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"A paciência dos comandantes da RENAMO está a esgotar-se"

Leonel Matias (Maputo)16 de junho de 2015

O aviso é do porta-voz do maior partido da oposição em Moçambique, António Muchanga. A RENAMO anunciou esta terça-feira (16.06) que foi alvo de dois ataques das forças governamentais nos últimos dias.

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Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) convidou esta terça-feira (16.06) a imprensa para condenar dois alegados ataques levados a cabo por forças governamentais contra posições de homens armados residuais do maior partido da oposição nas províncias de Tete e Inhambane, no centro e sul do país, respetivamente.

Segundo o porta-voz do partido, António Muchanga, no domingo à tarde (14.06), militares que seguiam em dois camiões e num veículo Land Cruiser equipado com uma metralhadora atacaram o quartel da RENAMO na zona de Mucumbedzi, distrito de Moatize, na província de Tete. "Dos confrontos, resultaram mortos e feridos e a destruição do carro Land Cruiser."

Muchanga não precisou o número de vítimas. O outro ataque, segundo o porta-voz, registou-se na província de Inhambane. "Na quinta-feira [11.06], as forças do Governo atacaram o quartel da RENAMO em Funhalouro. Não houve confrontos porque os guerrilheiros da RENAMO conseguiram escapulir-se."

António Muchanga
Porta-voz da RENAMO, António MuchangaFoto: DW/Romeu da Silva

Entretanto, a polícia fala de um alegado ataque levado a cabo no domingo por homens armados, supostamente da RENAMO, contra uma unidade das forças governamentais em Tsangano, província de Tete.

"Naquela zona, temos uma força posicionada da UIR [Unidade de Intervenção Rápida]. Eles foram surpreendidos num riacho por homens armados que não estavam uniformizados", conta Deolinda Matsinhe, chefe das relações públicas da polícia em Tete. "Não houve troca de tiros, eles simplesmente surpreenderam a polícia, que caiu numa emboscada. Foram atingidos dois agentes da UIR, um deles perdeu a vida a caminho do hospital rural de Moatize."

Tensão volta a aumentar

Estes são os primeiros incidentes do género reportados desde que o Governo moçambicano e o maior partido da oposição assinaram, a 5 de setembro de 2014, um acordo que pôs fim a cerca de dois anos de hostilidades militares.

O acordo previa a desmilitarização da RENAMO. Para acompanhar esse processo, Moçambique recebeu uma equipa de observadores internacionais, que acabaram por regressar aos seus países 195 dias depois devido ao falhanço da missão.

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Este fracasso ficou a dever-se a divergências, que ainda se mantêm, entre o Governo e a RENAMO em relação às modalidades de reintegração das forças armadas da Resistência Nacional Moçambicana.

O clima de tensão tem vindo a subir no país e, na última semana, o partido da oposição ameaçou criar o seu exército e forças policiais, no âmbito do seu projeto de criação à força de autarquias provinciais, em protesto contra os resultados das últimas eleições gerais.

Comentando estas ameaças, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, reconheceu no último fim-de-semana que as organizações de que Moçambique faz parte estão a acompanhar com apreensão a situação política no país.

Nervosismo

Os alegados ataques das forças governamentais criaram nervosismo no partido, segundo afirmou o porta-voz da RENAMO, António Muchanga: "A paciência dos comandantes da RENAMO está a esgotar-se, o presidente Afonso Dhlakama está preocupado e pede a contenção das forças do Governo para que a paz seja uma realidade do país."

Para que isso aconteça, Muchanga pediu a colaboração dos vários segmentos da sociedade. "Não é com tiros que vão resolver os seus problemas, é dialogando - num diálogo sério, pró-ativo - que poderemos resolver os nossos problemas."

Afonso Dhlakama und Filipe Nyusi Mosambik
Líder da RENAMO, Afonso Dhlakama (esq.), e Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, encontraram-se a 7 de fevereiro de 2015Foto: AFP/Getty Images/S. Costa

As autoridades governamentais ainda não reagiram às acusações da RENAMO. O Presidente Filipe Nyusi discursou esta terça-feira num comício popular no aniversário do massacre de Mueda, mas não fez qualquer referência explícita ao clima de tensão no país.

Nyusi voltou a apelar, no entanto, à unidade entre os moçambicanos: "A unidade nacional é o ponto de partida da construção e consolidação dos ideais nacionais e a promoção da moçambicanidade, da convivência pacífica, da solidariedade, da inclusão, da tolerância, da elevação da autoestima e do espírito patriótico."

O Presidente Nyusi tem sublinhado, nos últimos dias, que a questão da paz constitui a sua principal prioridade e reiterado a sua disponibilidade para dialogar com todos os partidos políticos.

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