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Cabo Delgado: "Uma tomada de Pemba é bastante improvável"

21 de fevereiro de 2024

Proximidade de terroristas da capital provincial de Cabo Delgado preocupa. Mas analistas minimizam a possibilidade, confiando na forte presença de diversas forças. Contudo, a desmoralização dos soldados pode ser fatal.

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Escolta policial em Cabo Delgado
Foto: Delfim Anacleto

Nas últimas semanas, os insurgentes têm se aproximado cada vez mais da capital da província de Cabo Delgado, onde efetuam  ataques contra a população.

Umas das mais recentes incursões foi contra a aldeia de Naminaue, a cerca de 28 km de Pemba, no distrito de Metuge, em finais de janeiro. Uma ameaça ao centro do poder nesta província que leva alguns setores a recearem investidas contra a cidade. Porém, entendidos em matérias de conflitos descartam essa possibilidade.

A pesquisadora Egna Sidumo diz que "apesar da proximidade dos grupos armados a áreas próximas a Pemba, Metuge, Mecufi, inclusive Macomia, uma tomada de Pemba é bastante improvável principalmente porque parte das forças áereas, forças da SADC, do Ruanda e as próprias Forças Armadas de Moçambique têm um contingente muito alto e um nível de segurança extremamente alto".

Para a investigadora, ligada ao Projeto Cabo Delgado da Universidade de Bergen, na Noruega, o objetivo dos grupos armados está muito longe da tomada de Pemba, até por causa do fator dissuasor militar. Criar um estado de alerta é o que pretenderiam os insurgentes, considera Sidumo.

"Entretanto, o facto de que os grupos estejam próximos significa tão somente que estão a tentar fazer pressão e, se calhar, dispersar a atenção destas forças em relação aos lugares onde elas devem prestar muita atenção", entende.

Egna Sidumo, investigadora
Egna Sidumo, investigadora Foto: DW/M. Maluleque

Manobras de distração

Sidumo observa ainda o seguinte: "Temos ataques em Macomia, Metuge, Mecufe, Ancuabe, há pouco tempo era Chiúre, para não falar das áreas de Nampula. Todos estes ataques são esporádicos, porque não há nenhuma certeza de que haja contingentes de terroristas muito grandes, e [podem] fazer com que o Estado não tenha a clareza de como definir prioridades".

Mas relatos recentes de populares dão conta de grupos insurgentes de cerca de 50 pessoas que passam pelas aldeias, um engrossamento de fileiras que é também característica da nova fase da insurgência. Um facto que não impede o académico Ricardo Raboco de partilhar da mesma visão de Sidumo, explanando sobre as fases estratégicas de atuação dos terroristas.

"Tomada de Pemba não, porque estamos a ver [várias] fases", comenta Ricardo Raboco. "A primeira fase foi posicional, em que ocuparam territórios; depois passaram para a segunda fase, em que se dividiram em pequenos grupos para baralhar a logística das forças no terreno e isso permitiu-lhes ter um amplo campo de manobra".

Desmoralização de soldados pode ser fatal

A confiança nas forças que asseguram Pemba não é partilhada pelo especialista em assuntos africanos da Universidade Autónoma de Lisboa Fernando Cardoso. A desmoralização das forças e a sua indisposição em dar a vida pela causa podem abrir uma brecha que facilitaria a tomada da cidade, refere Cardoso. Outra fraqueza que joga a favor dos terroristas, segundo ele, é a atuação "desastrada" do Governo moçambicano.

Forças ruandesas ajudam Moçambique a combater o terrorismo
Forças ruandesas ajudam Moçambique a combater o terrorismoFoto: Jean Bizimana/REUTERS

O investigador usa o exemplo do Afeganistão para alertar: "Os Taliban eram 14 mil, o Exército afegão eram 300 mil, era um Exército extremamente bem armado e logisticamente bem fornecido. Quando os americanos abandonam o Afeganistão, os Taliban tomaram o poder em menos de um mês".

"Isto significa que um grupo minoritário - que pode ser 10 ou 5% de um grupo que não esteja moralizado - ganha. Mas se as tropas que estão proteger a cidade de Pemba e seus arredores não tiverem rações de combate, moral, comandantes e uma força de convicção, podem ser mil, 50 mil ou 50 homens mas tomam o poder - [se os soldados pensarem:] 'eu estou a defender um país que é governado por pessoas que só estão preocupadas em enriquecer e tomar conta dos negócios'", alerta Fernando Cardoso. 

Os soldados da Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique enfrentaram recentemente atrasos de três meses no pagamento de salários, bem como dificuldades alimentares por carência de ração. Também têm partilhado áudios nas redes sociais onde manifestam revolta contra as suas condições de trabalho e contra o tratamento que consideram ser indigno por parte do Governo.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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