Moçambique: Acordo de paz e reconciliação passa a ser lei
21 de agosto de 2019A aprovação da lei acontece menos de uma semana depois da autoproclamada "Junta Militar da RENAMO” ter declarado a nulidade do acordo de Maputo.
O maior partido da oposição afirma estar confiante que vai conseguir ultrapassar os problemas internos da organização.
O acordo de paz e reconciliação nacional compreende a cessação definitiva das hostilidades militares, o desmantelamento das bases da RENAMO e o Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração (DDR) das forças residuais do maior partido da oposição moçambicana.
Consta, igualmente, do acordo o enquadramento de oficiais da RENAMO nas Forças de Defesa e Segurança, a monitorização de todo o processo, a proteção do líder da Resistência Nacional Moçambicana, a responsabilidade das partes e a resolução de conflitos.
Também o acordo prevê a criação de um fundo para a sua implementação.O documento que tem efeitos retroativos a partir de um de agosto último, passou com o voto favorável das bancadas da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e da RENAMO. A terceira força política do país, MDM (Movimento Democrático de Moçambique), absteve-se.
"Um acordo sem pernas para andar" - MDM
José Manuel de Sousa - deputado do MDM, disse que o acordo "não tem pernas para andar”, acrescentando que "não estão criadas as condições para a paz efetiva, uma vez existirem fortes ameaças à paz com as recentes declarações da autoproclamada Junta Militar.”
O MDM defende, igualmente, um diálogo nacional que envolva todas as forças vivas da sociedade, e um programa de reconciliação nacional baseado na redução das causas que promovem as desigualdades sociais entre as províncias.
FRELIMO confiante numa paz efetiva
Por sua vez, a chefe da bancada parlamentar da FRELIMO, Margarida Talapa, manifestou o desejo de que o processo de Desarmamento, Desmilitarização e Reintegração das forças da RENAMO seja concluído, permitindo que nenhum partido esteja armado nas próximas eleições.
"Sou portadora do grito de alegria dos milhões de moçambicanos que começam a respirar a certeza de uma paz efetiva, podem sonhar mais alto”, reiterou Talapa apelando a RENAMO para que ultrapasse as suas diferenças através do diálogo.
A autoproclamada "Junta Militar da RENAMO” considerou no último fim de semana que o acordo de paz e reconciliação nacional era nulo, porque não reconhece a liderança de Ossufo Momade.
"(...) problemas de casa"
Ivone Soares, a chefe da bancada parlamentar da RENAMO considerou o acordo assinado entre o líder do seu partido, Ossufo Momade e o chefe do Estado moçambicano, Filipe Nyusi, ser "o possível”.
Sobre a suposta divergência com a "Junta Militar”, Ivone disse que "a RENAMO como família vai saber resolver os problemas da sua própria casa. Isso nós afiançamos.”
Ivone Soares disse ainda que o grupo contestatário clama por uma reintegração digna pelo que espera uma gestão transparente dos fundos destinados ao processo do DDR.
A chefe da bancada da Resistência Nacional Moçambicana acusou o Governo de violar o acordo incendiando casas de membros da RENAMO, impedindo-os de realizarem trabalho, e removendo bandeiras do partido.
Exigiu, por outro lado, a despartidarização do Estado e considerou que o grande teste da implementação do acordo de paz serão as próximas eleições.
Nos seus discursos, as três bancadas lançaram apelos a tolerância e convivência pacífica entre os moçambicanos. Os dois signatários do acordo, o Governo e a RENAMO, afirmaram que vão respeitar o documento no espírito e na letra.
Caráter vinculativo
Por seu turno, o Presidente da Comissão Parlamentar dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e de Legalidade, Edson Macuácua sublinha que a aprovação da proposta de lei do acordo pelo Parlamento tem o caráter vinculativo.
"A lei passará a ser vinculativa para todos os cidadãos e não apenas para os signatários do acordo, segundo ganhará legitimidade”, conclui Macuácua.