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Angola: Covid-19 agrava situação de empresas e trabalhadores

22 de maio de 2020

Nos últimos dois meses, extinguiram-se cerca de 4 mil postos de trabalho em Angola e os setores da hotelaria e da restauração estão à beira da falência, devido à pandemia. Sindicatos pedem fundo de desemprego.

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Angola Coronavirus Prävention in Luanda
Foto: DW/B. Ndomba

Desde que o Estado angolano decretou o estado de emergência, hotéis fecharam as portas e os restaurantes reduziram a produção porque não devem, por enquanto, ter clientes nos seus espaços.

O setor está autorizado a fazer somente vendas por intermédio de serviço de entregas. A exigência está a prejudicar as finanças das empresas que têm compromissos com trabalhadores e outros parceiros.

Avelino Lucas gere um restaurante no Talatona, um dos bairros nobres de Luanda. À DW África, conta que nestes dois meses de estado de emergência as dificuldades são imensas para a empresa, porque a restauração não está autorizada a voltar ao funcionamento normal, como está a ocorrer com os outros setores.

O restaurante de Lucas depende agora das entregas ao domicílio. Com isso, a faturação mensal que anteriormente era equivalente a cerca de 22 mil euros passou a ser de menos de cinco mil.

"Temos estado a trabalhar com o regime de entrega ao domicílio, que não nos tem ajudado muito. Noutrora, pela dimensão da restauração que temos, tínhamos uma faturação de cerca de 14 milhões de kwanzas por mês. E desde o estado de emergência estamos com uma faturação de três milhões", lamentou o gerente.

Trabalhadores dispensados

As dificuldades obrigaram também a dispensar trabalhadores, explica Avelino: "Temos um número inferior a treze pessoas que estão aqui a trabalhar. O resto do pessoal está em casa".

"O que temos feito é procurar pagar pelo menos o salário básico para que consigam sobreviver durante este período. A ideia era fazer mais, mas, sem receita, não está a dar para atender. Temos um número inferior ou superior a 45 trabalhadores. Mas apenas treze estão no ativo", queixa-se.

Recentemente, as associações empresariais reuniram com o Ministério da Administração Pública Trabalho e Segurança Social. No encontro, foi revelado que, para além da hotelaria e restauração, as empresas do ramo petrolífero e da construção civil também estão a viver os mesmos problemas. Os empresários afirmam que, face à situação do momento, estão a ser obrigados a dispensar quase 50% dos seus funcionários.

Na empresa de Ana Pizardo, no setor petrolífero, todas as atividades estão suspensas. "Na minha empresa, estamos a falar neste momento de 380 pessoas que poderão perder o emprego. Vamos solicitar infelizmente o despedimento coletivo. Tínhamos duas sondas e perdemos as duas. Não temos fundo de maneio para manter os trabalhadores", justifica.

Angolanos tentam atravessar cerca sanitária de Luanda

Pizardo nota, contudo, que nada vai ser feito antes do levantamento do estado de emergência. "Vamos continuar a pagar os salários e tudo que o trabalhador tem direito até ao fim".

Penalizar empresas não é solução

A ministra da Administração Pública Trabalho e Segurança Social, Teresa Rodrigues Dias, confirma as dificuldades das empresas e trabalhadores: "De acordo com os dados estatísticos dos últimos dois meses da Inspeção Geral do Trabalho, um número considerável de cidadãos viram extintos os seus postos de trabalhos, por um lado, e outros suspensos os seus contratos de trabalho, cifrando-se as duas realidades em mais de 3.728 postos de trabalho".

Para já, diz a ministra, não estão previstas penalizações às empresas: "A situação é delicada, não só em Angola como a nível global", lembra. "Nem nós nem o Executivo temos demonstrado uma faceta no sentido de querer aplicar medidas de consequências jurídico-legais ou de consequências que possam vir a afetar ainda mais as empresas. As empresas estão em situação periclitante do ponto de vista económico e financeiro. Não têm saída para a realização do seu objeto social".

Situação pré-coronavírus

Em declarações à DW África, o secretário nacional da Central Geral Sindical de Angola (CGSILA) defende que a Covid-19 não é a principal causa do desemprego em Angola. Jacinto Francisco diz que antes da pandemia o país já tinha mais de nove mil desempregados.

As empresas e os trabalhadores são "reféns da economia que não funciona em Angola" segundo o sindicalista.

"Não é a Covid-19 que veio provocar isso. É preciso dizer que muitos querem se aproveitar da Covid-19. A situação real é da economia que não funciona no país. O problema é da economia do país que anda de patas para o ar e não encontramos ninguém com capacidade de colocar a economia a funcionar e proporcionar a vida melhor aos angolanos e, sobretudo, aos jovens que vão ter cada vez mais problemas em conseguir o primeiro emprego", critica Jacinto Francisco.

A CGSILA prevê que o nível do desemprego em Angola poderá chegar aos 40% nos próximos dias. Por isso, o sindicalista reitera ser urgente a implementação do subsídio para os desempregados.

"Estamos a falar da metade da população que estará no desemprego. É preciso que o Estado reveja isso. Se o Estado não tem capacidade de fazer funcionar a economia, tem que aprovar um subsídio para proteger o cidadão".

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