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Criminalidade

Ibraimo Mbaruco: Três meses depois, onde está o jornalista?

Delfim Anacleto
7 de julho de 2020

A polícia ainda não tem pistas sobre a localização do jornalista da província moçambicana de Cabo Delgado. A família de Ibraimo Mbaruco fala em desespero. Segundo o MISA, trata-se de um "crime de rapto".

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Placa na estrada regional R762, em Cabo Delgado, Moçambique
Foto: DW/A. Chissale

As autoridades policiais ainda não têm pistas sobre o paradeiro de Ibraimo Mbaruco, jornalista da Rádio Comunitária de Palma, que desapareceu a 7 de abril, em circunstâncias ainda por esclarecer.

Esta terça-feira (07.07), completam-se três meses desde o desaparecimento. "Todas as informações que nós tínhamos já partilhámos com os meios de comunicação social e apelámos aos cidadãos honestos, caso tivessem informações do cidadão Mbaruco, que comunicassem às autoridades para que, se for o caso de resgate, as autoridades resgatem", disse o porta-voz do Comando Provincial da Polícia em Cabo Delgado, Augusto Guta.

"Se for um caso de informações, [apelamos] para que as autoridades possam seguir e trazer dados sólidos sobre o desaparecimento do senhor Mbaruco", acrescentou.

Augusto Guta diz ainda que continuam as diligências com vista ao esclarecimento do caso. "Nós estamos a monitorizar, a fazer um trabalho com vista à identificação do cidadão. É preocupação nossa também identificar, porque uma das nossas missões é garantir a integridade física de todo o povo moçambicano", sublinhou.

Mosambik Augusto Guta
Augusto GutaFoto: DW/D. Anacleto

Família em desespero

A família do jornalista está desesperada sem saber o que aconteceu a Ibraimo Mbaruco. "A família está triste e desesperada neste momento, e não sabe qual é o paradeiro do Ibraimo. Enfim, estamos tristes, só isso. Até este momento, ainda não sabemos o ponto de situação, se ainda vive ou não. Não sabemos de nada", afirmou Juma Mbaruco, irmão do jornalista desaparecido.

A esposa de Ibraimo Mbaruco, que vive em Palma, está grávida de mais um filho do casal. A sua sobrevivência tem sido "um martírio", conta o irmão do jornalista desaparecido.

"A esposa e o filho estão nas mãos de uma tia nossa. Ela é que está a sustentar, mas está a passar uma situação muito difícil", afirma.

Esquecimento

Estácio Valoi, fotojornalista baseado em Cabo Delgado, pergunta às organizações da sociedade civil por que motivo este assunto está a ser votado ao esquecimento, quando ainda não há esclarecimentos.

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"Eu acho que é um problema muito grave esta questão da normalidade do nosso anormal. É preciso que as pessoas não se esqueçam e continuem a fazer pressão de várias formas. E, se olharmos para as organizações da sociedade civil que estiveram envolvidas nesta pressão, são muitas, algumas ainda prevalecem, mas a dada altura todos ficam em silêncio", disse.

O fotojornalista, que também já esteve retido por militares, diz que episódios como este não devem servir para o reforço da função do jornalista.

"Não se pode viver do medo. A questão dos raptos, detenções, as ameaças que o jornalista vem sofrendo deviam servir como forma de catapultar o jornalista para o seu maior engajamento e envolvimento no seu trabalho", afirma.

Numa nota de imprensa enviada à DW África, o Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA-Moçambique) diz que o desaparecimento de Ibraimo Mbaruco se enquadra nos casos de violações dos direitos humanos que têm sido reportados na província de Cabo Delgado, afetada por um conflito armado.

Segundo a organização, "existem elementos bastantes que indicam não se tratar de um simples desaparecimento, mas sim de um crime de rapto contra o jornalista".

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