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FRELIMO "assina por baixo" da intolerância política

5 de outubro de 2023

Edson Cortez, do Mais Integridade, culpa partido no poder por intolerância em Moçambique e mostra-se preocupado com o que pode acontecer nas autárquicas, com a PRM "a defender a todo o custo os interesses da FRELIMO".

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Foto de arquivo: Em agosto, o MDM culpou a FRELIMO por confrontos entre simpatizantes dos dois partidos, na cidade da Beira, e acusou a polícia de partidarismoFoto: Arcénio Sebastião/DW

Em Moçambique, correu nas redes sociais um vídeo em que alegados membros da FRELIMO pisam camisetas de um dos partidos da oposição, o MDM. No vídeo, uma das pessoas diz que "só vai permanecer e reinar a FRELIMO em Homoíne", um distrito na província de Inhambane.

A Comissão Nacional de Eleições diz que este é claramente um "ilícito eleitoral, que tem de ser punido", mas o episódio voltou a destapar várias dúvidas sobre este processo eleitoral.

Em declarações à DW África, Edson Cortez, o presidente do consórcio Mais Integridade, composto por sete organizações moçambicanas, manifesta-se preocupado com o que pode acontecer nestas autárquicas. Cortez afirma ainda que a culpa do atual clima de intolerância política no país é do partido no poder, a FRELIMO.

Roque Silva
Roque SilvaFoto: Roberto Paquete/DW

DW África: O que é que acha deste episódio em Homoíne? É um alerta vermelho para estas eleições?

Edson Cortez (EC): Eu acho que é o modus operandi da FRELIMO. No início da campanha, o secretário-geral da FRELIMO, o senhor Roque Silva, andou pelos municípios que são governados pela oposição e o seu discurso era a mostrar que estes municípios deviam ser punidos ou que as pessoas eram idiotas - uso mesmo esse termo - por terem votado e escolhido a oposição para os governar. E lembro-me que o secretário-geral da FRELIMO disse que 'esses presidentes de municípios que reclamam do Fundo de Compensação Autárquica afinal pensavam que governavam e precisavam de dinheiro? Não, se eles vão governar, devem pensar eles próprios em gerar o dinheiro'.

O problema de Moçambique é que a FRELIMO pensa que, por alguma razão, tem o direito consagrado não sei onde - não pela Constituição - de governar Moçambique. Infelizmente, a FRELIMO tem sido um partido que nos últimos anos tem alistado para as suas fileiras gente ignorante, gente sem escrúpulos, que unicamente vê os seus próprios benefícios. É este tipo de pessoa que vê um secretário-geral do partido que não faz e simplesmente reproduz.

FRELIMO "assina por baixo" da intolerância política

DW África: Que implicações pode ter este episódio para o resto do processo eleitoral?

EC: Nós estamos nas sextas eleições autárquicas deste país e já deveríamos ter percebido, como nação, que precisamos de aceitar a diversidade política e ter respeito, tolerância democrática. Temos de aceitar a diversidade de opiniões. Mas a FRELIMO continua a incitar [à intolerância], a partir do topo - que até agora não disse nada publicamente sobre o comportamento daqueles membros. Não tendo dito nada, quer dizer que compactua e assina por baixo daquele comportamento intolerante.

DW África: Face a esta intolerância política que descreve, há razões para temer o dia das eleições ou o pós-eleições?

EC: Obviamente tememos o dia das eleições. Num cenário em que os meios de comunicação internacionais em Moçambique, quando a RENAMO assinou o DDR [processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração dos ex-guerrilheiros do partido], disseram que seria a primeira vez que o país teria uma eleição sem partidos armados. Mas nós, em Moçambique, achamos que isso não é verdade. Isso é uma narrativa construída pela imprensa internacional. Temos uma eleição onde haverá um partido que tem direito a armas, que é o partido FRELIMO e a Polícia da República de Moçambique, que irá defender a todo o custo os interesses desse partido.

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