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Início do diálogo nacional na Guiné Equatorial

António Cascais
16 de julho de 2018

Teodoro Obiang convidou a oposição para mais um diálogo nacional, em Malabo. Vozes críticas dizem que se trata de mais uma iniciativa do Presidente da Guiné Equatorial para "distrair a comunidade internacional".

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Teodoro Obiang ocupa a cadeira do poder desde 1979Foto: picture-alliance/Zumapress/C. Mahjoub

A capital da Guiné Equatorial, Malabo, recebe a partir desta segunda-feira (16.07) a iniciativa de diálogo nacional, a primeira mesa com a participação de observadores internacionais, que decorre até sábado (21.07), para "traçar as estratégias globais e inclusivas para dar solução aos problemas que afetam o país".

Esta iniciativa, que deverá envolver o Governo, instituições públicas, partidos políticos, líderes e ativistas políticos e sociedade civil, é a segunda mesa de diálogo nacional que se realiza na Guiné Equatorial desde a adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em julho de 2014, sucedendo à de novembro daquele ano, na qual Teodoro Obiang promulgou uma amnistia geral, uma das exigências da oposição no exílio para participar.  

No último diálogo, em 2014, cinco partidos políticos puderam legalizar-se, entre os quais Cidadãos para a Inovação (CI) e Convergência para a Democracia Social (CPDS), que se tornou no principal partido na oposição na época.

O CI foi dissolvido em finais de fevereiro deste ano, na sequência de um processo de 147 dos seus militantes, acusados de "sedição, desordem pública, atentados à autoridade e ferimentos graves".

"Distrair a comunidade internacional"

Em entrevista à DW África, Tutu Alicante, diretor executivo da organização não-governamental EG Justice, não se mostrou surpreendido com este anúncio, que é, na sua opinião, mais uma medida "para ludibriar e distrair a comunidade internacional".

Início do diálogo nacional na Guiné Equatorial

Tutu Alicante, que vive no exílio, nos Estados Unidos, não acredita na iniciativa de Teodoro Obiang, visto que já houve cinco iniciativas comparáveis no passado, e nenhuma delas trouxe progressos palpáveis.

"Já ocorreram no país cinco diálogos nacionais e, segundo os participantes, não foram diálogos, mas sim monólogos. Só falaram os governantes e pessoas muito próximas do regime, enquanto à oposição foi cortada qualquer possibilidade de apresentar as suas ideias", afirma. "Assim, não se justifica mais um diálogo nacional nesses moldes".

Obiang, uma pedra no sapato da CPLP

Ainda assim, Obiang, no poder desde 1979, será mais uma vez recebido no seio da CPLP. À margem da cimeira do grupo, que acontece a partir desta terça-feira (17.07), na ilha do Sal, em Cabo Verde, decorrerá mesmo um programa cultural em homenagem  aos presidentes executivos e nao executivos presentes nesta cimeira, portanto também em homenagem a Teodoro Obiang, que muitos apelidam de déspota.

O artista plástico Tchalê Figueira, um dos mais conceituados pintores cabo-verdianos, disse à DW África que recusou integrar uma exposição coletiva na cimeira da CPLP, por não respeitar alguns chefes de Estado lusófonos que considera ditadores. É o caso de Teodoro Obiang, que segura o poder, com punho de ferro, há quase quatro décadas.

"Não participo nestas cimeiras com as minhas obras. As coisas continuam na mesma: há prisões arbitrárias, tortura e eu não compactuo com isso porque luto a favor dos direitos humanos", explica Tchalê Figueira. "Não vou apresentar as minhas obras quando este homem (Obiang) é uma pessoa que não respeita os direitos humanos", frisa.

A XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP marca o arranque da presidência cabo-verdiana da organização. E a Guiné Equatorial promete ser mais uma vez uma pedra no sapato da comunidade lusófona.