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Benim é a nova linha da frente dos jihadistas

Marco Simoncelli | Davide Lemmi
12 de julho de 2022

O norte do Benim está no centro de uma crise de segurança que se deslocou do Sahel para sul. A pobreza e as alterações climáticas são terreno fértil para criminosos e extremistas.

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Foto: Marco Simoncelli/DW

Na região montanhosa de Atakora, no noroeste do Benim, as cidades de Tanguieta e Porga estão divididas por três postos de controlo. Atualmente, este troço de 60 quilómetros de estrada é patrulhado frequentemente por veículos blindados.

Entre dezembro de 2021 e julho de 2022, as forças de segurança beninenses foram aqui atacadas quatro vezes por extremistas. Acredita-se que os atacantes pertenciam ao Grupo de Apoio ao Islão e Muçulmanos (JNIM), considerado como o mais poderoso grupo militante jihadista na região do Sahel.

As emboscadas e ataques com explosivos improvisados já levaram a várias baixas militares e também aumenta o receio entre os residentes. "Costumávamos ter uma vida calma", diz Mounou Y'Moussa, o imã da mesquita central de Porga. "Hoje em dia, é tudo uma questão de incerteza e insegurança".

O imã Mounou Y'Moussa já enfrentou várias ameaças de alegados jihadistas
O imã Mounou Y'Moussa já enfrentou várias ameaças de alegados jihadistasFoto: Marco Simoncelli/DW

A caminho da mesquita para as orações da tarde, Y'Moussa conta que já recebeu várias ameaças. Mas não é o único. "Percebi que muitas pessoas deixaram de vir à mesquita. Perguntei-lhes porquê e eles disseram-me que tinham sido ameaçados", relata.

Em Porga, o recolher obrigatório começa a partir das 19 horas e ninguém pode sair da cidade depois de escurecer. Várias motocicletas continuam estacionadas fora da esquadra da polícia. O chefe da polícia acredita que pertencem aos jihadistas. À medida que as tensões aumentam, aumenta também o nível de suspeitas dentro da comunidade.

"Desconfiamos uns dos outros, falamos frequentemente de infiltrados", diz Igor Kassah, o único padre católico em Porga, que chegou aqui em setembro do ano passado.

Devido à situação de segurança, só está autorizado a realizar missa aos domingos. Todas as outras atividades religiosas foram proibidas por enquanto. Mesmo assim, está determinado a permanecer em Porga.

O padre Igor Kassah diz que a desconfiança está a crescer na comunidade
O padre Igor Kassah diz que a desconfiança está a crescer na comunidadeFoto: Marco Simoncelli/DW

Significado estratégico do Benim

As regiões setentrionais do Benim têm sofrido um número crescente de ataques por parte das milícias islâmicas, desde 2018. A crise de segurança, que começou no Sahel há mais de uma década, deslocou-se agora mais para sul.

Os ataques transfronteiriços estão a tornar-se cada vez mais comuns, como parte da estratégia de reposicionamento regional dos jihadistas, de acordo com o Instituto de Estudos de Segurança e o Centro Africano de Estudos Estratégicos.

"Nestas áreas transfronteiriças, estamos confrontados com 'pontes' entre diferentes identidades criminosas", explica Oswald Padonou, presidente da Associação Beninesa de Estudos Estratégicos e Segurança. "Há transeuntes e traficantes e até mesmo a indústria dos raptos no noroeste da Nigéria, que faz fronteira com o Benim, certamente não é insignificante."

Tanque militar beninês patrulha as ruas de Porga
Tanque militar beninês patrulha as ruas de Porga Foto: Marco Simoncelli/DW

O Benim, sobretudo as regiões do norte, é estrategicamente importante para um novo avanço jihadista por uma série de razões. Por um lado, as forças de segurança beninenses não parecem suficientemente organizadas ou equipadas para responder eficazmente à ameaça.

A geografia da região também ajuda a facilitar as atividades jihadistas e criminosas. Uma imensa manta de retalhos de reservas naturais estende-se por um território de mais de 32.000 quilómetros quadrados, ligando o Benim, o Burkina Faso e o Níger, o que facilita o trânsito descontrolado de mercadorias e pessoas através das fronteiras.

De acordo com Padanou, a dimensão da crise que se aproxima foi inicialmente subestimada no Benim. "No início, pensava-se que se tratava de um fenómeno de jihadistas em trânsito nas zonas fronteiriças", diz. "Hoje, estamos a falar de micro-células e de recrutamento no norte do Benim. O fenómeno extremista islâmico tem gradualmente encontrado espaço nas áreas mais marginalizadas".

Cenário perfeito para o extremismo

As regiões setentrionais do Benim estão entre as mais pobres do país. Muitas cidades e comunidades carecem de infraestruturas e serviços básicos, incluindo hospitais e escolas.

E a região também já está a sofrer os duros efeitos das alterações climáticas. De acordo com o Centro de Serviços Climáticos da Alemanha, a precipitação tem diminuído drasticamente, enquanto a erosão do solo está a aumentar juntamente com períodos de seca mais frequentes.

A desertificação e a desflorestação estão também a intensificar-se. A Global Forest Watch estima que o Benim perdeu mais de 20% das suas florestas desde 2000.

Estes fatores provavelmente desempenham um papel no aumento dos conflitos inter-comunitários. Lar de aproximadamente 500 Waama, a aldeia de Boribansifa tornou-se o cenário de confrontos violentos entre agricultores e pastores Fulani semi-nómadas em janeiro.

O agricultor Simplice Mangopa foi testemunha da recente escalada da violência na sua comunidade
O agricultor Simplice Mangopa foi testemunha da recente escalada da violência na sua comunidadeFoto: Marco Simoncelli/DW

"Os Fulani sempre atravessaram as terras dos agricultores", explica Simplice Mangopa, um agricultor local e membro do conselho da aldeia. "Houve acordos para gerir as nossas relações. As coisas mudaram quando [os Fulani] começaram a instalar-se aqui", recorda.

Mangopa diz ter assistido impotente à crescente tensão sobre disputas de terras transformadas em lutas ferozes. "Nós, os mais velhos, tentámos deter os jovens que queriam destruir as casas dos Fulani", conta. "Não nos ouviram. Um rapaz morreu e um dos meus filhos foi baleado".

Os confrontos em Boribansifa não são um incidente isolado. De acordo com um estudo do grupo de análise ACLED e da organização holandesa Clingendael, os incidentes violentos aumentaram mais de 30% no Benim desde 2017, especialmente nas regiões central e setentrional.

As pressões da pobreza e das alterações climáticas criaram dinâmicas de mudança na região mais vulnerável do Benim, que os grupos jihadistas estão agora a tentar explorar.

Esta reportagem foi feita em parceria com o Centro Pulitzer

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