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Missão de paz da ONU: O dilema alemão no Mali

Kate Hairsine | Dirke Köpp
18 de novembro de 2022

A Alemanha continua a estudar a possibilidade de sair completamente da missão de paz da ONU no Mali, a MINUSMA. Isso depois do Reino Unido e da Costa do Marfim anunciarem que retirariam as suas tropas.

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Soldado alemão no Mali
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance

A Alemanha debate a questão há vários meses. Será que a "Bundeswehr" - as Forças Armadas alemãs - deveriam ou não retirar-se da missão das Nações Unidas no Mali (MINUSMA), que muitas vezes foi apelidada como a missão mais perigosa da ONU?

Num comunicado divulgado na quarta-feira (16.11), o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha disse que os membros do Governo de coligação ainda não tomaram uma decisão final. O comunicado foi publicado pouco depois da agência francesa AFP informar que, segundo uma fonte do Governo alemão, os soldados alemães deverão pôr um ponto final ao seu envolvimento na MINUSMA "até ao final de 2023, o mais tardar".

No início desta semana, o Reino Unido e a Costa do Marfim anunciaram que se retirariam da missão. O Egito retirou as suas tropas no início deste ano, enquanto a Suécia anunciou a saída das suas forças até junho de 2023.

A missão oficial dos mais de 15.000 capacetes azuis da ONU é garantir a autoridade do Estado em todo o território do Mali. Estima-se que o Governo central controle - de facto - apenas 15% do país, contribuindo para que vastas áreas do deserto do Mali se transformem em zonas de refúgio para grupos terroristas e criminosos armados.

Mali: Um "vassalo da Rússia"?

No seio do Governo de coligação na Alemanha, constituído por sociais-democratas, verdes e liberais, os ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa têm opiniões diferentes sobre se a Bundeswehr deveria permanecer ou sair do Mali. As tropas alemãs são um dos maiores contingentes dentro da MINUSMA e o maior de qualquer nação ocidental.

A chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, do partido "Os Verdes", prefere que os até 1.400 soldados da Bundeswehr permaneçam no Mali.

"Se a maior parte das regiões do Mali caírem nas mãos de islamistas radicais, se as raparigas deixarem de poder frequentar a escola ou se todo o Mali se tornar vassalo da Rússia, também sentiremos o impacto na Europa", alertou Baerbock em entrevista ao jornal alemão "Bild am Sonntag", no final de agosto.

Chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, no Mali
Ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, no Mali, rodeada por soldados alemãesFoto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

A Rússia tornou-se um aliado próximo do Governo militar do Mali, sobretudo desde a retirada das tropas francesas do país e desde o fim da força Takuba, da União Europeia, e da Operação Barkhane, da França, lançada em 2013 para combater a insurgência terrorista.

Armas e mercenários russos 

O ministro da Defesa do Mali, Sadio Camara, saudou a "parceria win-win" entre o Mali e a Rússia, ou seja, em que ambos os países ficam a ganhar. Lembrou também que as Forças Armadas malianas ficaram muito agradecidas ao Kremlin após terem recebido mais um lote de aviões e helicópteros de combate, fabricados na Rússia, em agosto.

Cerca de 1.000 mercenários do grupo Wagner, uma empresa militar privada russa financiada por um oligarca próximo ao Presidente Vladimir Putin, também estão no Mali, operando ao lado de tropas malianas. Segundo estimativas de um general norte-americano, os serviços dos mercenários russos no Mali deverão render ao grupo Wagner cerca de 10 milhões de dólares por mês.

Os mercenários Wagner foram acusados de envolvimento em pelo menos seis massacres desde março, de acordo com uma investigação do Wall Street Journal.

Soldados alemães no Mali
Vários países ocidentais já decidiram retirar os seus soldados da MINUSMA. Agora, é a vez da Alemanha decidir o que fazerFoto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler

Ministério alemão da Defesa admite clima de tensão

Há vários meses que a ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, do partido social-democrata, tem manifestado "dúvidas" quanto à vontade do Presidente interino maliano, Assimi Goïta, que chegou ao poder na sequência de um golpe, de cooperar com a comunidade internacional e, em especial, com a Alemanha.

Em meados de agosto, o Ministério da Defesa alemão suspendeu a maioria das suas operações durante quase quatro semanas, depois do Governo militar de Bamako ter negado repetidamente os direitos de sobrevoo à missão de paz da ONU.

"A Alemanha só pode cumprir a sua missão de forma limitada, já que os voos de reconhecimento militar são frequentemente cancelados ou atrasados pelo Governo maliano", disse um porta-voz do Ministério da Defesa alemão, adiantando que os "drones" de reconhecimento alemães não podem voar desde 11 de outubro, porque o Governo maliano não concedeu as autorizações de voo necessárias.

Ornella Moderan, especialista em questões ligadas ao Sahel, do Instituto Clingendael, um centro de pesquisa independente com sede na Holanda, disse à DW que, desde o fim das operações Barkhane e Takuba, o Governo do Mali parece estar deliberadamente a criar pretextos para que as tropas estrangeiras saiam voluntariamente.

Dessa forma, o regime do Mali pode "expulsar a MINUSMA sem exigir explicitamente a retirada da missão", afirma.

Em declarações à DW, uma fonte do Governo alemão adiantou que as autoridades do país tomarão uma decisão final sobre o destino da participação da Alemanha na MINUSMA nas próximas duas semanas. O Parlamento alemão terá que aprovar a decisão antes que ela possa entrar em vigor.

O atual mandato da Bundeswehr no Mali expira no final de maio e contém uma cláusula de retirada, caso a segurança dos soldados alemães no Mali, por algum motivo, deixe de estar garantida.

Bob Barri contribuiu para este artigo.

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