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Os "tentáculos" de Al-Sisi

Kersten Knipp | nn
29 de abril de 2019

O Presidente egípcio já é um dos principais atores da política externa no norte de África. A recente revisão constitucional permite a Abdel Fattah al-Sisi ficar no poder até 2030 e aumenta a sua influência nos tribunais.

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Foto: picture-alliance/AP Images/AP Photo/E. Vucci

Mais de 88% dos egípcios votaram a favor das emendas constitucionais que reforçaram os poderes de Abdel Fatah al-Sisi, que poderá agora nomear altos-funcionários judiciais. Com a expressiva vitória do "sim" no referendo constitucional, os poderes do Exército egípcio saíram reforçados, bem como a influência do Presidente do Egito nos tribunais do país.

O futuro da oposição política no Egito está, por isso, a prémio. Se puserem os pés em falso, os críticos do Presidente arriscam-se a ser julgados em tribunais militares. "A posição de Al-Sisi está mais forte do que qualquer outro Presidente desde a revolução de 1952 - muito mais forte que Mubarak. Com esta emenda constitucional, ele garantiu não só a prorrogação do seu mandato até 2030, mas também um poder incomparável", diz em entrevista à DW África o especialista Günter Meyer.

O sociólogo do Centro de Pesquisa sobre o Mundo Árabe da Universidade de Mainz, na Alemanha, lembra que o Presidente egípcio"tem influência na ocupação dos principais cargos do mapa judiciário, preside ao Alto Conselho Judicial e é ele quem nomeia o procurador-geral e o presidente do Supremo Tribunal Constitucional, assim como o Executivo político. " Ao mesmo tempo, também é o comandante-chefe do Exército. "Al-Sisi está à frente de um Estado autoritário como nunca aconteceu", diz Günter Meyer.

Mesma estratégia na Líbia e na Síria

Poucos dias antes do referendo constitucional no Egito, Al-Sisi encontrou-se com o marechal líbio Khalifa Haftar, uma reunião que desafiou o governo internacionalmente reconhecido em Tripoli.

Os tentáculos de Al-Sisi

Khalifa Haftar é para o Egito, mas também para a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, um dos mais importantes aliados na luta contra a Irmandade Muçulmana e radicais islâmicos. No fundo, o Egito vê em Haftar uma espécie de escudo que garante proteção à fronteira ocidental egípcia.

Ao trabalhar com o marechal líbio, Al-Sisi tornou-se um dos principais atores da política externa no norte de África. O chefe de Estado do Egito tem usado a mesma estratégia com a Síria. Há três anos que o líder egípcio tem trabalhado de perto com o regime de Bashar al-Assad.

Posição militar privilegiada

Por outro lado, as ambições políticas de Al-Sisi na senda internacional são apoiadas por forças armadas robustas. "As Forças Armadas egípcias são as mais fortes em todo o mundo árabe. É por isso que al-Sisi já está numa posição militar privilegiada", comenta Günter Meyer.

Depois de chegar ao poder após as eleições de 2014, lembra ainda o analista, "ele tornou-se cada vez mais autoritário - basta pensar na sangrenta repressão contra a Irmandade Muçulmana e as violações dos direitos humanos em massa."

Mas o Egito não depende apenas do seu exército: a política doméstica repressiva de Abdel Fatah al-Sisi durante a última administração do Presidente Barack Obama deteriorou as relações com os Estados Unidos da América (EUA). Isso aproximou-o da Rússia, país com o qual estabeleceu acordos de fornecimento de armas.

O Egito está ainda a construir a primeira central nuclear do país com ajuda russa. A chegada de Donald Trump ao poder nos EUA voltou a estreitar as relações entre Egito e Estados Unidos, o que faz de al-Sisi uma espécie de polvo na política: com tentáculos em vários pontos do planeta.