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RENAMO quer reintegração "digna e humanizada" de suas forças

Leonel Matias (Maputo)
8 de agosto de 2018

RENAMO vai proceder a entrega das armas na posse das suas forças residuais, devendo os seus homens ser integrados na sociedade de forma "digna e humanizada".

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Mosambik: Ossufo Momade, Chef der größten Oppositionspartei RENAMO
Ossufo MomadeFoto: Getty Images/A. Barbier

O Coordenador Interino da Comissão Política da RENAMO, Ossufo Momade, afirmou esta quarta-feira (08.08.) a jornalistas, falando via teleconferência a partir da Gorongosa, que o memorando sobre questões militares prevê "o enquadramento dos oficiais oriundos da RENAMO nos lugares de comando e chefia nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique. A integração da força residual da RENAMO nas unidades da Polícia da República de Moçambique vai ocorrer depois do entendimento referente a sua colocação na orgânica do Ministério do Interior.”

Ainda segundo Ossufo Momade "chegamos a um entendimento de que a outra parte da força residual (da RENAMO ) vai proceder a entrega do armamento a um organismo previamente instituído para o efeito. Passará a disponibilidade e será integrada na sociedade de forma digna e humanizada.”

Momade aproveitou a ocasião para deixar um apelo: "Exortamos a todas as forças vivas da sociedade moçambicana para continuarem a manter a seneridade."

O Coordenador da Comissão Política da RENAMO não fez qualquer referência à questão da integração das forças residuais do seu partido no Serviço de Informação e Segurança do Estado, SISE, que tem sido apontada como uma das exigências da Resistência Nacional Moçambicana. Escusou-se, igualmente, a responder às perguntas dos jornalistas.

Reações ao memorando de entendimento

Reações saudando o entendimento alcançado entre o Presidente Filipe Nyusi e Ossufo Momade, para a desmilitarização da RENAMO, sucedem-se a partir de dentro e fora do país.

O embaixador suíço em Maputo e presidente do Grupo internacional de Contacto entre o Governo moçambicano e a RENAMO, Mirko Manzoni, manifestou a disponibilidade para apoiar o processo.Já o presidente do MDM, Daviz Simango, defendeu a divulgação pública do acordo, de modo que os moçambicanos possam apropriar-se deste processo e monitorar a sua implementação.

Mosambik Daviz Simango Bürgermeister von Beira
Daviz SimangoFoto: DW/J. Beck

Questão melindrosa

Por seu turno, o analista Fernando Lima, comentou perante a DW África que este acordo "é um entendimento na direção certa".

Segundo Fernando Lima a maneira como esta questão está a ser tratada, e alguns pequenos bloqueios que aconteceram depois do encontro da Beira, ( local em que foi alcançado o entendimento) mostram como é melindrosa esta questão, que tem também vários níveis de resolução.

Apontou, a propósito, o sentimento da RENAMO de que alguns oficiais do partido integrados no passado nas Forças Armadas estão a ser marginalizados, e acrescentou que há novas integrações que deverão ocorrer neste setor.Ainda segundo Fernando Lima outras novas integrações estão previstas na polícia, nomeadamente não só de simples agentes como daqueles que eventualmente vão ocupar postos oficiais.

Fernando Lima Journalist in Mosambik
Foto: Fernando Lima

Outros elementos deverão ser, igualmente, integrados em forças especiais da polícia como a Polícia de Intervenção Rápida (PIR), uma área que, como Fernando Lima referiu, tem causado militarmente revezes significativos às forças armadas residuais da RENAMO.

Eleições autárquicas

Recorde-se que o partido no poder, a FRELIMO, manifestou o interesse de que as próximas eleições autárquicas previstas para 10 de outubro deste ano ocorram num ambiente em que a RENAMO esteja desarmada.

Mas Fernando Lima observa que " a rapidez muitas vezes é inimiga de se fazerem as coisas da forma certa."

"A prática tem-nos demonstrado que o processo, sobretudo nas questões militares, tem sido extremamente lento. Do meu ponto de vista mais vale que as questões sejam resolvidas em definitivo do que andar-se muito rapidamente, tentando mostrar que está tudo certo quando na prática de facto aquilo que se está a fazer são remendos a um acordo de fundo que garanta finalmente que a RENAMO é apenas um partido político sem qualquer apêndice militar."Lembramos que o atual processo negocial entre o Governo moçambicano e a RENAMO arrancou há um ano, quando Filipe Nyusi se deslocou à Gorongosa, no centro de Moçambique, para uma reunião com o então líder da RENAMOAfonso Dhlakama, no dia 06 de agosto do ano passado, num encontro que ficou marcado por um aperto de mãos.

RENAMO reclama reintegração "digna e humanizada" das suas forças

Além do desarmamento e integração dos homens do braço armado do maior partido de oposição nas forças armadas e na polícia, a agenda negocial entre Nyusi e Dhlakama, que faleceu no dia 3 de março, envolvia também a descentralização de poder, ponto que já foi ultrapassado com uma revisão da Constituição em julho.