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Imprensa alemã destaca ANC e República Centro-Africana

Krieger, Renate21 de dezembro de 2012

Se não houver diálogo entre insurgentes e governo na República Centro-Africana, risco de derrocada de Estado é grande, dizem textos dos jornais alemães. ANC estaria "sem rumo" na África do Sul.

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O diário Die Tageszeitung destacou esta semana a "guerra no país dos diamantes e dos elefantes", ou seja, a República Centro-Africana. "Em apenas dez dias, uma nova coligação de insurgentes conquistou grandes áreas no país. Agora, o exército do Chade corre para ajudar o presidente François Bozizé", escreve o jornal.

Na última quinta-feira (20.12), segundo o diário também conhecido como TAZ, a cidade de Kabo foi palco de violentos confrontos. Kabo tinha sido conquistada um dia antes a partir do leste. Os soldados do Chade organizaram uma ofensiva a partir de Kaga Bandoro, onde o presidente Bozizé os havia recebido no dia anterior.

O TAZ ainda lembra que Bozizé está à frente a República Centro-Africana há dez anos, depois de derrubar o presidente eleito Ange-Félix Patassé com "discreta ajuda do Chade". Patassé, por seu lado, procurou na altura ajuda de Jean-Pierre Bemba, antigo líder rebelde que agora está diante do Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia por causa dos crimes cometidos por seus comandados. "Ou seja, os conflitos do país têm dimensão regional", avalia o jornal.

Desde que Bozizé chegou ao poder, existem rebeldes contra ele, afirma ainda o TAZ, que lembra que eles atuam no noroeste do país, região de onde vem Patassé, e também no extremo leste da RCA, um território praticamente "sem Estado" nas fronteiras do Sudão e do Sudão do Sul.

Entretanto, também o Exército de Resistência do Senhor, de sigla inglesa LRA, do Ruanda, também se instalou ali. Em 2007, a França teve de intervir militarmente para impedir o avanço de insurgentes no leste. Desde então, Bozizé conseguiu acabar com as rebeliões, uma após a outra, por meio de acordos de paz.

"Mas várias partes da República Centro-Africana ficaram inseguras, com redes de ladrões de rua, cujas atividades se estendem desde os Camarões até ao Sudão e que encontram, nas vastas regiões da República Centro-Africana, várias riquezas, de diamantes a elefantes".

Volta à ativa

Os rebeldes voltaram à ativa e criticam que Bozizé não cumpre a promessa de desmobilização e de integração, no exército, de antigos insurgentes - esta estaria muito lenta. Por outro lado, o presidente Bozizé, segundo o Tageszeitung, confia pouco no próprio exército: sua guarda presidencial inclui soldados chadianos.

"Agora, se discute sob que condições haveria possibilidade de um diálogo político [entre os rebeldes e o governo]. Se este falhar, é possível que haja uma derrocada do Estado - diretamente ao lado de países em crise como a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul", avalia o jornal alemão.

ANC, um partido perdido?

O partido governamental da África do Sul se afastou dos marginalizados do país, opina o articulista Anton Christen, do jornal suíço em língua alemã Neue Zürcher Zeitung. O novo vice-presidente Ramaphosa também não deverá conseguir mudar esta realidade, diz Christen.

Na terça-feira (18.12), o presidente sul-africano Jacob Zuma foi reeleito à liderança do Congresso Nacional Africano (ANC) e "tentou passar a imagem de um partido otimista, amado e que cresce a cada dia".

Neste sentido, avalia o articulista, Zuma teve dificuldades em diferenciar o ANC "mitológico" dos tempos anti-apartheid [o regime segregacionista de minoria branca na África do Sul, vigente até 1994] do ANC de hoje: "um partido marcado por fissuras, rivalidades e brigas internas".

Também o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung destacou que o ANC enfrenta o futuro "sem nenhum conceito". "A vitória de Zuma foi a prova cabal de que o ANC, dominado por corrupção, acha que pode continuar como estava e que praticamente não aprendeu nada da insatisfação que reina entre a população, que tem raiva dos dirigentes que parecem só querer enriquecer a si mesmos".

Quênia expulsa refugiados somalis das cidades

Foi um dos destaques do Süddeutsche Zeitung nesta quinta-feira (20.12). "Eles fugiram da fome e da guerra, mas agora são considerados 'risco de segurança' no Quênia, para onde foram", diz o texto. "O governo do Quênia ordenou que todos os refugiados somalis deixem as cidades do país e que vão para campos de refugiados". Só em Nairobi, diz o Süddeutsche Zeitung, esta medida afetaria mais de 30 mil pessoas.

É que, nas últimas semanas, houve várias explosões de granadas em Nairobi, especialmente em áreas habitadas por Somalis. Pelo menos 13 pessoas morreram e muitas ficaram feridas. Não se sabe quem é o responsável pelas explosões, mas existe a suspeita de que a autoria seja das milícias extremistas islâmicas Al-Shabab, que dominou a Somália durante vários anos, mas foi expulsa de seus bastiões nos últimos meses.

Os escritórios para refugiados na capital queniana, Nairobi, serão fechados imediatamente. O ACNUR, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, deverá prestar assistência apenas nos campos. O maior deles é o de Dadaab - "fica numa terra de ninguém, perto da fronteira da Somália, e já está superlotado, com 500 mil refugiados".

Autora: Renate Krieger
Edição: António Rocha