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Paul Klee e os nazistas no poder

av16 de setembro de 2003

Mostra na Schirn Kunsthalle de Frankfurt dedica-se a um único ano da vida e obra do pintor Paul Klee: 1933. Apesar da ascensão de Hitler, batidas, demissão e exílio, uma das épocas mais produtivas para o artista judeu.

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Quadro a óleo de Paul Klee, 1914

1933 é o ano da fatal ascensão dos nazistas ao poder, através da nomeação de Adolf Hitler para chanceler do Reich. Em 17 de março, poucas semanas após aquele acontecimento de proporções históricas, membros do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) revistaram o ateliê de Klee (1879-1940) em Dessau, durante sua ausência, confiscando diversos documentos.

Temendo ser preso, ele escapou para a Suíça. Só a intervenção jurídica de amigos suíços evitou que o episódio tivesse conseqüências mais sérias. Mesmo assim, continuou sendo difamado pela imprensa e as autoridades como "bolchevique cultural" e "judeu galego". Em abril o artista foi sumariamente destituído de seu cargo de professor da Academia de Artes de Düsseldorf. Em dezembro daquele mesmo ano viu-se forçado a emigrar com sua esposa para a cidade natal, Berna, na Suíça.

Apesar de tantos acontecimentos tumultuados, Klee nunca produzira tantas obras como em 1933. Do total de 482 peças, consta uma série de 246 desenhos, onde adotou a paródia como forma de colocar no papel sua reação tão complexa e apaixonada ao regime nazista. Sem comentar diretamente, elas expressam – na linguagem gráfica própria do artista – demagogia, militarismo, violência, anti-semitismo e humilhação.

Excetuados alguns presentes a colecionadores de confiança, Klee manteve consigo praticamente todo o ciclo, durante toda a vida. Durante anos acreditou-se que as chamadas Revolutionsblätter (Folhas da revolução) estivessem perdidas. Somente em 1984 a maior parte delas pode ser localizada e identificada.

Protesto e humor sutil

De 18 de setembro a 30 de novembro, a mostra apresenta pela primeira vez uma seleção dessas páginas que, nas palavras do desenhista, representavam a "revolução nacional-socialista". Elas são complementadas por obras a cores do mesmo ano. Segundo o diretor da Schirn Halle, Max Hollein, esse grupo de trabalhos "não só permite uma visão representativa na obra incomum desse ano fatídico, como mostra a – dura, ainda que oculta – crítica de um importante músico de vanguarda aos eventos políticos de sua época".

Para a curadora Pamela Kort, a exposição em Frankfurt confronta ainda o visitante com uma característica facilmente esquecida da estética desse artista de nacionalidade alemã: sua constante ocupação com as possibilidades do humor. Sua crítica sutil já se manifesta no próprio estilo figurativo, quase antiquado, que adotou nesses desenhos: aqui trata-se de uma clara paródia ao das formas artísticas reacionárias, abonadas e promulgadas pelo regime nazista.