Papel de Angola na paz e segurança africana é tema de tese de doutoramento
22 de março de 2013Luis Bernardino é major do exército português e autor do livro "A Posição de Angola na Arquitectura de Paz e Segurança Africana". A obra, apresentado nesta quinta-feira (21.03), no Instituto de Estudos Superiores Militares, em Lisboa, baseada numa tese de doutoramento, aborda a posição de Angola na arquitectura na paz e segurança regional.
A paz e segurança da região
Com a internacionalização das forças armadas, Angola pode ser considerada uma potência regional em ascensão. A visão é do major Luís Bernardino, que em entrevista à DW África, destaca o papel ativo do país na construção da paz e segurança em África.
"Angola tem tido cada vez mais um papel de relevo. As forças armadas de Angola irão tendencialmente sofrer uma reestruturação, uma maior operacionalização e ter maior projeção no contexto regional e continental", explica Bernardino.
O livro é resultado da tese de doutoramento desenvolvido ao longo de sete anos sobre um tema desafiante, segundo as palavras do autor: "A tese aborda qual é o papel de Angola na paz e segurança da região subsaariana além de fazer uma retrospectiva para saber como surgiram as forças armadas angolanas. Somado a isso, a análise do que são hoje no contexto regional", esclarece o major do exército.
Tropas angolanas no conflito da RDC
Segundo Luís Bernardino, apaixonado pelo estudo de alguns dos conflitos em África, o processo de formação das Forças Armadas Angolanas é um caso único no mundo, que revela ser uma matéria de bastante interesse para a investigação académica.
Para o professor universitário, Adriano Moreira, antigo ministro do Ultramar durante o Estado Novo que prefacia o livro, Angola poderá assumir a curto prazo um importante papel de afirmação em África, como membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
Entretanto, a participação de tropas angolanas no conflito da República Democrática do Congo (RDC), onde alegadamente terão cometido atos de violação dos direitos humanos, não é matéria pacífica.
Abordado pela DW África sobre este tema, o autor do livro é mais cauteloso nas palavras: "Sendo a fronteira uma questão fundamental para a soberania de Angola, é natural que Angola e suas forças armadas estejam preocupadas e ativamente atentas ao que se passa. Acredito que a participação de Angola no quadro da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral poderá será melhor forma para se encontrar equilíbrio na região e a melhor forma de Angola participar e potencializar os seus interesses."
Guiné-Bissau
Para a DW África, Bernardino também analisa a transição na Guiné-Bissau e a decisão, que considera certa, de retirada das tropas angolanas do território guineense após o golpe de Estado de 12 de abril de 2012.
Bernardino sustenta que, atualmente, a prevenção dos conflitos deve ser procurada no contexto multilateral, envolvendo os vários atores com interesses na região, de modo a se encontrar um ponto de equilíbrio para que a paz e a segurança prevaleçam.
O livro de Luís Bernardino, cujo anexo traz um acervo documental, será apresentado também em Angola e no Brasil, respectivamente nos meses de maio e julho próximos.
A obra do autor de mais de 900 páginas contou com o apoio de várias instituições nacionais e internacionais, entre elas do Centro de Estudos Estratégicos de Angola.