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Maus tempos se adivinham para setor empresarial em Angola

Mil-Homens, Francisca14 de outubro de 2013

O setor privado angolano vai enfrentar um "clima empresarial adverso" por causa da falta de reformas e do estrangulamento proveniente do setor público, prevê a Economist Intelligence Unit no relatório Economic Overview.

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De acordo com a análise feita pelos técnicos da Economist Intelligence Unit o sector privado angolano vai viver "um ambiente empresarial adverso" num futuro próximo.

A motivar este clima, está a falta de reformas e a taxa de câmbio sobrevalorizada que veio restringir os investimentos "fora da área dos hidrocarbonetos e da construção", áreas que geram grande parte do capital angolano.

O setor privado vai sentir dificuldades no seu desenvolvimento devido "ao estrangulamento pelo serviço público, pelo sistema judicial com falhas, pela regulação ineficaz e pela corrupção", le-se no documento.

Mas outros problemas se levantam agora para a economia angolana. A emissão de dívida pública e a abertura da bolsa de valores foram adiadas, notícias que se revelam "frustrantes" para os investidores.

Segundo o relatório, este adiamento da emissão de dívida pública de mil milhões de dólares, prevista para este ano e adiada agora para 2014, "não ajuda Angola a melhorar a imagem de um país manchado pela corrupção e má gestão financeira".

No documento, revela-se que as autoridades dizem estar "empenhadas na transparência e responsabilização, mas os adiamentos de mudanças do Executivo angolano sugerem o contrário".

Apostas para além do petróleo

Pat Thaker, diretora do departamento do Médio Oriente e África do Economist Intelligence Unit, diz que é essencial apostar mais do que no setor petrolífero: "Por duas razões: porque é importante criar diversidade e porque é essencial criar postos de trabalho. E o setor petrolífero não cria postos de trabalhos."

Para a colaboradora da instituição o Governo sabe que tem que criar postos de trabalho no setor formal porque eles vão assegurar a regulação do setor económico não regulamentado do petróleo, nos próximos anos e agumenta: "E sabe o que tem de fazer para garantir a qualidade e ao mesmo tempo para aumentar a receita de imposto para o tesouro nacional."

Desdramatizando a situação

Estas notícias podem fragilizar a estrutura financeira do país, segundo o relatório. Contudo, a analista portuguesa Paula Gonçalves Carvalho acha que o atraso na abertura do mercado de capitais não é um grande impedimento ao sucesso financeiro angolano.

Paula Gonçalves Carvalho diz que Angola está dependente sim, de uma aposta direcionada para a formação de capital humano que se torne mais tarde, o suporte de um setor privado forte.

Para a economista o cenário traçado pelo Economist Intelligence Unit é demasiado pessimista e diz que não considera o passado recente angolano: "Angola tem um historial do período de estabilidade depois do conflito ainda muito curto. Foi tudo feito talvez com alguma falta de planeamento porque estava tudo por fazer e porque havia uma situação de emergência que era preciso responder."

Mas um alerta foi deixado por Paula Gonçalves Carvalho: "Neste momento Angola encontra-se numa fase crucial, em que, tudo tem que ser muito bem pensado, os recursos têm que ser muito bem utilizados e canalizados para setores chave que vão sustentar o desenvolvimento no futuro. Tentando sempre diversificar a economia para além do sector petrolífero."

Do ponto de vista da política externa, Angola vai continuar a apostar nos parceiros estratégicos como China, Portugal e Estados Unidos da América. O relacionamento com Portugal é referido no relatório e prevê-se que os fortes laços continuem, apesar de estar a decorrer "uma investigação judicial em Portugal sobre a alegada lavagem de dinheiro angolano".

Investimentos não tem nacionalidade

O Governo português continua ainda assim ansioso por atrair investimento angolano mas não só, como explica a analista Paula Carvalho: "Portugal neste momento, está a precisar de investimento direto estrangeiro. É um dos fatores essenciais para potenciar o sucesso do atual plano de ajuda externo."

Os capitais angolanos deverão ser encarados como capitais de outra qualquer nacionalidade, considera a economista portuguesa que opina: "Deverá sujeitar-se a determinadas normas é certo, que são independentes da origem da nacionalidade dos capitais."

A análise dos técnicos também incide no panorama político, considerando que o Presidente José Eduardo dos Santos, eleito no ano passado, pode manter-se no cargo até 2022 devido a uma alteração constitucional.

Lê-se no relatório que "O presidente está no centro de uma vasta rede de favores, mediando de forma exímia os conflitos de interesse, quer a nível nacional, quer dentro do seu partido, cimentando assim a sua posição".

E por isto, assume-se no relatório que "o poder vai provavelmente continuar centralizado no círculo presidencial", o que para Pat Thaker é uma má notíca: "Quando se tem o poder concentrado numa ou duas pessoas e elas dominam todas as decisões políticas e económicas, não é bom. Quando um líder ou um partido individual detem o poder por diversos anos no mesmo país, pode criar um vácuo político quando ocorre uma mudança no país."

Contudo, os peritos prevêm que graças ao crescente descontentamento sobre as condições de vida, particularmente dada a riqueza do país através do petróleo, que o Presidente José Eduardo dos Santos tente "aumentar o acesso aos serviços básicos, como saúde, saneamento, água potável e imobiliário adequado", para limitar ameaças à sua continuidade no poder, lê-se no relatório.