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ConflitosEtiópia

"Uma réstia de esperança" para a paz na Etiópia

Cristina Krippahl
29 de dezembro de 2021

À medida que os combatentes de Tigray se retiram para a sua região de origem, há novas esperanças de um cessar-fogo definitivo na Etiópia. Mas os obstáculos a uma paz duradoura são enormes.

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Foto: Amanuel Sileshi/AFP/Getty Images

A Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF) garantiu recentemente numa carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que a retirada das suas tropas das regiões de Afar e de Amhara visava preparar caminhos para a cessação das hostilidades e abrir espaço para as conversações de paz.

No entanto, o governo do primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, minimizou o anúncio da retirada, que considera um truque da TPLF para encobrir a derrota esmagadora por parte do exército nacional.

O governo etíope afirmou, numa declaração divulgada na rede social Twitter, que as suas forças não farão mais avanços na região de Tigray. Mas advertiu que a decisão poderá ser anulada se "a soberania territorial" for ameaçada.

O analista Murithi Mutiga, do International Crisis Group, classifica a retirada da TPLF como "uma réstia de esperança" para o eventual fim da guerra civil, que assola a Etiópia há mais de 13 meses.

Caminho difícil para a paz

Mas os obstáculos para uma paz definitiva são ainda muitos, lembra Mutiga, devido à profunda desconfiança entre as partes em conflito.

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O analista entende ainda que qualquer negociação da paz exige muitas cautelas por parte das autoridades etíopes para não provocar atritos com os aliados mais próximos, os Amhara, o segundo maior grupo étnico da Etiópia.

A região de Tigray e a região de Amhara, que faz fronteira com Tigray a sul, estão envolvidas há décadas numa disputa por terra.

Para cada um destes aliados, qualquer tentativa de negociação com o TPLF pode ser considerada uma traição.

O papel da Eritreia

O mesmo se aplica à Eritreia, que tem sido uma forte apoiante do primeiro-ministro desde o início do conflito, em novembro de 2020, mesmo que ambas as partes tenham inicialmente tentado esconder o envolvimento das tropas eritreias no conflito.

Abiy recebeu o Prémio Nobel da Paz de 2019 por ter feito as pazes com a Eritreia, o inimigo de longa data do seu país.

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Tal como Abiy, o Presidente da Eritreia Isaias Afwerki encara a TPLF como uma ameaça ao seu domínio do poder. Também vê Tigray como um refúgio para os dissidentes refugiados da Eritreia.

A questão da Eritreia é das mais difíceis, explica à DW o analista Murithi Mutiga. "A Eritreia preferiria ver os líderes militares do Tigray derrotados a todo custo. Por isso, o Governo etíope tem de ser cauteloso para evitar a desintegração do Estado", alerta.

Apelos à pressão internacional

Neste momento, multiplicam-se os apelos para o aumento da pressão internacional sobre as partes envolvidas no conflito para um cessar-fogo e garantir as negociações de paz no país.

Mas há quem olhe para o conflito como um assunto interno, como a China e Rússia, dois dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Os aliados estrangeiros da Etiópia, como o Irão, a Turquia e a Arábia Saudita, forneceram recentemente drones e outro equipamento militar para as forças governamentais, que contribuíram largamente para as recentes derrotas do TPLF.

Assim sendo, Murithi Mutiga acredita que o fim do conflito em Tigray não é prioritário para estas potências. "A Etiópia é um país altamente estratégico. Está envolvido não só no Corno de África, mas também na política sobre o Mar Vermelho, das águas do rio Nilo. É também o segundo país mais populoso de África e um dos países que tem um grande potencial económico", explica o analista.

Economia estagnada

Depois de mais de um ano de guerra, a economia da Etiópia atravessa grandes dificuldades. Em outubro, a inflação homóloga situou-se nos 34% e os preços dos alimentos atingiram um pico de 41% no mesmo mês.

Dados das Nações Unidas apontam que 22 milhões de etíopes necessitarão de assistência humanitária em 2022.

O conflito em Tigray já provocou morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.