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Crise portuguesa afeta estudantes africanos

Carlos, Joao30 de novembro de 2012

A crise em Portugal está a levar muitos estudantes africanos dos países lusófonos a prestar serviço nas universidades para suportar as despesas. Quando não beneficiam de bolsa ou quando a perdem, o problema agrava-se.

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A gravidade da situação económica de alguns estudantes africanos é tal que alguns não conseguem pagar as propinas. Os serviços de apoio social das instituições universitárias prestam algum auxílio possível, mas por restrições orçamentais também não conseguem atender todos os casos de estudantes com dificuldades.

Alexandre Silva, 22 anos de idade, frequenta o curso de Ciências Políticas e Relações Internacionais na Universidade Lusófona, uma instituição privada onde cerca de 40 por cento da comunidade estudantil é constituída por africanos. Ele está no último ano e logo que terminar faz as malas e regressa a Cabo Verde. Um objetivo que não altera até atravessar o Atlântico para esquecer a crise que afeta igualmente a vida dos estudantes em Portugal. "Quando eu cheguei já estava ciente da crise", diz, " mas antes encontrava trabalho, agora entreguei diversos currículos mas ninguém me chama".

Alexandre Silva faz parte dos que estudam sem bolsa. "A minha avó é que me paga as propinas pois a minha mãe não tem muitas condições, o meu pai também não trabalha, por isso é que eu estou à procura de um trabalho para ajudar a minha avó também".

Bolsa de estudo chega a poucos

Apenas uma minoria beneficia de bolsa de estudo concedida pelo Estado. Por isso, sublinha, há que poupar. Alexandre integra o número de estudantes, sobretudo entre guineenses, são-tomenses e moçambicanos que enfrentam dificuldades financeiras em várias universidades portuguesas. Nalguns casos, por vergonha, tais dificuldades não chegam ao conhecimento das instituições. "Este ano já meti os papéis para tentar uma ajuda e agora estou à espera da resposta" .

Já os colegas portugueses tiveram que sair à rua para protestar face à degradação das condições para estudar, a começar pela subida das propinas. Os professores também contestam. Palavras de António Matos, da Universidade da Beira Interior, "por exemplo a própria ação social escolar tem neste momento cerca de 8 mil alunos que pediram bolsa, mas não têm bolsa porque a verba para a ação escolar diminuiu. Há alunos que estão a deixar a Universidade ou a pedir para pagar as propinas em duodécimos, o que dá uma ideia do mau momento que o ensino superior vive". Algo que terá impacto na qualidade do ensino a médio e longo prazo.

Para os estudantes africanos oriundos das ex-colónias, é preciso resistir. Contam para isso "com algum apoio dos serviços sociais das universidades", diz Josemar Afonso, membro da direção da Associação dos Estudantes Africanos da Universidade Lusófona. "É impossível ajudar toda a gente, mas a universidade tem sido bastante compreensiva", acrescentou.

Josemar fez referência a episódios de desespero ocorridos na instituição e assegurou-nos que tem sido preocupação da associação estar atenta a cada estudante. Com a crise em Portugal, sobretudo as universidades públicas temem que 2013 seja pior e que as restrições orçamentais possam afetar também os acordos com os países de língua portuguesa.

Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha