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Moçambique: Falta de consenso mantém greve na saúde

Lusa
20 de maio de 2024

Os profissionais de saúde moçambicanos anunciaram esta segunda-feira (20.05) a continuação da greve, iniciada há 21 dias, face à falta de consenso com o Governo, que acusam de ameaças para que a classe retome o trabalho.

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Foto: DW/S. Lutxeque

"Continuaremos em greve lutando para que o povo, ao se dirigir às unidades sanitárias, não se angustie indagando se obterá o tratamento de que necessita ou se na farmácia pública encontrará os medicamentos receitados (...). Vamos continuar em casa mesmo com as ameaças", disse o presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), Anselmo Muchave.

Em conferência de imprensa, em  Maputo, para fazer um ponto de situação da greve iniciada em 29 de abril, Muchave acusou o Governo de continuar a recorrer a ameaças para fazer com que os profissionais regressem às unidades de saúde. 

"Somos selvaticamente seviciados. Atropelam o nosso direito à revindicação dando guias [de transferências] sem fundamentos e sem seguir os protocolos plasmados. Vão buscar-nos nas nossas casas para irmos trabalhar com as viaturas que são necessárias para transportar pacientes, mas quando é para isso dizem que não há combustível", afirmou.

O Ministério da Saúde disse anteriormente que "continuará a assegurar a prestação de cuidados de saúde", pedindo à sociedade para que "continue a procurar os serviços de saúde sempre que necessário e denuncie quaisquer tentativas de impedimento à assistência sanitária às direções das unidades sanitárias e outras entidades de direito".

"Aos profissionais que aderiram à greve, o Ministério da Saúde apela a regressarem aos seus postos de trabalho e que continuem a encarar o diálogo como a melhor forma de resolver os diferendos", referiu ainda, há uma semana, aquele ministério.

Acrescentou na altura que "o diálogo com a APSUSM prossegue, incluindo a solicitação para o desconto mensal de 1% do salário de todos os profissionais de saúde", com exceção dos médicos e médicos dentistas, "para o pagamento de quotas a favor da APSUSM", mas reiterou "que qualquer desconto no salário do funcionário, fora do previsto na legislação em vigor, carece de consentimento do mesmo".

Anselmo Muchave, presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM)
Anselmo Muchave, presidente da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM)Foto: Romeu da Silva /DW

Já Anselmo Muchave acusou o Governo de negligenciar a saúde dos moçambicanos, não atendendo às revindicações da classe, como o pagamento de horas extraordinárias, os enquadramentos definitivos, subsídios de risco e a disponibilização do material hospitalar. 

Acrescentou que durante este período da greve, perto de mil pacientes perderam a vida nas unidades sanitárias. 

"Pedimos ao Governo que tomem cada um dos utentes como se fossem eles próprios ou conhecidos seus, pois para nós profissionais de saúde, cada utente é parte de nós, cuja saúde está sendo negligenciada por um sistema de saúde concebido para servir", apelou. 

Mais de 50 mil profissionais de saúde aderiram à greve iniciada em 29 de abril, anunciou anteriormente a associação.

O regresso à greve tinha sido marcado para 28 de março, mas esta foi suspensa um dia antes na sequência de conversações com o Governo moçambicano que culminaram com o cumprimento de alguns pontos da reivindicação, como o enquadramento dos profissionais de saúde, visitas de monitorização às unidades hospitalares e a resolução das irregularidades no pagamento de subsídios, referiu na altura a APSUSM.

Passados quase 30 dias depois da suspensão da greve, os profissionais de saúde moçambicanos voltaram a queixar-se do incumprimento governamental e da não realização das visitas de monitorização do cumprimento dos acordos entre as partes, referindo que os hospitais "estão piores que no início do diálogo".

Entre outros aspetos, a APSUSM exige que o Governo providencie medicamentos aos hospitais, que têm, em alguns casos, de ser adquiridos pelos pacientes, a aquisição de camas hospitalares, a resolução do problema da "falta de alimentação", bem como o equipamento de ambulâncias com materiais de emergência e equipamentos de proteção individual não descartável, cuja falta vai "obrigando os funcionários a comprarem do seu próprio bolso".