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Soldados alemães no Mali em foco nos jornais alemães

22 de fevereiro de 2013

O tema africano de maior destaque nos jornais alemães continua sendo a crise no Mali: a Alemanha aprovou a participação de 330 soldados na missão militar. Também a audiência de Laurent Gbagbo mereceu atenção.

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Resumo da Imprensa
Resumo da ImprensaFoto: Fotolia

Em alemão, a expressão "in den Sand setzen", ou "pousar, colocar na areia", quer dizer "desperdiçar, fracassar, perder". O diário alemão Die Tageszeitung fez um trocadilho para relatar sobre a decisão do governo alemão de enviar 330 soldados alemães ao Mali, palco de conflito entre forças francesas e malianas contra militantes radicais islâmicos que dominam o norte do país.

"Deutsche in den Sand gesetzt", ou "alemães colocados na areia", é o título da matéria da última quarta-feira (20.02) do Tageszeitung. Porém, apesar de apontar para um eventual fracasso ou desperdício do envio de soldados alemães ao Mali, o texto continua de forma factual. "O governo decidiu a participação da Bundeswehr [Exército alemão] na futura missão de formação europeia para os militares malianos, assim como uma missão de soldados alemães para o apoio logístico às tropas ocidentais africanas e francesas que já combatem no Mali", explica o diário, que lembra que a missão ainda era passível de aprovação pelo Bundestag, a Câmara baixa do Parlamento alemão, na sexta-feira da próxima semana (01.03). "As missões valem por um ano a partir de 01.03", descreve o jornal.

Soldados alemães no Mali em foco nos jornais alemães

Já o Frankfurter Allgemeine Zeitung lembra a aprovação da missão de formação da União Europeia para o Mali. Incluindo os soldados alemães, serão 500 os militares europeus, vindos de 20 dos 27 países que formam o bloco diplomático.

Já a edição dominical do diário, o o Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung, destacou que, depois dos sucessos alcançados com a intervenção militar francesa e maliana no país ocidental africano, "acabou esta fase. Começou a luta de guerrilha", diz o texto, que afirma que o Conselho Militar francês, no início de fevereiro, já demonstrava um "certo pessimismo". "Deverá acontecer agora uma guerra assimétrica, com ataques suicidas e guerrilha urbana. Até lá, a guerra no Mali, no entanto, parece sem contornos – o que também pode ser explicado pelo fato de os jornalistas serem sistematicamente afastados do conflito", nota o jornal.

Minimizando riscos

O jornal suíço de língua alemã Neue Zürcher Zeitung destacou também que os maiores partidos da oposição alemã, os sociais-democratas (SPD) e o Partido Verde (Die Grünen) apoiaram a decisão do governo de enviar soldados ao Mali para as missões de formação e apoio logístico.

O diário explicou a justificativa do governo alemão de aprovar a missão: "Como no caso do Afeganistão, a política alemã citou o medo do terror islamista. O ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle (FDP), afirmou que os europeus têm interesse em não permitir um porto seguro para o terrorismo mundial se estabelecer nos territórios vizinhos do continente".

Na política interna, cita ainda o NZZ, "o engajamento na África Ocidental traz riscos calculáveis. Enquanto a maior parte da população costuma rejeitar regularmente intervenções militares no exterior, a classe política que domina o Bundestag valoriza o papel moderado que a Alemanha quer desempenhar no concerto das potências ocidentais. As autoridades alemãs também não querem arriscar um isolamento diplomático como no caso da Líbia [2011], e não se pode ignorar o pedido de apoio de [François] Hollande [o presidente francês]. Por isso, o governo alemão procurou um formato em que o risco de se envolver em atividades de guerra é mínimo", analisa o texto do Neue Zürcher Zeitung.

O maior contingente

Apesar de ser o maior contingente na missão de formação da UE, com até 180 soldados alemães, os custos do envio dos militares será o menor de todas as missões que participam: 13,5 milhões de euros. "O apoio às tropas de combate francesas e malianas é mais polêmico", escreve o Tageszeitung. "Com um limite de 150 soldados, mas custos previstos de 42 milhões de euros, esta missão de apoio custa quase quatro vezes mais que a componente europeia".

Soldados franceses em Gao, no Mali: restam poucos alvos e conflito deverá partir para combates de guerrilha, dizem jornais na Alemanha
Soldados franceses em Gao, no Mali: restam poucos alvos e conflito deverá partir para combates de guerrilha, dizem jornais na AlemanhaFoto: Reuters

Grande parte da missão alemã de apoio incluirá o transporte aéreo e o abastecimento aéreo de aviões franceses que realizam ataques do ceu contra militantes fundamentalistas islâmicos no norte do Mali. Outra parte será o transporte aéreo de soldados e material de outros países africanos para o Mali, algo que já está acontecendo, de acordo com um segundo texto do Tageszeitung que descreve o transporte de tropas estrangeiras para o Mali.

