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Música

"A história do hip-hop tuga" e as raízes africanas

8 de março de 2019

O hip-hop feito em Portugal sobe ao palco em Lisboa pela mão de artistas como Boss AC, Chullage, General D, NBC e Sir Scratch. Ouvidos pela DW, reconhecem a riqueza da fusão do hip-hop português com a cultura africana.

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NBCFoto: Sérgio Dias Santos

"A história do hip-hop tuga" conta-se em forma de um grande concerto, com mais de uma dezena de artistas, na noite desta sexta-feira, 8 de março,  em Lisboa. O concerto no recinto do Altice Arena, no Parque das Nações, visa reconstituir a história do hip hop em Portugal, influenciado por estilos como o rap, dos Estados Unidos da América, e pelas raízes africanas, tal como reconhecem os músicos entrevistados pela DW África.

Um deles é Sir Scratch, uma das referências do hip-hop cantado em língua portuguesa, que encontramos no estúdio Big Bit, nas Laranjeiras, em Lisboa. "Vou estar esta sexta-feira a representar Amadora – Esquadrão Central. A história do hip-hop tuga vai ser contada e eu vou contar a minha parte", promete.

Benigno António Neto é o seu nome de registo. O músico português nascido em Luanda faz parte da nata do hip-hop em Portugal. O gosto pelo género é de família: "Na altura em que veio o boom do hip-hop em Portugal, princípios dos anos 1990/94, quando veio o 'Rapública' [a primeira compilação do rap português], ouvia-se muito nas rádios Gabriel o Pensador, Boss AC, Black Company. Os meus irmãos mais velhos ouviam e foi aí que [surgiu] o gosto de começar a ouvir", recorda.

Para Sir Scratch, foi "uma sorte" ter começado tão cedo: "Por volta dos 10 anos comecei a fazer as minhas primeiras músicas e tinha logo esse bichinho".

Portugal Hip Hop l Sir Scratch
Sir Scratch (Dennis Gao)Foto: Dennis Gao

Apesar de ter começado no seio da comunidade afro-americana nos Estados Unidos, o hip-hop acabou também por receber contributos das raízes culturais africanas, adianta o rapper luso-angolano.

"Cá em Portugal não foge disso. Também começou nos bairros, com as comunidades e nos guetos. Até a própria cultura do hip-hop, mesmo o graffiti, mesmo o breakdance, nas ruas eram vistos como algo um bocado marginal".

Hoje, o cenário é outro, afirma: "Graças a Deus, a mentalidade mudou, há mais qualidade".

"Tomámos as rédeas da música em Portugal"

São muitos os nomes que contam "A história do hip-hop tuga", mas destacam-se entre os percursores o moçambicano General D e o cabo-verdiano Boss AC.

Com eles, no Altice Arena, vai estar também NBC (Natural Black Color), nome artístico de Timóteo Tiny, de origem são-tomense: "Faço parte desse grupo de pessoas que quis trazer para Portugal um género musical que na América também estava a dar os seus primeiros passos, no início dos anos 1980".

"A história do hip hop tuga" e as raízes africanas

Numa entrevista recente à DW África, NBC lembrou que a história do hip-hop começa na margem sul do Tejo, inspirada nas lutas pelo direito à igualdade laboral dos imigrantes das ex-colónias portuguesas em África que trabalhavam nos estaleiros da Lisnave, em Cacilhas. E foi esta a motivação que estimulou os seus filhos a trazerem à ribalta este estilo musical.

"O que acontece hoje é que, como nós tomamos as rédeas, digamos assim, da música em Portugal, e fazemos parte dos cabeças de cartaz dos festivais principais, então os nomes mais antigos que ainda estão no ativo, como é o meu caso, são sempre relembrados pelo artistas novos que estão a ser mais falados", considera.

Vado Más Ki Ás integra esta geração mais nova que dá voz ao hip-hop. Osvaldo Landim começou a cantar aos 12 anos, impulsionado pela morte de um irmão. Nos últimos três anos, segue a carreira com mais profissionalismo, inspirado por vários nomes: "Desde pequeno, sempre gostei de hip-hop. E há muitas referências no hip-hop português e mesmo no rap crioulo como Nigga Poison, TWA, Baby Dog; tivemos o NGA aqui na linha de Sintra, tivemos o Boss AC, Sam The Kid, Valete e Halloween".

Portugal Hip Hop l Vado
Vado Más Ki ÁsFoto: João Carlos

O jovem luso-caboverdiano nascido no Bairro "6 de maio” também figura no cartaz deste concerto. Vai ser uma noite de surpresas, diz o representante do rap crioulo, sublinhando que o hip-hop português sai mais enriquecido pela fusão com as raízes da cultura africana: "Sempre fizemos isso, ir às nossas raízes, ir sempre buscar algo à terra e trazer para aqui, que o people (as pessoas) também gosta dessa nossa maneira, dessa nossa arte, e também da nossa musicalidade".

Integrar o cartaz que conta a história do hip-hop português "é uma grande honra” e "um privilégio enorme", afirma, reconhecendo que o hip-hop conquistou um lugar próprio e vai continuar a ter o seu espaço em Portugal. Prova disso, fez questão de sublinhar à DW África, é que está a ultimar o seu novo álbum.

Sir Schatch, que também prepara um novo disco, diz que este é um momento de celebração "para relembrar os velhos tempos, o atual e também dar a conhecer o futuro do hip-hop nacional".

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