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Por que a Alemanha está mal preparada para grandes nevascas

Nicolas Martin
6 de dezembro de 2023

Após a neve veio o gelo, gerando novos transtornos aos passageiros de trens e aviões. Mas, o que explica o fato de a maior economia da Europa estar tão despreparada para o clima extremo no inverno?

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Trem da Deutsche Bahn parado ao lado de trilhos cobertos com enorme quantidade de neve
Munique teve 44 centímetros de neve em 24 horas, algo inédito desde o início dos registros. O recorde anterior era de 1938Foto: Matthias Schrader/AP/dpa

Trata-se de algo curioso que, ao mesmo tempo, expõe os efeitos da chegada repentina do inverno na Alemanha.

Em razão da neve e do gelo, muitas pessoas no estado da Baviera, no sul do país, tiveram de esperar por um tempo mais longo para receber cartas e encomendas. O motivo é o fato de não haver quase nenhum trem ou ônibus circulando, e os funcionários dos serviços de entrega não conseguirem chegar ao trabalho.

A situação foi ainda pior para muitos passageiros de voos internacionais que aguardavam no aeroporto de Munique. Alguns tiveram de esperar dias para embarcar nos voos de conexão.

Centenas de pessoas tiveram de passar a noite em camas de campanha e espreguiçadeiras no segundo maior aeroporto da Alemanha. A atmosfera era tensa, mas também de compreensão, afirmou à DW o porta-voz do aeroporto Henner Euting.

No último final de semana nevou o equivalente a uma temporada de inverno inteira. "A neve estava bastante úmida e compacta, o que a torna difícil de ser removida", explicou.

Após a neve finalmente ser retirada, as operações no aeroporto foram retomadas, mas somente por um breve período. Depois de o aeroporto ser atingido por uma chuva de granizo, todos os voos tiveram de ser mais uma vez cancelados.

Ferrovias bloqueadas

O fato de muitos passageiros terem sido redirecionados para o aeroporto de Frankfurt acabou gerando alguns gargalos. Viagens ferroviárias até a cidade na região central do país também não eram possíveis, uma vez que os trens estavam impedidos de sair da estação central na capital bávara.

Após a nevasca deste fim de semana, trazer as ferrovias de volta à normalidade é uma tarefa complicada. As catenárias – os cabos aéreos das ferrovias – foram danificados em mais de 80 lugares em razão do mau tempo.

Segundo a operadora alemã de trens Deutsche Bahn, a situação ainda está longe da normalidade, com o tráfego ferroviário sendo gravemente afetado até a noite desta quarta-feira (06/12). A recomendação aos passageiros é que eles cancelem suas viagens para Munique.

Com todos esses fracassos, é cada vez mais questionado se o caos poderia ter sido evitado, e quanto isso custaria. É algo difícil de quantificar, diz Michael Santos, da empresa alemã H&Z Consultoria Empresarial, que trabalha com logística e cadeias de abastecimento. Ele estima que os custos em euros estariam na casa de um valor milionário de três dígitos.

Mas, de que forma é possível estar melhor preparado? Seriam os demais países do norte da Europa, como Noruega, Suécia ou Finlândia, simplesmente mais avançados tecnicamente?

Não se ouve falar muito em caos nos aeroportos ou transtornos em estações de trens nesses países. O aeroporto de Oslo, por exemplo, é considerado o mais pontual da Europa, segundo a organização europeia de segurança na aviação Eurocontrol, apesar de o local ter entre 50 a 60 dias de neve todos os anos.

Nevasca recorde

Na Escandinávia, capacidades significativamente maiores estão disponíveis. Além disso, "o nível de utilização desses aeroportos não é de modo algum comparável com Munique ou Frankfurt", afirma o especialista em logística Santos. Ele diz que a quantidade de neve do último fim de semana excedeu todas as capacidades de limpeza. "A chegada do inverno, principalmente na Baviera, representa uma situação verdadeiramente excepcional."

Entre sexta-feira e sábado, Munique teve 44 centímetros de neve, algo inédito para um único dia desde o início dos registros. O recorde anterior havia ocorrido em dezembro de 1938, com 43 centímetros de neve em 24 horas.

O serviço de inverno do aeroporto de Munique está em prontidão desde o início de novembro. Entre 150 e 200 funcionários trabalham em dois turnos de 12 horas cada – o que não foi suficiente para controlar o caos do último fim de semana.

Cauda de avião da Lufthansa surge em meio a montes de neve
"Neve estava bastante úmida e compacta, o que a torna difícil de ser removida", diz porta-voz do aeroporto de MuniqueFoto: Angelika Warmuth/REUTERS

Contudo, o especialista em transportes e infraestrutura Thomas Puls, do Instituto Alemão de Economia (IW) em Colônia, afirma que aeroportos e ferrovias poderiam estar melhor preparados para lidar com enormes quantidades de neve.

Mas isso exige um alto nível de esforço. "No caso dos aeroportos escandinavos, por exemplo, essa situação ocorre todos os anos , mas, na Alemanha, há muito tempo isso não acontecia", diz Puls

Infraestrutura ferroviária "na UTI"

No caso da Deutsche Bahn, porém, não se pode afirmar que o sistema somente atinge seu limite em casos de clima extremo. Mesmo sem toda essa neve, normalmente ocorrem atrasos por motivos variados, como chuvas, calor, ou até mesmo as folhas do outono.

"A infraestrutura ferroviária é um paciente numa UTI, não tanto em razão dos eventos climáticos, mas por causa da fase sem investimentos que já dura tempo demais", afirma Santos. "Agora estamos pagando a conta disso, e a vulnerabilidade é muito alta. Não é necessário passar por caos climáticos como o do último fim de semana."

Santos é mais cauteloso ao analisar os aeroportos. É claro que a capacidade também pode ser aumentada, ainda assim, é sempre uma análise de custo-benefício. "Vivenciamos um evento que ocorreu uma vez em décadas que resultou em menos cancelamentos do que uma greve comum na Lufthansa ou na Deutsche Bahn. Ter significativamente mais pessoal e capacidade material disponível para isso é algo simplesmente desproporcional."