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Palma: "É uma situação dramática e catastrófica"

António Cascais
29 de março de 2021

O diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento, Adriano Nuvunga, define a situação na vila de Palma como "dramática e catastrófica" e entende o silêncio de Nyusi como um reconhecimento de falhanço no terreno.

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BG I Alltag und Militarismus in Cabo Delgado
Foto: Roberto Paquete/DW

Desde os ataques da passada quarta-feira (24.03) que não param de chegar relatos sobre o terror que se vive na vila de Palma, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Sem avançar números oficiais, a imprensa internacional publica que ocorreram dezenas de decapitações e milhares de pessoas fugiram do distrito em direção a Pemba.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, até ao momento não disse oficialmente nada sobre os ataques terroristas que se intensificaram nos últimos dias e que já provocaram reações da União Europeia, dos Estados Unidos e de vários parceiros internacionais de Moçambique.

Em entrevista à DW África, o diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, entende o silêncio de Nyusi como um reconhecimento do falhanço da sua estratégia para assegurar a estabilidade em Cabo Delgado. Nuvunga defende que Moçambique deve encontrar um parceiro internacional forte no Ocidente para fazer face aos ataques terroristas em Cabo Delgado.

DW África: Qual é a perceção que tem sobre o que está a acontecer em Palma?

Adriano Nuvunga (AN): A perceção que nós temos é de um drama. E a situação de Palma, em particular, é de catástrofe. Quando se perde vidas daquela maneira é catastrófico... 

DW África: Há transparência da parte do Governo moçambicano sobre o que está a acontecer?

AN: Não. Não há transparência e não há acesso à informação. Não só porque caiu a torre da telefonia móvel, mas também ficamos a saber que os jornalistas que tentavam cobrir a chegada daqueles que conseguiam chegar a Pemba estavam a ter dificuldades de trabalhar através das autoridades policiais.  

DW África: E que opções tem Moçambique para recuperar a vila de Palma? Será uma reedição do caso de Mocímboa da Praia, nas mãos dos insurgentes desde agosto de 2020?

AN: A opção que Moçambique tem é mesmo de identificar um parceiro internacional forte. A ideia de trabalhar com os mercenários, como tem estado a fazer, não só é a clara violação da lei, como o indício de crimes até de guerra. Mas também não tem capacidade para lidar com a situação. Portanto, Moçambique, a meu ver, tem que encontrar um parceiro forte. Um país ocidental forte que possa ajudar não somente na recuperação de Palma, mas também na estabilização da situação da segurança em Cabo Delgado.

Prof. Adriano Nuvunga
Adriano Nuvunga, diretor executivo do Centro para Democracia e Desenvolvimento descreve situação dramática em Palma.Foto: Roberto Paquete/DW

DW África: Uma organização como a SADC não seria o tal parceiro ideal? 

AN: Entre o ideal e o real há uma distância muito grande. Já viemos fazendo uma advocacia há mais de dois anos para que a SADC mostre presença, mas, desde a reunião de maio passado sobre a política e a cooperação na aérea da segurança, nunca mais ouvimos absolutamente nada. Então, não nos parece que neste momento a SADC, que até já teve a experiência de intervenção na República Democrática de Congo, esteja em condições de intervir.

DW África: Como interpreta o silêncio do Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi?

AN: Parece que esse silêncio é um reconhecimento de que houve um falhanço de segurança e militar no terreno. Mas é importante que as autoridades políticas de Moçambique deem a cara porque Palma é a zona verde de Cabo Delgado, zona estratégica. Mas também já se perdeu o número elevadíssimo de vidas, incluindo de estrangeiros. Portanto, compreendemos que as conferências de imprensa que o coronel Omar Saranga faz são muito importantes, mas era preciso que houvesse uma presença pública ao mais alto nível, porque o que aconteceu em Cabo Delgado é catastrófico.  

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