1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Morte de Bin Laden poderá radicalizar Al-Qaida do Magrebe, diz ministro do Mali

3 de maio de 2011

Soumeylou Maiga acha que AQMI poderá tentar “fuga para a frente” no Sahel, região onde também existe sentimento anti ocidental. Outras reações africanas foram de comemoração, como no Quénia, alvo de ataques no passado

https://p.dw.com/p/RLqM
Núcleo regional AQMI está privado da figura simbólica de Usama Bin Laden (foto), diz ministro do Mali
Núcleo regional AQMI está privado da figura simbólica de Usama Bin Laden (foto), diz ministro do MaliFoto: AP

Para o chefe da diplomacia do Mali, Soumeylou Boubèye Maiga, a morte de Bin Laden poderá radicalizar a Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI), o braço da rede terrorista naquela região do norte africano.

Numa entrevista ao jornal francês Le Monde, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali, ao falar das consequências no Sahel da eliminação física do chefe da Al-Qaida, considerou que a AQMI se vê agora privada da sua principal fonte de inspiração ideológica e operacional. Por um lado e por outro, o que aconteceu vai aumentar a curto prazo o ele que chamou de “fuga para a frente”.

De acordo com Soumeylou Maiga, os confrontos vão tornar-se mais diretos, se a AQMI se radicalizar. “A imensidão do território dos países do Sahel constitui portanto um desafio para esses Estados”, avaliou o ministro.

A AQMI opera em vários países do Sahel, nomeadamente no Mali, na Mauritânia e no Níger. Nesses países, a organização tem levado a cabo vários atentados e raptos, sobretudo de ocidentais. Recorde-se que foi este grupo que reivindicou o rapto no norte do Níger, em setembro último, de cinco franceses, um malgaxe e um togolês, sendo três deles libertos em fevereiro. A AQMI tem ainda como reféns 4 franceses na região do Sahel, a sul do deserto do Saara, e exige em troca da sua libertação que a França retire as suas tropas do Afeganistão, como sempre exigiu Bin Laden.

Tanto no Magrebe (figura) quanto no Sahel, região a sul do Saara, existe sentimento anti ocidental, dizem observadores
Tanto no Magrebe (figura) quanto no Sahel, região a sul do Saara, existe sentimento anti ocidental, dizem observadoresFoto: Wikipedia

Mas na região do Sahel, o momento não é de otimismo, como disse em entrevista à DW o jornalista Moussa Aksar, diretor do jornal L’Événement, do Níger: “Podemos dizer que estamos um pouco preocupados com o futuro dos reféns franceses que se encontram nas mãos da AQMI. Não se deve esquecer que no Níger, a população é cerca de 90% muçulmana e portanto, com a morte de Bin Laden e a intervenção da coligação internacional na Líbia, a situação tende a piorar”, avalia Aksar.

“Por outro lado, com o conflito na Líbia, chegaram ao Níger milhares de refugiados, uma situação que desencadeou no país um sentimento anti ocidental que está em vias de se propagar. A AQMI aproveita-se desta situação”, disse o jornalista.

Quénia vê “justiça” na morte de Bin Laden

O Quénia, que foi por duas vezes alvo de atentados imputados à Al-Qaida, o primeiro em 1988 e o segundo (contra israelitas) em 2002, também reagiu à morte de Bin Laden. Simon Kimoni é o porta-voz da associação das vítimas do atentado contra a embaixada dos Estados Unidos em Nairóbi, que, em 1998, fez mais de 200 mortos. “Estamos muito satisfeitos que os americanos tenham conseguido matar Bin Laden.Trata-se de uma boa notícia para os sobreviventes do atentado no Quénia”, afirma Kimoni.

Entretanto, no Egito não se conhece por enquanto uma reação oficial. O ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio somente anunciou num comunicado que condenava todas as formas de violência, numa altura em que medidas de segurança eram reforçadas no aeroporto da capital, Cairo. O número dois da Al-Qaida, Ayman al-Zawahiri, é de origem egípcia.

Rede terrorista não é só uma pessoa, diz iraquiano

Já no Iraque, os chiitas dizem estar aliviados, como este ouvido pela Deutsche Welle: “Bin Laden morto marca um fim de uma época sombria. A sua morte é o fim de todos os atos criminosos que até hoje fustigaram o Iraque. A sua morte será também o fim de todos os outros criminosos”, espera a testemunha.

Outro iraquiano adverte: “A Al-Qaida não é apenas uma pessoa. O problema é muito mais complexo. Sim, Usama Bin Laden está morto, mas é mais perigoso porque a própria Al-Qaida é extremamente popular em muitos países árabes.

Autor: António Rocha

Revisão: Renate Krieger

Imagem de satélite (centro, esq.) mostra complexo em Abottabad, no Paquistão, onde Bin Laden foi morto por forças norte-americanas
Imagem de satélite (centro, esq.) mostra complexo em Abottabad, no Paquistão, onde Bin Laden foi morto por forças norte-americanasFoto: AP Photo/DigitalGlobe