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Guiné-Bissau: A crise aos olhos dos artistas

24 de setembro de 2017

No 44º aniversário da independência do país, que se assinala neste domingo, 24 de setembro, artistas guineenses mostram-se preocupados com a situação política do país e lembram que a arte "faz parte do desenvolvimento".

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Kap Verde Sidney Cerqueira, João Carlos Barros & Edy Mat, Künstler aus Guinea-Bissau
Foto: DW/N. dos Santos

A 24 de setembro de 1973, nas matas de Colinas de Boé, o Presidente Nino Vieira, na altura presidente da Assembleia Nacional Popular, proclamou a independência da Guiné-Bissau. 44 anos depois, os indicadores de desenvolvimento do país continuam aquém do desejado.

Para os artistas plásticos guineenses João Carlos Barros, Sidney Cerqueira e Edy Matos, a Guiné-Bissau ainda não conseguiu cumprir o seu objetivo maior: desenvolver-se em todas as suas dimensões e dar uma vida digna aos seus filhos.

O país e o povo acima dos interesses políticos

"É uma tristeza, eu sinto uma grande mágoa com a situação política na Guiné, por isso mesmo estou há 35 anos fora da minha terra", lamenta João Carlos Barros. O artista foi estudar para Portugal e nunca mais voltou à Guiné-Bissau. No entanto, sublinha, não esquece "as raízes e a terra".

Kap Verde João Carlos Barros, Künstler aus Guinea-Bissau
João Carlos Barros: "falta humildade para os políticos guineenses resolverem a crise política do país"Foto: DW/N. dos Santos

João Carlos Barros fala em "avanços e recuos sistemáticos, um ciclo vicioso que nunca mais acaba, um atraso atroz", considerando que "se os políticos guineenses fossem humildes e conversassem entre eles pondo, acima de tudo, a Guiné-Bissau e o povo guineense, ultrapassariam facilmente essas confusões que existem entre eles".

Não perder a esperança

O artista plástico guineense Sidney Cerqueira, vive também em Portugal. Tal como João Carlos Barros, diz ser um homem triste perante a situação do seu país de origem.

Kap Verde Sidney Cerqueira, Künstler aus Guinea-Bissau
Sidney CerqueiraFoto: DW/N. dos Santos

 "Acho que já era tempo suficiente para aprendermos com os nossos erros e tentarmos fazer melhor", afirma.

Apesar da crise política e do impasse que reina há dois anos na Guiné-Bissau, Sidney Cerqueira mostra-se optimista num futuro melhor: "Vivo sempre com a esperança de que o país vai melhorar. Estamos a atravessar um momento muito complicado, mas a esperança de um dia melhor está a caminho".

Em Dacar, no Senegal, o artista Edy Matos afirma que vê "com muita pena a Guiné-Bissau nesta situação". O artista plástico destaca o exemplo de Cabo Verde, que se tornou independente mais tarde, em 1975, mas apresenta um maior desenvolvimento: "Há muita diferença entre Cabo Verde e a Guiné-Bissau. Para mim não houve nenhuma mudança na Guiné, aliás a mudança que houve foi para pior".

Falta aposta na cultura

Olhando para o setor da cultura, particularmente nas artes plásticas, João Carlos Barros nota que, 44 anos depois da independência do país, os artistas continuam a ser mal apoiados. "Não há mercado e também não há aposta do Governo nesta área da cultura que é a arte plástica. Gostam, mas não incentivam nem apostam, é tudo por iniciativa própria, não há estímulos ao nível do Estado", sublinha.

Kap Verde Edy Matos, Künstler aus Guinea-Bissau
Edy MatosFoto: DW/N. dos Santos

Ainda assim, João Carlos Barros não baixa os braços: "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Nós somos a água que bate na pedra com tanta força que um dia há de furar".

Nesse dia, para Edy Matos, os governantes vão perceber que a cultura e o desenvolvimento devem estar de mãos dadas: "Vão tomar a consciência do que estamos a fazer e compreender que a arte pode levar um país muito longe. A arte faz parte do desenvolvimento de um país e as autoridades guineenses deviam apoiar muito mais os artistas".

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"Doz Korpu um Korson”

Os três guineenses estão em Cabo Verde a participar numa exposição coletiva com artistas cabo-verdianos e a promover as artes plásticas da Guiné-Bissau no âmbito do projeto "Doz Korpu um korson” que, em português, significa "dois corpos, um coração".

Sidney Cerqueira acredita que um projeto semelhante ao da Rua de Arte, na Cidade da Praia, seria bastante útil em alguns pontos de Bissau, sobretudo, na parte velha da capital guineense – Bissau Velho. Rua de Arte, no bairro da Terra Branca, na Cidade da Praia, é uma galeria a céu aberto e ponto de atração turística. A rua foi toda pintada por diversos artistas plásticos cabo-verdianos e guineenses. "A ideia é levar essa arte, essa envolvência dos artistas para a Guiné-Bissau".

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