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Insurgência: Como travar o recrutamento em Nampula?

Nádia Issufo
24 de junho de 2020

IESE acha que não é com um reforço das FDS. "Uma presença massiva das FDS poderia exacerbar tensão entre jovens e o Estado", diz ONG, que alerta que a presença massiva pode ser acompanhada de abusos de direitos humanos. 

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Unruhen in Mosambik
Militar do exército moçambicanoFoto: Getty Images/Afp/Jinty Jackson

Cada vez mais grupos de jovens supeitos de estarem a juntar-se a grupos insurgentes que atuam em Cabo Delgado são intercetados pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), muitos deles saídos da província vizinha de Nampula. Uma ação das autoridades à chegada, mas à partida, em Nampula, que controlo as autoridades fazem? Sobre os recrutamentos em Nampula, a DW África conversou com Salvador Forquilha, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), instituição que tem feito pesquisas sobre a insurgência no norte do país: 

DW África: Há tempos que se fala que jovens de Nampula estão a ser recrutados para as fileiras da insurgência. Tem ideia de como é feito o aliciamento? 

Salvador Forquilha (SF): Penso que desde o início da violência armada em outubro de 2017, o recrutamento de jovens na província de Nampula, particularmente nos distritos do litoral, nomeadamente Nacala-à-velha, Nacala Porto, Memba, Ilha de Moçambique é uma realidade. Ao longo destes três anos, várias vezes a polícia intercetou grupos de jovens que alegadamente iam juntar-se aos insurgentes em Cabo Delgado. Aliás, no nosso primeiro relatório de pesquisa sobre a radicalização islâmica no norte de Moçambique, falando de recrutamentos, já mencionávamos que os grupos recrutavam no litoral de Nampula. E o aliciamento a esses jovens praticamente continua a ser do mesmo tipo hoje, emprego, nalguns casos estudos fora de Moçambique, nomeadamente na Tanzânia. É evidente que a vulnerabilidade em que a vasta maioria dos jovens dessas zonas se encontra joga a favor das redes de recrutamento para a violência armada em Cabo Delgado.

DW Bonn | Salvador Forquilha, Institute of Social and Economic Studies and Research of Mozambique
Salvador Forquilha, diretor do IESEFoto: DW/B. Darame

DW África: O Estado tem apelado aos jovens a não enveredarem por essa via, mas só isso não basta. As autoridades não deveriam apresentar alternativas aos jovens nampulenses para os dissuadir?

SF: Claramente um simples apelo aos jovens para não se juntarem ao grupo dos insurgentes não é suficiente. Eu penso que é preciso que o Estado apresente alternativas aos jovens, particularmente em termos de políticas de emprego ou esquemas de geração de renda, no sentido de aliviar a vulnerabilidade dos jovens. É preciso que o Estado tenha uma resposta para o problema que seja estratégica e de médio e longo prazo.

DW África: Da mesma forma que foi reforçada a presença das Forças de Defesa e Segurança (FDS) em Cabo Delgado, Nampula também precisaria de igual reforço para evitar o aumento dos recrutamentos e outros males associados?

SF: Não me parece que o reforço das FDS em Nampula possa ser a solução para estancar o recrutamento dos jovens para as fileiras dos insurgentes em Cabo Delgado. Pelo contrário, penso que uma presença massiva das FDS na província de Nampula poderia exacerbar a tensão entre os jovens e o Estado na medida em que nessas circunstâncias, essa presença massiva das FDS vai acompanhada por excessos de repressão e abusos de direitos humanos. Portanto, o que parece a solução passa por levar o Estado para perto dos jovens em termos de políticas de emprego ou esquemas de geração de renda para atacar a extrema vulnerabilidade dos jovens. 

Symbolbild < Im Norden Mosambiks sind 50 Zivilisten von Dschihadisten ermordet worden
Aldeia da Paz, em Macomia, depois de um ataque de insurgentes em 2019 Foto: AFP/J. Nhamirre

DW África: A aparente facilidade com que se recruta em Nampula denuncia uma fraca presença do Estado na província, tal como aconteceu em Cabo Delgado?

SF: Penso que o problema, mais uma vez, diz respeito à relação com o Estado. Na realidade, em muitas dessas zonas o Estado está ausente, está longe em termos de serviços básicos e políticas. Isso faz com que a chegada de um grupo armado portador de um discurso de contestação ao Estado catalize e acelere o descontentamento dos setores marginalizados, incluindo os jovens, tornando-os muito mais vulneráveis ao recrutamento de grupos armados, como é o caso do grupo que atua em Cabo Delgado. 

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