Por que interessaria a Nyusi um terceiro mandato?
9 de janeiro de 2024Um terceiro mandato de Filipe Nyusi já começou a ser especulado há bastante tempo, o que não representa novidade em época eleitoral em Moçambique. Analistas moçambicanos recorrem aos chavões "balão de ensaio" ou "teste a popularidade" para justificar os rumores e receios.
Mas há quem considere que tal "testagem das águas" pode não partir do próprio Presidente. "Do meu ponto de vista, não existe qualquer evidência factual de que o atual PR tenha demonstrado interesse em relação ao terceiro mandato, mas eu seria ingénuo se não reconhecesse que há pessoas da sua entourage que gostariam de ver um terceiro mandato", uma leitura de Fernando Lima, jornalista e diretor do Semanário Savana.
Chances de terminar a sua obra?
A FRELIMO ainda não escolheu o seu candidato às presidenciais de outubro próximo, tal deve acontecer durante uma sessão do Comité Central, marcada para março.
A Constituição moçambicana prevê, no seu artigo 147, apenas dois mandatos presidenciais, qualquer contrariedade significaria uma violação da Lei. E o que sustenta os rumores carece de qualquer base legal, lembra o jornalista.
Esses rumores são "alicerçados em várias questões, nomeadamente o facto de todos os mandatos terem sido caraterizados por muita insegurança e muitos problemas de natureza económica, quando se começa a ver a luz ao fundo do túnel para que o Presidente se vá embora.
Porém o jornalista discorda: "Ora, a questão não deve ser colocada nestas bases. Sei que essa é a base da argumentação, mas isso não pode ser uma base, porque isso viola a Constituição".
Negócios não consolidados
Mas há quem prefira ficar com o pé atrás em relação à uma possível pretensão de Nyusi, orquestrada pela sua entourage ou não. É o caso do académico João Mosca, que acredita que um terceiro mandato seria conveniente para Nyusi pelos seguintes motivos:
"Por duas razões fundamentais, um, é a questão judicial de Londres e o destapar de um conjunto de corrupções, incluindo dentro das dívidas ocultas. Dois, ele tem muitos negócios que surgiram nos últimos 10, 15 anos, mas que não estão ainda consolidados como atividades seguras e garantidas no longo prazo".
Os interesses do seu clã também entrariam nos cálculos: "E terceiro, ainda se queremos, toda a sua família começou a emergir como empresária, um dos seus irmãos como ator no setor mineiro, a sua filha que tem múltiplas atividades empresariais, apareceram no seu mandato."
Ser membro da FRELIMO, partido no poder, é visto no país como uma porta aberta para a ascensão económica, através de negócios por meio de tráfico de influência. Também é uma possibilidade de ascensão política no seio do partido. Os próximos do Presidente de República também são vistos como uma extensão do seu poder e, por isso, seriam igualmente beneficiários da sua permanência no poder.