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Morre Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde independente

22 de setembro de 2011

Conotado com o desenvolvimento positivo do arquipélago após a independência, Aristides Pereira foi também alvo de críticas pela sua postura antidemocrática. Morreu hoje (22/09), aos 88 anos, em Coimbra, Portugal.

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Aristides Pereira foi o primeiro Presidente de Cabo Verde, depois de lutar pela independência do país durante várias décadasFoto: public domain

Numa entrevista concedida ao jornal português Público em 2002, Aristides Pereira definiu assim o percurso pessoal que o transformou numa figura emblemática da História de Cabo Verde: “Eu nasci um homem comum. Foram as circunstâncias que levaram a que eu tivesse um papel político importante, e estando eu nessa situação, esforcei-me para dar o melhor de mim.”

Aristides Maria Pereira nasceu a 17 de novembro de 1923 na ilha de Boa Vista. Completados os estudos liceais optou pela carreira de rádio-telegrafista. A sua politização deu-se ainda durante a juventude, especialmente depois de assistir à tragédia da fome na década de 40 do século passado. Como recordou em várias entrevistas, apercebeu-se então da condição de colonizado em que vivia sob a tutela portuguesa.

A luta pela independência

Em 1956, Pereira juntou-se a Amílcar Cabral, seu conterrâneo mas residente na Guiné-Bissau. Ambos foram membros fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e de Cabo verde (PAIGC). Posteriormente, Aristides Pereira veio a ocupar todos os cargos importantes no partido, mantendo-se sempre envolvido na luta pela independência dos dois países. Quando esta aconteceu em Cabo Verde, em 1975, Aristides Pereira tornou-se o primeiro Presidente do arquipélago, mandato que exerceu até 1991. Em 1980, após um golpe de Estado na Guiné-Bissau, abandonou a ideia defendida por Cabral de uma federação entre os dois países. Depois de romper com o PAIGC é fundado, em 1981 o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV).

A introdução do multipartidarismo

Dos colonizadores portugueses, Aristides Pereira herdou um país extremamente pobre com um elevado grau de analfabetismo, sem sistema de saúde nem estradas. Nestas circunstâncias, a nível internacional houve quem duvidasse da viabilidade da sobrevivência de um pais sem recursos naturais. Mas a comunidade internacional veio em socorro de Cabo Verde, que registou um desenvolvimento positivo na era pós-independência, também atribuído à política de Aristides Pereira em prol dos mais pobres. O Presidente, porém, foi igualmente alvo de críticas contundentes pela perseguição que moveu à oposição política e o desrespeito de direitos fundamentais como a liberdade de expressão e de imprensa.

Quando a nova Constituição de 1991 finalmente introduziu o multipartidarismo em Cabo Verde, Pereira foi derrotado nas eleições. Cabo Verde tornou-se no primeiro país a sul do Saará onde um partido único, o PAIGC, foi expulso do poder num escrutínio livre e democrático. O estadista e ex-guerrilheiro abandona, nessa altura, a política, com a consciência do dever executado: "O meu sonho está cumprido. O sonho da independência, da democracia e do desenvolvimento está cumprido".

Insel Sal, Kap Verde
O sonho de Aristides Pereira incluia o desenvolvimento do seu paísFoto: PA/dpa

Autora: Cristina Krippahl

Edição: António Rocha