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É preciso parar de evocar o "fantasma da guerra"

Pedro Borralho Ndomba (Luanda) 2 de setembro de 2015

A sociedade angolana condena os discursos musculados de políticos e deputados da atual legislatura por não contribuirem para garantia da paz e estabilidade no país.

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Mário Pinto de Andrade, líder histórico do MPLA, durante a luta pela independênciaFoto: casacomum.org/Fundo Mário Pinto de Andrade

No dia 4 de abril de 2002, os angolanos e a comunidade internacional testemunharam a assinatura dos acordos de paz em Angola, entre o Governo e a UNITA, depois de quase 3 décadas de conflito armado.

Angola Friedensvertrag 2002
General Armando da Cruz Neto (à esq.) das Forças Armadas de Angola e general Abreu Muengo Ukwachitembo "Kamorteiro" da UNITA na assinatura do acordo de paz em Luanda a 4 de abril de 2002Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb

A assinatura do acordo, que teve início na cidade de Luena sob olhar de um representante das Nações Unidas, deu lugar à conclusão do processo na capital angolana.

Passados 13 anos, com o calar das armas a questão da reconciliação nacional, que tanto se fala no país, continua a preocupar muitos cidadãos angolanos.

Tendo em conta os últimos acontecimentos sociopolíticos que se registaram no país, muitos membros do Governo e até mesmo deputados têm levantado o fantasma da guerra.

O presidente da bancada parlamentar da UNITA, Raúl Danda, tem condenado essas posições e pede aos seus adversários políticos que pautem pela boa convivência.

Raúl Danda defende ser “preciso que quem esteja a trabalhar permanentemente para o poder, deixe de argumentar o regresso à guerra ou o fantasma da guerra. É preciso levar à população uma mensagem de paz”, declara o dirigente.

Por seu turno, Lionel Gomes do partido Convergência Ampla para a Salvação de Angola (CASA-CE) demonstra preocupação com “a própria Assembleia Nacional que tem que começar a tomar posições muito claras.”

O deputado diz que “o perturba como cidadão e como responsável da CASA-CE, que a maior parte desses pronunciamentos que tendem pela estigmatização do fenómeno da guerra, parte da Assembleia Nacional e de pessoas que têm muita responsabilidade".

O que pensa a sociedade civil

Em declarações à DW África, o estudante do curso de Comunicação Social, Adilson Chifuanda e o cidadão André Augusto consideram que os políticos têm sido infelizes quando nos seus discursos falam da guerra.

Os mesmos aconselham os políticos mais influentes no país para que encontrem outras formas de atuação no cenário político angolano.

"Quando um dirigente de um partido político vem a público fazer discursos inflamados que transmitem ódio, penso que não ajuda no desenvolvimento do país", diz Adilson Chifuanda que aconselha "os políticos a terem discursos que possam contribuir para consolidação da unidade nacional.”

E Chifuanda vai mais longe ao afirmar que "o país está em paz e quem tem disseminado estas atitudes negativas são os próprios partidos políticos porque a meu ver, independentemente das opções políticas o povo convive na paz", afirma o estudante.

Adilson Chifuanda
Adilson ChifuandaFoto: DW/P. B. Ndomba

Para André Augusto "os elementos que estão no aparelho do Estado devem ter em mente que o facto de Angola se afirmar como um Estado democrático é um dado irreversível. Por isso aconselho os políticos a saberem viver na diferença", sublinha.

Igreja mostra preocupação

Nas últimas semanas, os bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) chamaram a atenção para o “clima de medo”, que se está a viver no país devido ao “fantasma da guerra” clamado por alguns políticos.

De acordo com o bispo da diocese do Namibe, Dom Dionísio Hiselenapo que falava para a Rádio Ecclesia, estes posicionamentos não dignificam o país: “A linguagem não mudou, porquê que as pessoas estão sempre a desenterrar o passado [da guerra] quando uma pessoa deixa de picotar a cicatriz ?", perguntou o clérigo.

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