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Deputados da UNITA continuam retidos à entrada de Cafunfo

Lusa
4 de fevereiro de 2021

Em Angola, cinco deputados da UNITA e dois ativistas impedidos de entrar na vila de Cafunfo disseram à DW África que estão há 72 horas sem comer, muito debilitados e cercados pela Polícia de Intervenção Rápida.

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Angola Proteste in Luanda
Foto: Borralho Ndomba/DW

O objetivo da delegação do maior partido da oposição de Angola era investigar os incidentes em Cafunfo, ocorridos no último sábado (30.01), e caraterizados como um "massacre" por organizações não-governamentais. Entretanto, foram detidos a quatro quilómetros do local, no meio de uma mata.

Em entrevista à DW África, o líder da delegação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), o deputado Joaquim Nafoia, relatou esta tarde, a partir da mata, o tratamento a que foram sujeitos.

"Estamos preocupados com a forma como estamos a ser tratados, como se fôssemos criminosos. Até eles têm direito à alimentação, água e merecem acesso à casa de banho, e esse não é o nosso caso", desabafou.

Violação dos direitos humanos

O líder da delegação acrescentou que, desde ontem, não têm acesso à rede telefónica da UNITEL e não comem ou bebem. "Eu sou daqui, mas impediram a minha irmã de trazer-nos a comida e ela teve que voltar", explicou Nafoia.

A delegação afirma que se trata de uma "violação grosseira dos direitos humanos". Segundo Joaquim Nafoia, os deputados e ativistas já não têm forças para voltar à cidade de Malanje porque estão debilitados fisicamente.

Angola | gewaltsamer Polizeieinsatz während einer Demonstration des Lunda Tchokwe Protectorate Movement
Foto: Movimento do Protectorado Lunda Tchokwe

"Não há rações para regressarmos a Malanje. É preciso que haja motivos devidamente fundados que nos convençam. Ninguém nos consegue dizer porque é que não podemos voltar", disse.

"Massacre" e "genocídio"

Joaquim Nafoia acrescenta que não se pode aceitar a situação apenas "porque há ordens superiores, que passam acima da Constituição e das leis", argumenta. O parlamentar acredita que, com esta ação, o Governo está a esconder algo.

"Houve massacre e genocídio e nós acabamos por dar razão às pessoas que acham que o número de mortes não são seis pessoas [como avançaram as autoridades]", disse Nafoia.

Segundo ele, as imagens que aparecem mostram que há muito mais. Mas "eles têm medo que a população nos diga a verdade, por isso as ruas continuam militarizadas", explica. "O Governo está a esconder o massacre em massa que cometeu e, por isso, estão a impedir-nos de chegar à vila de Cafunfo", acrescentou.

O chefe da delegação da UNITA responsabiliza o Governo pela integridade física dos membros e pelo que venha acontecer. Entretanto, o grupo parlamentar deste partido insta a comunidade internacional e os angolanos a indagarem o Presidente de Angola, João Lourenço, sobre o nível de intolerância no país.

Sem citar nomes, o ministro do Interior de Angola, Eugénio Laborinho, criticou na quarta-feira (03.02) a presença de deputados da oposição em Cafunfo, questionando a razão da sua presença no local. Segundo o mesmo, um partido político com assento parlamentar, para sair, tem que ser autorizado pelo presidente da Assembleia Nacional e também "mencionar o motivo que os faz deslocar para esta determinada posição, município, comuna, aldeia". 

"Sair ilegalmente em busca de quê? Confusão? Se alguém saiu, saiu ilegalmente", argumentou Eugénio Laborinho.

A polícia angolana dá conta de que cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende a autonomia daquela região, rica em recursos minerais, concretamente diamantes, tentaram invadir, no sábado, uma esquadra policial e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas. 

A versão policial é contrariada pelos dirigentes do MPPLT, partidos políticos na oposição e pela sociedade civil local, que falam em mais de uma dezena de mortos. 

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