1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Cabo Delgado: Como é que se vai dialogar com os insurgentes?

Delfim Anacleto
29 de novembro de 2023

Analista Albino Manguene questiona como é que a comissão internacional, que em janeiro de 2024 se desloca a Cabo Delgado, no norte de Moçambique, vai chegar aos líderes dos insurgentes para dialogar e acordar a paz.

https://p.dw.com/p/4ZZ1b
Forças de segurança patrulham Cabo Delgado
Foto: Roberto Paquete/DW

Uma comissão internacional desloca-se, no início do próximo ano, à província de Cabo Delgado para "dialogar com os insurgentes" e alcançar a paz na região. A informação foi divulgada pelo presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, Sheikh Aminuddin Muhammad, que é também membro do Conselho de Estado em Moçambique.

O politólogo Albino Manguene considera a iniciativa louvável, mas questiona quem será o interlocutor da parte dos terroristas.

Em entrevista à DW África, Albino Manguene diz que numa altura em que os terroristas estão fragilizados devido à perda de muitos dos seus líderes, a negociação seria uma das opções do grupo armado para evitar a sua humilhação militar. 

Em entrevista à DW, analista Albino Manguene questiona como é que se vai dialogar com os líderes de grupos terroristas
Albino Manguene, analista político moçambicanoFoto: privat

DW África: Acredita que este passo será decisivo para se chegar à tão desejada paz em Cabo Delgado?

Albino Manguene (AM): A efetivar-se, é louvável e desejável. Já estamos desde 2017 num conflito que quase não tem fim em Cabo Delgado, apesar de haver uma espécie de retorno à normalidade, mas a população ainda vive numa incerteza no que toca à segurança. Existem alguns focos que são alvos de ataque e mesmo onde estão, temem que haja retorno desses ataques. Embora as forças de defesa segurança, juntamente com as forças internacionais, estejam a controlar a situação, ainda não se declarou o fim do terrorismo em Cabo Delgado.

DW África: De acordo com o presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, Sheikh Aminuddin Muhammad, será uma comissão composta por membros dos países vizinhos, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral e da União Europeia. Será que isso poderá facilitar o diálogo?

AM: Repito: se isso se efetivar, é louvável, porque vai-nos garantir uma situação de paz e estabilidade em Cabo Delgado.

DW África: Afinal, com quem se vai dialogar uma vez que, publicamente, o grupo nunca apresentou as suas lideranças?

AM: Eu questiono-me enquanto sujeito alheio a tudo o que está a acontecer, de onde e como é que vai começar? Quais são as técnicas que irá usar para solicitar esse diálogo negocial? A não ser que o conselho islâmico conheça os indivíduos, tenha noção da sua localização e através desse contacto, chegar à liderança dos insurgentes, isso é possível.

Todavia, paira uma dúvida na possibilidade de isso acontecer. Acredito que o Governo estaria numa posição mais privilegiada. Mas tendo também em mente que possa ser uma guerra com complicações religiosas, talvez desse lado se possa celebrar algum sucesso.

DW África: Será possível acabar definitivamente o problema de Cabo Delgado pelo diálogo? Os terroristas estariam disponíveis para dialogar? 

AM: Acredito que sim. Tendo em mente que a maioria das lideranças dos insurgentes foram mortos, eles estão numa situação de enfraquecimento. Geralmente, alguém nesse estágio, para não sair como derrotado, uma situação de negociação gera uma posição de conforto, porque lhe confere um sentimento de herói, reconhecido e atribui um potencial.

Líder terrorista Ibin Omar "fora de combate", anunciam FADM

Saltar a secção Mais sobre este tema