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Estudantes denunciam clima de intimidação depois de efetivos da polícia angolana invadirem duas universidades e deterem pelo menos 20 jovens. Grupo de professores solidariza-se com os estudantes.
Assim é complicado, afirma o estudante Adilson Manuel. Esta semana, pelo menos 20 estudantes foram detidos nas instalações da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, e da Universidade Kimpa Vita, na província do Uíge, quando tentavam protestar contra o aumento das taxas e emolumentos.
A polícia não explicou a razão das detenções e as direções das universidades também não reveleram por que motivo pretendiam impedir os protestos.
Para os estudantes, o motivo é óbvio: abafar as vozes críticas.
"É complicado fazer ciência num país em que não há liberdade de expressão, liberdade de informação e especialmente liberdade de manifestação", lamenta Adilson Manuel, um dos promotores da manifestação desta semana.
"No dia 22 de fevereiro, verificou-se que nem estudantes, nem outros órgãos da sociedade civil, [se podem] expressar para mudar o quadro na sociedade ou mesmo nas academias."
O mesmo se passou em novembro passado, quando universitários pretendiam homenagear o estudante Inocêncio Matos, morto na manifestação de 11 de novembro, em Luanda, lembra Adilson Manuel.
Esta semana, um grupo de professores da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto repudiou a detenção dos estudantes. Em comunicado a que a DW África teve acesso, os docentes apelam aos "órgãos internos da faculdade e da universidade para que não se calem perante tão graves violações dos direitos e liberdades dos estudantes".
Protesto em Luanda contra a implementação de propinas no ensino universitário público, janeiro de 2020
Os estudantes estão contra o valor das provas de recurso - que subiu de 1.500 kwanzas (1,95 euros) para 5.000 kwanzas (6,50 euros) - e o ajuste de emolumentos. As novas taxas só deveriam entrar em vigor no próximo ano letivo, mas as instituições anteciparam a implementação.
Adilson Manuel diz que muitos estudantes não têm condições para continuar a financiar os estudos, porque "já gastam muito com o táxi e materiais escolares".
"São muitos os gastos que os estudantes fazem, e muitos deles não têm trabalho fixo para poderem sustentar a problemática das propinas e emolumentos", afirma o estudante.
Para o secretário provincial do Movimento Estudantil de Angola no Uíge, Guimarães Canga, o Governo deve parar de "extorquir" os estudantes que, na sua sua maioria, são de famílias carenciadas: "Somos um país rico e o Estado não pode sobreviver de um imposto que incide sobre o bolso do estudante. O estudante já vive carente", frisa o dirigente.
"Reprovamos essa ideia de aumento de emolumentos, quaisquer que sejam. Se o país não tem dinheiro, é culpa do Governo. Sob o seu olhar, a elite governativa levou tudo e não é o estudante que deve pagar. Passamos fome nas nossas casas para sustentar os estudos."
O analista em governação local e políticas públicas, Osvaldo João, também alerta para o facto de as famílias angolanas estarem cada vez mais empobrecidas.
"O Governo tem que intervir e criar políticas públicas que vão salvaguardar os interesses dos cidadãos, principalmente face à situação de extrema pobreza que o país vive. Há uma fome extrema no país e não se justifica a subida de preços nas universidades públicas", conclui.