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Cabo Delgado: Nyusi passa pelo Ruanda para "prestar contas"?

11 de fevereiro de 2022

Depois de ter ido a Bruxelas confirmar o pedido de apoio do Ruanda para as suas forças no norte de Moçambique, o Presidente moçambicano seguiu o novo ritual e também fez "paragem obrigatória" em Kigali.

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Paul Kagame (esq.) e Filipe Nyusi, Presidentes do Ruanda e Moçambique, respetivamenteFoto: Estácio Valoi/DW

Tanto o Presidente do Ruanda, através da sua página no Facebook, como a imprensa ruandesa informaram na quinta-feira (10.02) que o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, foi recebido em Kigali pelo seu homólogo Paul Kagame.

De acordo com a página de Kagame, ambos "discutiram os bons progressos realizados entre o Ruanda e Moçambique na cooperação em curso para garantir a segurança em Cabo Delgado, bem como outras áreas de cooperação bilateral".

A viagem, ao que tudo indica, não era do conhecimento público, se considerarmos a ausência de informação oficial, tanto por parte da Presidência como da imprensa nacional, principalmente a estatal. Mas, para a maioria dos observadores, o encontro "relâmpago" não parece ser de todo estranho, pois "encaixa-se" na viagem de regresso de Nyusi a Bruxelas, onde terá ido "carimbar" o pedido de apoio que o Ruanda fez à União Europeia (UE) para as suas tropas que combatem a insurgência no norte de Moçambique.

Kigali, Ruanda | Soldaten aus Ruanda auf dem Weg nach Mozambique
Soldados ruandeses em Cabo DelgadoFoto: Simon Wohlfahrt/AFP

Informações de interesse nacional através de Kigali

Mais uma vez, os detalhes da reunião sobre Cabo Delgado ficaram nos segredos dos deuses. Também no Ruanda não se conhecem os detalhes, como escreveu o jornal "The New Times" esta quinta-feira (10.02).

A publicação online avança um detalhe elucidativo sobre as operações em Moçambique, ao afirmar que "recentemente, o Presidente Kagame informou a altos funcionários do [seu] Governo que as tropas ruandesas capturaram pelo menos mais de 80% da sua área de responsabilidade". É um exercício de transparência e de prestação de contas para com o povo do lado de Kigali que carece em Moçambique.

Outra notícia que chega aos moçambicanos por via não oficial, através do mesmo jornal e não só, é de que as forças ruandesas vão treinar os militares moçambicanos, segundo anunciou Kagame. Uma ação que se acredita vir a ter o apoio da UE.

O estadista disse ainda ao seu Governo que "a tarefa atual [das forças ruandesas em Cabo Delgado] é desobstruir os focos inimigos".

Consolidação do Ruanda que contrasta com a SAMIM

O Ruanda vai consolidando o seu papel de "salvador" no conflito no norte de Moçambique, com a benção do Ocidente, enquanto a atuação da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), vista como menos robusta em relação às forças ruandesas, é constantemente ameaçada pela fragilidade financeira da SADC.

GMF2021 | Speaker | Manuel de Araujo
Manuel de Araújo, especialista em relações internacionais e membro da RENAMOFoto: Quelimane Municipality

A par disso, o envolvimento do Ruanda, país relativamente distante da organização parece não ser do agrado da SADC, entende Manuel de Araújo, especialista em relações internacionais e membro do maior partido da oposição em Moçambique, a RENAMO.

"Mesmo os países da África Austral não veem com bons olhos a entrada de Kagame no conflito de Cabo Delgado, a África o Sul, o Zimbabué e mesmo Angola não andam muito felizes com a presença de Kagame em Moçambique", diz.

Logo depois de deixar Kigali, Filipe Nyusi reuniu-se esta sexta-feira (11.02) com o Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, na cidade da Beira, centro de Moçambique. Supõe-se que em cima da mesa também esteja o conflito em Cabo Delgado, mas oficialmente sabe-se que os dois chefes de Estado participaram da cerimónia de inauguração de locomotivas e vagões dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM).

Mulheres soldado ruandesas em Moçambique

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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