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As economias angolana e portuguesa têm muito para dar uma à outra, segundo os analistas, apesar da polémica gerada pelas declarações do Presidente de Angola, indiciando o fim da parceria estratégica entre os dois países.
Com a Sonangol e Isabel dos Santos na linha da frente, o investimento angolano continua na ordem do dia e muito bem cotado no mercado português. Abrange vários setores, da banca às telecomunicações, passando pela agricultura e tecnologia.
As relações comerciais entre Portugal e Angola também vão de vento em popa. As duas economias têm muito para dar uma à outra, consideram os analistas, depois da polémica gerada pelas recentes declarações do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que referiu, no seu discuso da semana passada sobre o Estado da Nação, que as relações com Portugal não vão bem, indiciando o fim da parceria estratégica entre os dois países.
"Investimentos são muito bem-vindos", diz Portugal
Os governantes e empresários portugueses têm afirmado nos últimos anos, depois da viagem oficial do presidente Eduardo dos Santos a Portugal, em 2009, que os investimentos angolanos são bem-vindos.
Após o acordo de paz, em 2002, a economia angolana começou a ganhar pujança e liquidez, que permitiram ao Estado traçar uma estratégia de investimentos e aposta também no plano externo. Hoje, a participação de capital angolano em empresas portuguesas é diversificada, predominantemente no setor da banca e das telecomunicações. O país africano já é considerado um dos investidores com maior posição na Bolsa de Valores de Lisboa (PSI 20).
"Neste momento, penso que os investidores angolanos já constituem o grupo que mais investimento têm no PSI20", afirma João Cantiga Esteves, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). "Nas empresas portuguesas, julgo que Angola já é mesmo a primeira investidora do ponto de vista geográfico", acrescenta.
Sonangol e Santoro na linha da frente
Pelas contas do Diário Económico, no total, as aplicações bolsistas feitas por entidades angolanas valem 2,8 mil milhões de euros. A petrolífera angolana, Sonangol, e a Santoro, de Isabel dos Santos, filha primogénita do Presidente de Angola, estão no topo dos investimentos feitos em Portugal. São parceiros estratégicos na petrolífera portuguesa GALP, por intermédio da Amorim Energia, detida a 55% por Américo Amorim e em 45% pela Esperanza Holding, controlada pela Sonangol.
Com a recente fusão entre as operadoras ZON e Optimus, Isabel dos Santos reforçou a sua posição nas telecomunicações portuguesas, ao equilibrar em 50% a parceria com a Sonaecom.
No Millennium BCP, a estatal Sonangol é o maior acionista de referência, com quase 20% do capital do banco português. No vasto horizonte de intenções e investimentos em Portugal, Isabel dos Santos também é acionista no Banco Português de Investimentos (BPI) e no Banco Espírito Santo (BES), grupo português que tem parceria com o BES África e a ESCOM.
Estas apostas só foram possíveis graças à abertura do Governo de Lisboa, tal como refere o jornalista Celso Filipe, autor do livro “O Poder Angolano em Portugal – presença e influência do capital de um país emergente”.
"O que proporcionou também este tipo de movimento foi o apoio político inequívoco dado pelos governos portugueses a estas apostas", explica o jornalista. "Recordo que quando José Sócrates - então primeiro-ministro de Portugal - foi a Angola, disse que os investimentos em Portugal são bem-vindos. Mais tarde, quando Pedro Passos Coelho tomou posse como primeiro-ministro, foi a Angola e só fez um pequeno acrescento em relação ao discurso do seu antecessor: os investimentos angolanos em Portugal são muito bem-vindos", recorda ainda Celso Filipe.
Angola: o quarto destino das exportações portuguesas
Pelas posições que ocupa na Galp, na Zon Multimédia e no BPI, Angola já ultrapassa a China, Itália e Espanha entre os países bem colocados no mercado acionista português. Apesar de levantar interrogações sobre a origem do financiamento, o capital angolano aparece igualmente ligado a aquisições ocorridas em empresas tecnológicas, no setor imobiliário e em explorações agrícolas.
No plano das relações comerciais bilaterais, os dados oficiais revelam uma evolução crescente. Em 2012, Angola foi o quarto maior destino das exportações portuguesas, tendo comprado bens no valor de três mil milhoes de euros. Trata-se de uma relação que a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola quer ver reforçada.
"Angola é o quarto destino de exportações portuguesas mas, e queremos realçar isto, Angola exportou mais para Portugal do que Portugal para Angola. É um dado novo, muito importante e interessante. Significa que o objetivo da Câmara de Comércio é que as duas partes trabalhem em conjunto e em grau de igualdade", diz o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola, Carlos Bayan Ferreira.