas jovens.

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