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Lula decide enviar Celso Amorim à Ucrânia

22 de abril de 2023

Visita é anunciada após declarações do presidente brasileiro levantarem dúvidas sobre a sua neutralidade na guerra e sofrerem críticas da comunidade ucraniana, da União Europeia e dos Estados Unidos.

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Celso Amorim cercado por jornalistas
Nesta semana, Amorim disse que governo brasileiro esperava de Kiev um convite com "disposição de conversar, de ouvir e ser ouvido"Foto: Vanessa Carvalho/ZUMA Wire/IMAGO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu enviar o assessor especial do Palácio do Planalto para assuntos internacionais, Celso Amorim, à Ucrânia para se reunir com autoridades em Kiev e discutir a invasão da Rússia, após ser criticado por suas declarações e posturas sobre a guerra.

Lula afirma que o Brasil tem posição neutra no conflito, mas suas falas que corresponsabilizaram a Ucrânia pela invasão de seu território e acusaram a União Europeia (UE) e os Estados Unidos de prolongarem a guerra levantaram dúvidas em países do Ocidente e na comunidade ucraniana sobre a neutralidade de Brasília.

Contribuiu para essa percepção o contato frequente do governo brasileiro com o governo russo, sem que houvesse até o momento visitas oficiais de membros do alto do escalão da gestão Lula a Kiev. Amorim reuniu-se com o presidente russo, Vladimir Putin, e seu chanceler, Serguei Lavrov, em Moscou, no final de março. Lavrov foi também recebido em Brasília nesta segunda-feira pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e por Lula.

Amorim foi ministro das Relações Exteriores de 2003 a 2011, nos dois primeiros governos Lula. Após sua viagem a Moscou, ele visitou Paris, onde conversou com representantes do governo francês sobre o tema.

Nesta terça-feira, Amorim foi questionado pelo jornalista Gustavo Chacra, da emissora Globonews, sobre o motivo de não ter ainda visitado a Ucrânia, e respondeu que o governo brasileiro esperava de Kiev um convite para uma visita que não fosse "para ir lá e ver a guerra", mas com "disposição de conversar, de ouvir e de ser ouvido".

Pressão da comunidade ucraniana

A planejada viagem de Amorim à Ucrânia foi divulgada nesta sexta-feira (21/04) pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, que está em Portugal acompanhando Lula em sua visita oficial ao país ibérico.

A pedido de Lula, Macedo reuniu-se com representantes da comunidade ucraniana em Portugal, que organizaram um protesto em frente à embaixada brasileira em Lisboa para demonstrar estar "muito preocupada e apreensiva" com a posição do Brasil sobre a guerra.

Os ucranianos entregaram uma carta ao governo brasileiro reforçando o convite do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, para que Lula vá à Ucrânia "para ver in loco e com os seus próprios olhos, o significado de 'paz russa'".

"O presidente Lula me orientou que dissesse que o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, que esteve na Rússia, vai visitar a Ucrânia. Informei hoje à Associação dos Ucranianos em Portugal. Ainda não tem data, até por questões de segurança", disse Macedo a jornalistas.

Ele afirmou também que as declarações de Lula não teriam sido interpretadas de forma correta. "Houve uma interpretação que não condiz com a realidade da posição de Lula. (...) Assim como ele tem obsessão de acabar com a fome, tem a determinação de ajudar que este conflito acabe", disse.

Declarações de Lula sob críticas

A carta da comunidade ucraniana ao governo brasileiro lembra que Lula têm dito que a culpa pela guerra seria compartilhada entre a Rússia e a Ucrânia e que a solução para o fim do conflito passaria por Kiev desistir de parte de seu território.

No início de abril, Lula sugeriu à Ucrânia que cedesse a Crimeia a Moscou a fim de negociar o fim da guerra. "Putin não pode ficar com o território da Ucrânia. A Crimeia pode ser discutida. Mas o que ele invadiu de novo, ele tem que repensar", disse o presidente em encontro com jornalistas no Palácio do Planalto.

A declaração gerou reação de Kiev, que "deixou claro que a Ucrânia não faz comércio com os seus territórios". A maioria da comunidade internacional continua a considerar a Crimeia território da Ucrânia, nove anos depois de, com sua anexação, Putin começar a retalhar o território ucraniano.

No último fim de semana, em visita aos Emirados Árabes Unidos, Lula disse que a Ucrânia seria corresponsável pelo início do conflito. "A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra, porque a decisão da guerra foi tomada por dois países."

O brasileiro também acusou os EUA e a UE de prolongarem o conflito no Leste Europeu. A declaração gerou reação internacional, e a Comissão Europeia e a Casa Branca rebateram na segunda-feira as críticas feitas pelo brasileiro.

"Não é verdade que os EUA e a UE estejam ajudando a prolongar o conflito. A verdade é que a Ucrânia é vítima de uma agressão ilegal, uma violação da Carta das Nações Unidas", afirmou o porta-voz da Comissão Europeia para Negócios Estrangeiros e Políticas de Segurança, Peter Stano.

Já o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, acusou Lula de "papaguear" propaganda russa e chinesa sobre a guerra e disse que o petista estaria "simplesmente mal orientado".

Na terça-feira, Lula amenizou o tom e disse que seu governo condena a violação do território ucraniano, ao mesmo tempo que defende "uma solução política negociada para o conflito". O presidente brasileiro defendeu ainda a criação "urgente" de um grupo de países capazes de mediar o fim da guerra, "que tente sentar-se à mesa tanto com a Ucrânia como com a Rússia para encontrar a paz".

bl (ots)