Um país despedaçado

É o caso da Costa do Marfim, segundo o jornal Neues Deutschland. Até o dia 28.02, o Tribunal Penal Internacional (TPI) realiza consultas para saber se existem razões para acreditar que o ex-presidente do país, Laurent Gbagbo, esteve envolvido em alegados crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante as violências pós-eleitorais de 2010-2011.

Em novembro de 2010, depois das eleições presidenciais, Gbagbo se recusou a aceitar a derrota para o atual presidente, Alassane Ouattara. Na altura, a Comissão Nacional de Eleições deu a vitória a Ouattara, que depois foi reconhecido presidente pela comunidade internacional. O fato desencadeou violências entre apoiantes de Gbagbo e de Ouattara. Até a prisão de Gbagbo, em abril de 2011, cerca de 3 mil pessoas morreram em confrontos em todo o país.

Jornais como o Süddeutsche Zeitung e o Frankfurter Allgemeine Zeitung destacam que o TPI é visto como parcial por várias populações do continente africano. Segundo o FAZ, personalidades como Gbagbo seriam "úteis" para afirmar o TPI como "instrumento [de poder] do Ocidente".

Já o Neues Deutschland faz um perfil da Costa do Marfim, "outrora o país mais rico da África ocidental e, desde a independência em 1960, marcado por estabilidade relativa" devido ao convívio pacífico de 60 etnias e religiões diferentes, além dos lucros obtidos com a exportação de cacau e café.

O poder do então partido governista PCDI (Partido Democrático da Costa do Marfim) começou a erodir nos anos 1990, quando o aumento das tensões com imigrantes de países vizinhos, como o Burkina Faso, e a queda dos preços do cacau causou fragilidade econômica e social no país. "Um golpe militar mergulhou o país numa crise grave em 1999", lembra o Neues Deutschland. "Com o conceito da Ivoirité, aumentaram a xenofobia e a discriminação de etnias no norte do país".

A guerra civil entre novembro de 2010 e abril de 2011 deixou mais de 3 mil mortos; na foto, apoiantes de Alassane Ouattara (2011)
A guerra civil entre novembro de 2010 e abril de 2011 deixou mais de 3 mil mortos; na foto, apoiantes de Alassane Ouattara (2011)Foto: dapd

Em 2000, Laurent Gbagbo venceu as presidenciais, das quais Alassane Ouattara foi excluído porque seus pais eram do Burkina Faso, levantando a questão se Ouattara era um verdadeiro "costa-marfinense". Em 2002, essa questão levou à revolta armada contra Gbagbo. "Mas a revolta também girava em torno do acesso a recursos naturais", diz o Neues Deutschland. "Além disso, os capacetes azuis das Nações Unidas deveriam restringir as violências entre rebeldes islâmicos no norte e a região sul, de maioria cristã. Três anos depois de um acordo de paz e após vários adiamentos, a Costa do Marfim realizou eleições presidenciais novamente em novembro de 2010".

Atualmente, Ouattara enfrenta críticas de beneficiar da "justiça dos vencedores", já que, como escreveram vários jornais alemães, o TPI não examinou nenhum alegado crime de guerra ou crime contra a humanidade também perpetrado pelos apoiantes do atual presidente da Costa do Marfim.

O drama do atleta sul-africano Oscar Pistorius

O semanário Der Spiegel deu destaque, como vários outros títulos a imprensa alemã, ao caso do corredor sul-africano Oscar Pistorius, suspeito de ter assassinado a namorada, Reeva Steenkamp, de 29 anos, no último dia 14.02. Se, até agora, a vida de Pistorius parecia um conto de fadas moderno, diz o Spiegel – o atleta foi o primeiro biamputado a conseguir disputar as Olimpíadas regulares com outros corredores do mundo nos Jogos de Londres, em 2012 – agora "a vida de Pistorius além do Glamour é que atrai os holofotes".

Oscar Pistorius diante de tribunal em Pretória
Oscar Pistorius diante de tribunal em PretóriaFoto: Reuters

Esses holofotes, diz o semanário, mostram uma pessoa que criava cães de combate e dois tigres brancos, que "dirigia a 250 km/h pelas ruas de Pretória, que era inquieto e que, numa noite de insônia em Nova York, fez uma tatuagem no ombro esquerdo, e que foi parar na cadeia durante algumas horas por ter ferido uma jovem mulher – acusação que ele contesta".

O Spiegel escreve ainda que Pistorius "era fascinado por armas. Tinha sempre uma pistola na casa, por medo de assaltantes [a alegação da defesa de Pistorius é que ele tenha confundido a namorada com um ladrão]. Para um repórter do New York Times, Pistorius mostrou uma pistola, cheio de orgulho: era uma 9 mm. Depois, eles foram a uma zona de tiro. Pistorius, que tinha levado dois pacotes de munição, deu a vez ao convidado. Quando este acertou vários tiros, o atleta disse: 'Talvez você devesse fazer isso com mais frequência. Se você treinasse, seria bastante fatal", destaca o Spiegel.

Autora: Renate Krieger
Edição: Helena Ferro de Gouveia

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