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Guerra no Iraque: No princípio era a mentira

Matthias von Hein | ad
10 de abril de 2018

Regime de Saddam Hussein foi derrubado há 15 anos pelos EUA e os seus aliados. Muitas perguntas sobre a guerra no Iraque continuam sem resposta. Uma das coisas que sabemos é que a invasão ao país foi baseada em mentiras.

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Foto: picture alliance/AP Photo

As imagens da estátua de Saddam Hussein a ser derrubada, em Bagdade, difundidas pelos jornais e pela televisão, ficaram registadas na memória coletiva. Foi a 9 de abril de 2003, quase três semanas depois do início da invasão ao Iraque, liderada pelos Estados Unidos da América.

Até hoje, não se sabe ao certo quantas pessoas morreram na guerra. A maioria das fontes estima que o número de vítimas ronda os 150 mil a meio milhão de pessoas. Em 2006, a revista médica britânica "The Lancet" estimou mais de 650 mil "mortes adicionais", não só em resultado da violência, mas também do colapso das infraestruturas e do sistema de saúde.

O que sabemos de certeza é que a guerra foi justificada com mentiras. A 5 de fevereiro de 2003, o secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, discursou no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Seis semanas antes do início da guerra, Powell passou 76 minutos a tentar influenciar a opinião pública internacional a aprovar a guerra. E o chefe da diplomacia dos EUA alegou que Saddam Hussein possuía armas biológicas e químicas de destruição maciça; que o regime de Hussein apoiava o terrorismo internacional e pretendia construir armas nucleares.

USA Präsentation UN-Sicherheitsrat Colin Powell, 2003 | angebliche Beweise Waffen-Produktion
Diapositivo da apresentação de Colin Powell ao Conselho de Segurança, em 2003Foto: state.gov

"Laboratórios móveis de armas químicas"

O discurso de Powell culminou numa acusação, apoiada por ilustrações detalhadas, de que o Iraque havia convertido uma frota de camiões em laboratórios móveis de armas químicas e biológicas para fugir ao controlo dos inspetores das Nações Unidas. Mais tarde, todas essas afirmações foram dadas como falsas. Em 2005, o próprio secretário de Estado norte-americano descreveu o discurso como uma mancha na sua carreira.

"Os dados não estavam errados. Eram, sim, fraudulentos - e eles sabiam disso", afirma Ray McGovern, um veterano dos serviços de segurança. McGovern trabalhou na Agência Central de Inteligência (CIA) durante 27 anos, ocupando inclusive lugares de topo. Em 2003, ele e outros colegas da CIA e de outros serviços de inteligência fundaram a organização Veteran Intelligence Professionals for Sanity (VIPS), que analisa de forma crítica as políticas dos EUA.

"Curveball"

Afinal, o que esteve na origem dos dados apresentados por Colin Powell? Em 1999, um químico iraquiano, de nome Al-Janabi, chegou à Alemanha como refugiado e os serviços secretos alemães interrogaram-no, para recolher informações sobre supostas armas de destruição maciça de Saddam Hussein. Al-Janabi – a quem foi atribuído o nome de "Curveball" – percebeu, porém, que o seu estatuto pessoal ia melhorando conforme a quantidade de informações que revelava. E chegou a receber um passaporte alemão, dinheiro e uma casa.

Guerra no Iraque: No princípio era a mentira

O esquema continuou até que o serviço de inteligência alemã descobriu que tudo não passava de mentiras. Mesmo assim, os EUA mostraram interesse renovado nas declarações de "Curveball", que incriminavam Saddam Hussein, após o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque.

Apesar das dúvidas em relação ao testemunho de al-Janabi, cujas informações nunca foram confirmadas pela Alemanha, ele tornou-se crucial na propaganda de Colin Powell para justificar a guerra no Iraque.

"Eles não se importavam se al-Janabi sabia do que estava a falar", afirma Ray McGovern. "O que eles tinham era algo que eles poderiam colocar numa pasta e depois, entregá-la a profissionais, muito criativos, da CIA, e eles, por sua vez, poderiam construir os esboços desses laboratórios de armas químicas móveis inexistentes. Coisa que veio a acontecer e que o Colin Powell usou durante o seu discurso."

Apoio de outros países

O então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, quis juntar-se aos EUA para criar uma "relação especial" com os americanos. E a Alemanha também viria a participar na invasão ao Iraque, de forma indireta.

Segundo o analista alemão Björn Schiffbauer, fui uma guerra que "violou o direito internacional, por parte dos Estados Unidos e dos aliados".

Após 24 anos no poder, Saddam Hussein morreu a 30 de dezembro de 2006. Um tribunal especial iraquiano condenou Hussein por crimes contra a humanidade e sentenciou-o à morte. Morreu enforcado, aos 69 anos de idade.

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