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UNITA quer criar forúm para consolidar a paz em Angola

António Rocha6 de abril de 2016

No dia da Paz e da Reconciliação Nacional, assinalado em Angola na segunda-feira (04.04), a UNITA lançou a ideia de criar um fórum para a paz e reconciliação do país, ainda a braços com um conflito armado em Cabinda.

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Cabinda, AngolaFoto: DW/N. Sul D'Angola

O maior partido da oposição em Angola, UNITA, defendeu na última segunda-feira (04.04) a criação de um Fórum Nacional para o Aprofundamento e Consolidação da Paz e Reconciliação Nacional, ao lembrar que 14 anos depois do fim do conflito armado, Angola ainda está em guerra em Cabinda.

Com esta proposta surgem algumas questões. Será que esta ideia não chega um pouco tarde? Vitorino Nhiani, da direção da UNITA, garante que a proposta vem a tempo e justifica porquê.

“Primeiro, fomos analisando os valores da própria situação e a UNITA foi sempre apelando para que houvesse diálogo no país, já que temos uma determinada experiência vivida durante quase três décadas. Chegámos à conclusão de que o conflito não resolve o problema, porque o fim de qualquer conflito é sempre político. Por que é que não optámos pela política, desde já, em vez de optarmos pelo conflito? Daí, pode dizer-se que não chega tarde. Estávamos a supor que talvez houvesse vontade política da parte daquele que detém o poder político, no sentido de poder evoluir para uma paz verdadeira, uma paz que não redunde apenas no calar das armas, mas sim uma paz social que faça com que todos os angolanos tenham pão, água, luz e condições mínimas para poderem viver”, explica Nhiani.

A ideia da criação do forúm suscitou várias reações. A DW África entrevistou Jean Claude-Nzita, porta-voz da FLEC (Frente para a Libertação do Enclave de Cabinda) que considerou uma boa iniciativa, embora lamente a falta de comunicação da UNITA.

Jean-Claude Nzita
Jean-Claude Nzita, porta-voz da FLECFoto: DW/J.-C. Nzita

“A UNITA deveria ter-nos consultado primeiro sobre esta ideia ou proposta que acaba de apresentrar. Mas de qualquer das formas a FLEC/FAC considera a ideia uma boa coisa porque a UNITA reconhece a existência de combates em Cabinda”, esclareceu Claude-Nzita.

"É preciso ouvir o povo de Cabinda"

A UNITA, exorta entretanto o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, “para a necessidade urgente e premente de se encontrar uma solução para o conflito em Cabinda” onde atua a FLEC/FAC que reclama a autodeterminação do território. Será que o Presidente angolano vai escutar este apelo? Foi a questão que colocámos a Vitorino Nhiani.

“Caberá a ele fazer uma instrospeção e um exame de consciência e ver se de facto esta é a melhor via ou não, porque senão ele vai ficar isolado. Em Angola, ninguém mais quer armas. Seria bom, se isto pudesse evoluir para o verdadeiro diálogo e para conversar seriamente com os filhos de Cabinda. E não encontrar interlocutores na base do aliciamento porque isso não resolve os probelmas fundamentais que Cabinda tem. É preciso ouvir o povo de Cabinda”, conclui o membro da UNITA.

É de recordar que em março passado, a ala militar da FLEC anunciou o regresso ao conflito armado, alegando precisamente a falta de diálogo com o Governo angolano.

Em nome da UNITA, Vitorino Nhiani afirma que os acordos de paz estabelecidos em 2002 continuam por concretizar na totalidade: "O próprio acordo não envolveu aqueles que estão diretamente envolvidos no conflito. O acordo envolveu entidades dissidentes. Aqueles que estão de facto na organização opositora não foram ouvidos. Isso é uma das razões pelo qual o conflito ainda continua. Por isso, é necessário encontrar um remédio para essa situação que ainda perdura”.

Angola Cabinda
Cabinda, AngolaFoto: DW/N. Sul D'Angola

"Defendemos a realização do diálogo"

É neste quadro de muita instabilidade em Cabinda que a FLEC tem anunciado com uma certa frequência a ocorrência de vários confrontos violentos e mortíferos com o exército angolano naquele território. E para que a paz seja efetiva no enclave, Jean Claude-Nzita insiste na posição que a FLEC vem defendendo há anos.

"Temos solicitado sempre o diálogo com o Governo angolano visando uma solução para o “dossier” Cabinda. Defendemos a realização do diálogo com as autoridades angolanas, mas com toda sinceridade não sabemos muito bem o que significa, na realidade, este fórum proposto pela UNITA. Este partido deve explicar bem esta proposta porque a FLEC/FAC sempre convidou o Governo angolano para um diálogo aberto e franco sobre Cabinda, algo que até hoje não se concretizou", defende o porta-voz da FLEC.

Jean Claude-Nzita disse ainda na entrevista à DW África que, recentemente, o Presidente do movimento, Nzita Tiago, pediu ao General angolano Miala para ser o facilitador de um diálogo com o Governo de Angola.

No entanto, em resposta, Luanda enviou mais militares para a região, diz Jean Claude-Nzita: "Luanda aumentou o envio de militares para Cabinda para nos fazer a guerra e face a este quadro, os elementos armados da FLEC/FAC reagiram aos ataques realizados às suas posições no interior do território cabindês. É o governo angolano que quer a guerra, enquanto nós queremos negociar. A direção político-militar da FLEC/FAC tem apelado insistentemente à comunidade internacional, nomeadamente a EU, Alemanha, os USA e Portugal, para que interfira junto do Governo de Angola e para que haja uma paz definitiva em Cabinda. Mas infelizmente o mundo esquece e marginaliza a questão de Cabinda".

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