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Cabo Delgado: Extensão da missão militar da SADC à vista

Nádia Issufo
11 de janeiro de 2022

Um prolongamento da missão militar no norte de Moçambique poderá ser decidido na cimeira da SADC. Mas a isso deverá anteceder uma dor de cabeça aos membros, pois faltam recursos financeiros.

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Militares sul-africanos na província moçambicana de Cabo Delgado
Foto: Alfredo Zuniga/AFP/Getty Images

Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) reúnem-se hoje e amanhã (11.-12.01), para, segundo um comunicado da organização, "entre as questões principais, discutir o apoio ao funcionamento eficaz dos objetivos do SAMIM (Missão Militar da SADC) para trazer paz e estabilidade a Cabo Delgado, na República de Moçambique".

O especialista em resolução de conflitos e políticas públicas Rufino Sitoe está certo de que haverá o prolongamento da missão.

"Parece não se estar a fazer pleno uso das forças, parece que até agora se tem estado a usar as forças especiais. Então, que se faça uso de mais forças e que se tente negociar mais meios para apoiar a missão em Cabo Delgado. Penso que, no final do dia, é isso que se vai discutir, e provavelmente haverá mais um prolongamento de seis meses", diz Sitoe em entrevista à DW África.

Falta dinheiro

Porém, a continuidade da missão não depende apenas da boa vontade dos membros da SADC, mas principalmente de meios financeiros, o que sempre foi o principal constrangimento da organização regional. Esta poderá ser a grande dor de cabeça na cimeira.

Analista moçambicano Rufino Sitoe
Rufino Sitoe, especialista em resolução de conflitos e políticas públicasFoto: Privat

Sitoe reconhece a fragilidade: "Sem dúvidas, os países todos da África Austral estão todos em crise financeira, a começar pela África do Sul, que é a potência regional".

Porém, entende que, "se eles abandonam a missão, todo o esforço feito até então seria nulo, porque este grupo [de insurgentes] conseguiria renovar-se e voltar às zonas de onde foi expulso. Há zonas que foram recuperadas, que pertenciam a eles. Seria deitar todo o esforço por água abaixo. Penso que não interessa para a imagem da SADC ter este tipo de resultados."

O especialista em resolução de conflitos e políticas públicas mostra-se confiante: "Penso que recursos são mobilizáveis e que os estados vão fazer esforços para dar continuidade a esta missão".

Ao mesmo tempo, os insurgentes ressurgem das cinzas em Cabo Delgado, protagonizando ataques quase diários, colocando em causa todas conquistas alcançadas pelas forças conjuntas. A especialista em contra-insurgência Jasmine Opperman lembra que a área de Cabo Delgado é altamente complexa e que a época das chuvas está à porta, tornando a situação complicada também para o SAMIM.

"Não estou segura que o SAMIM percebeu que precisa de ter paciência, resistência e que precisam de financiamentos em suplementos por longo prazo. O SAMIM não tem tempo por causa de constrangimentos financeiros", avalia. 

Jasmine Opperman, especialista em contra-insurgência
Jasmine Opperman, especialista em contra-insurgênciaFoto: privat

Logística é motivo de queixas

A missão do SAMIM, que começou em julho de 2021 e que devia terminar a 15 de outubro, deverá ser prolongada, mais uma vez, numa altura em que a insurgência se torna crítica com a expansão para a vizinha província do Niassa. A par diss,o alguns órgãos de informação dentro e fora de Moçambique têm noticiado queixas, principalmente de soldados sul-africanos, de falta de meios aéreos e de má alimentação, embora se mostrem também determinados em vencer o inimigo.

Para Sitoe, "é lamentável que uma missão destas tenha problemas de logística, que são determinantes para a moral das forças. Em estratégia, é importante que as forças estejam bem alimentadas para poderem exercer a sua missão".

Segundo o especialista, "certamente mais meios fazem falta, porque é preocupante uma força regional não conseguir criar um cinturão de segurança ao ponto de o grupo se expandir para outras regiões. Significa que provavelmente faltam meios de monitoria, principalmente aérea, que foi sempre o que faltou. São preocupações legítimas e o Estado deve-se mobilizar nesse sentido", argumenta o especialista.

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