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Repúdio internacional em 9 anos da anexação russa da Crimeia

18 de março de 2023

Após derrubada de presidente pró-russo Yanukovych e antes de reconhecer "repúblicas" do Donbass, Putin anexou a península em 2014, através de referendo sem reconhecimento internacional. Um prelúdio à guerra na Ucrânia.

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Vista de satélite de idade portuária de Sebastopol
Cidade portuária de Sebastopol tem grande importância estratégicaFoto: Maxar Technologies/dpa/picture alliance

A esmagadora maioria da comunidade internacional continua a considerar a Crimeia território da Ucrânia, nove anos depois de, com sua anexação, o presidente Vladimir Putin começar a retalhar o território ucraniano.

Em 18 de março de 2014, Putin assinou o tratado de "reintegração da Crimeia na Federação Russa". A estratégica península no Mar Negro fazia parte da União Soviética até esta se dissolver, tendo antes pertencido durante séculos ao Império Otomano.

Hoje, a reintegração da Crimeia na Ucrânia é uma das exigências de Kiev para eventuais negociações pelo fim do conflito iniciado com a invasão russa em larga escala do território ucraniano, em 24 de fevereiro de 2022, sob o pretexto de desmilitarização e "desnazificação" do país vizinho.

A suposta "reintegração" se deu após a invasão da península por forças russas, em fevereiro de 2014 – seguindo-se ao afastamento do presidente pró-russo Viktor Yanukovych – e um apressado "referendo" orquestrado pelas autoridades russas, que se concluiu com um apoio de 96,77% à anexação da Crimeia, resultado não reconhecido pela comunidade internacional.

O líder russo ratificou a lei de anexação a 21 de março do mesmo ano. A "receita" do Kremlin – de invasão, referendo-relâmpago e anexação – foi repetida em setembro de 2022 depois da ocupação de partes das províncias ucranianas de Kherson, Zaporíjia, Donetsk e Lugansk.

Crimeia na agenda de guerra russa

Putin assinalou o nono aniversário da anexação, neste sábado (18/03), com uma visita-surpresa à Crimeia. Na cidade portuária de Sebastopol, ele visitou uma escola de arte infantil recém-inaugurada, acompanhado pelo governador local, Mikhail Razvozhayev, como mostrou a televisão estatal russa.

Na véspera, o líder comentou, numa videoconferência sobre o desenvolvimento socioeconômico da península, que "obviamente, os problemas de segurança são uma prioridade para a Crimeia e Sebastopol, especialmente hoje" – com a campanha de guerra russa na Ucrânia às suas portas –, e que seu governo tudo fará para evitar tais ameaças.

Perante o líder imposto por Moscou na Crimeia, Sergei Axionov, o chefe do Kremlin afirmou que, nove anos atrás, os residentes da Crimeia e Sebastopol tomaram uma "decisão histórica final e inequívoca: tornar-se parte de um único grande país mais uma vez e para sempre".

Vladimir Putin visita escola de arte em Sebastopol
Putin (c.) em visita-surpresa a escola de arte em Sebastopol, ladeado pelo governador da cidade, Mikhai Razvozhayev, e o presidente do Conselho de Cultura Patriarcal. Tikhon ShevkunovFoto: Sevastopol Governor Press Servic/TASS/dpa/picture alliance

A partir da invasão em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia conseguiu criar um corredor terrestre entre o Donbass, no leste ucraniano, e a Crimeia, no sul, a qual necessita de recursos hídricos para se manter. O Mar de Azov passou a ser um mar interior russo, garantindo a segurança da Crimeia, onde também se criou uma linha de fortificações.

Nos últimos 13 meses, porém, a península foi alvo de ataques separados, atribuídos à Ucrânia. Em agosto, realizou-se uma operação de sabotagem contra um arsenal do Exército russo e explosões suspeitas num aeródromo.

Em 8 de outubro, a Ponte da Crimeia, inaugurada pelo próprio Putin para ligar a área ocupada ao território russo, foi fortemente danificada por um ataque, atribuído por Moscou a Kiev, mas não reivindicado. Nesta sexta-feira, o vice-primeiro-ministro russo, Marat Khusnulin, assegurou que em breve a circulação será reaberta a caminhões e que a segunda linha ferroviária da ponte estará em funcionamento antes de julho.

Repúdio internacional a anexações e "referendos" russos

A Ucrânia tem perseverado que, mais cedo ou mais tarde, libertará o território ocupado. Em agosto de 2021, Kiev lançou a Plataforma da Crimeia, que angaria apoio internacional para a recuperação da península. Em 2023, a instituição instou a Rússia a cessar imediatamente as hostilidades e retirar suas tropas dos territórios ocupados.

Na quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Turquia reiterou qão reconhece a "anexação ilegal" da Crimeia pela Rússia, após "um referendo ilegítimo realizado em violação do direito internacional". A situação dos turcos tártaros da Crimeia, que são o povo originário do território, é prioridade turca, afirmou o órgão.

"A Turquia continuará a apoiar nossos compatriotas tártaros da Crimeia na sua pátria histórica, preservando sua identidade e garantindo que vivam em segurança e paz", acrescentou a sede da diplomacia em Ancara. Outros países, como a Lituânia, emitiram declarações de condenação da anexação da Crimeia.

Em 26 de fevereiro, para assinalar o início da invasão do território ucraniano, o Departamento de Estado americano expressou, numa nota curta, seu posicionamento na questão: "Os Estados Unidos não reconhecem e nunca reconhecerão a suposta anexação da península pela Rússia. A Crimeia é da Ucrânia."

av (Lusa,Reuters,AFP)