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Angola, o maior devedor africano à China

Lusa
1 de janeiro de 2023

Angola é o país africano que recebeu mais empréstimos da China nos últimos 20 anos - foram mais de 42 mil milhões de dólares, segundo a Chatham House, que defende que a dívida da região é uma "prioridade global".

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China | Xi Jinping und Joao Lourenco
Foto: Yan Yan/Photoshot picture alliance

Os países africanos devem 696 mil milhões de dólares (cerca de 651 mil milhões de euros) - um aumento de cinco vezes face ao início do milénio, com 12% desse valor a ser devido a credores chineses. São dados do Instituto Real de Assuntos Internacionais do Reino Unido (Chatham House).

O estudo analisa sete países em detalhe, incluindo Angola, e salienta que o rácio da dívida sobre o Produto Interno Bruto (PIB) tem melhorado nos últimos semestres. Essencialmente, devido à apreciação do kwanza e ao crescimento da economia, melhorando de 130% em 2020 para 86,4% em 2021, e caindo novamente para 56,6% em 2022. 

Mas o custo do serviço da dívida deverá ser de perto de 13 mil milhões de dólares (12,1 mil milhões de euros) em 2022, dos quais 38% referem-se a dívida externa.

China | Xi Jinping und Joao Lourenco
João Lourenço e Xi Jinping (foto de arquivo)Foto: Kyodo/dpa/picture alliance

"Angola deve mais"

Angola, aliás, deve mais à China do que os três países seguintes, ultrapassando a soma dos 13,7 mil milhões de dólares da Etiópia, 9,8 mil milhões da Zâmbia e 9,2 mil milhões do Quénia, de acordo com a Chatham House.

"O pagamento, alívio e cancelamento da dívida continua a ser uma prioridade para o governo do Presidente João Lourenço no segundo mandato, que começou em setembro de 2022, tal como diversificar as parcerias externas para além da sobredependência da China", lê-se no estudo da Chatham House. 

O instituto aponta, nesse sentido, que a dívida dos países africanos deva ser encarada como "uma prioridade global".

A China tem sido o maior credor dos países africanos nas últimas décadas. Ultrapassou os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão.

Weltspiegel 15.02.2021 | Corona | Simbabwe Harare | Lieferung Impfstoff aus China
Entrega de vacinas a partir da China a África em 2021 (foto de arquivo)Foto: Jekesai Njikizana/AFP/Getty Images

"Armadilha"

Mas os investigadores da Chatham House salientam que "longe de ser uma estratégia sofisticada para se apropriarem de ativos africanos, os empréstimos da China, numa fase inicial, podem ter criado uma armadilha da dívida para a China, que se enredou profundamente com os parceiros africanos cada vez mais maturos e assertivos".

O gigante asiático é o maior credor da Zâmbia. Por exemplo, o primeiro país a entrar em Incumprimento Financeiro no seguimento da pandemia de Covid-19. Além disso, as consequências económicas não só da pandemia, mas também da invasão da Ucrânia pela Rússia, fez outros países pararem de pagar as suas dívidas, como é o caso mais recente do Gana.

De acordo com os critérios do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), 22 dos 54 países africanos estão em sobre-endividamento, incluindo todos os países lusófonos.

Afrika-China-Beziehungen | Xi Jinping
O Presidente chinês Xi Jinping a presidir a Cimeira Extraordinária China-África sobre ajuda chinesa contra a Covid-19 (foto de arquivo)Foto: Huang Jingwen/Photoshot/picture alliance

Mudança na interação com os africanos?

A análise da Chatham House mostra também que a China está a mudar a interação com os países africanos, tendo colocado um forte travão aos desembolsos, que passaram de 28,4 mil milhões de dólares em 2016, para 8,2 mil milhões em 2019 e apenas 1,9 mil milhões de dólares em 2020, durante a pandemia.

A crise da dívida que afeta os países africanos tem motivado um intenso debate entre os académicos, bancos multilaterais, analistas e investidores. Vários observadores defendem que o nível atual do rácio da dívida face ao PIB, entre os 60 e os 70%, é insustentável.

Os analistas têm em conta a subida das taxas de juros pelos bancos centrais ocidentais e o aumento da inflação nomeadamente nos bens alimentares e energéticos, que se junta ao elevado preço que os investidores cobram para emprestar dinheiro aos países africanos, percecionados como mais arriscados em termos de credibilidade dos pagamentos.

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