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Cabinda: "Estamos a viver num país autoritário"

Simão Lelo
21 de maio de 2022

Uma conferência para debater a paz em Cabinda foi impedida de se realizar pela segunda vez. A polícia cercou a unidade hoteleira onde teria lugar alegando que receberam "ordens superiores".

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Angola
Ativistas e membros da sociedade civil Foto: Simão Lelo/DW

Pela segunda vez consecutiva, a ONG OMUNGA, em parceria com a Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH), viu impedida a realização da Conferência sobre a Reflexão da Paz em Cabinda, agendada para este sábado (21.05).

No local, a polícia montou uma operação, com mais de vinte agentes, que cercou a unidade hoteleira que seria palco do encontro, impedindo assim a entrada dos participantes e da organização, e alegando que tinham recebido "ordens superiores" e só as estavam a cumprir.

O padre Celestino Epalanga, secretário-geral da Comissão de Justiça e Paz, afeto à igreja Católica, lamenta o sucedido. 

Padre Celestino Epalanga
"Sairei daqui com a impressão de que Cabinda não é Angola", padre Celestino Epalanga Foto: B. Ndomba/DW

"Em Cabinda há jovens, homens e mulheres que querem exercer a sua cidadania, mas vemos sempre ordens superiores, que acabam por impedir as atividades deste género. A ser assim, sinceramente, sairei daqui com a impressão de que Cabinda não é Angola", sublinhou.

Dececionado com a não realização da conferência, questiona se é crime falar de paz numa região onde ainda há bastante violação dos direitos humanos.

"Infelizmente dessa maneira nos impedem de cumprir com a nossa missão. Agora não sei se falar de paz é um crime. O que querem as autoridades locais? Que falemos da guerra?", questiona.

"Angola ainda está em guerra"

"Estou bastante triste, primeiro porque não esperava isso, pois acreditava que em 2022 Angola seria um pouco diferente”, lamentou o reverendo Ntony A Nzinga, também convidado. 

Em declarações à DW África, Ntony A Nznga, diz ainda que não se pode falar de paz em Angola quando, em Cabinda, o povo vive reprimido e impedido de exercer a sua cidadania.  

"Angola ainda está em guerra, porque enquanto todo o espaço que chamamos de Angola não tiver a mesma liberdade de viver, falar e fazer como acontece em outros pontos do país, consideramos não existir a paz de que se fala", justificou.

 João Malavindele, diretor executivo da OMUNGA
"infelizmente vemos que a figura ‘ordem superior' em Cabinda ainda é muito visível e patente", João MalavindeleFoto: Borralho Ndomba/DW

Organização repudia ação das autoridades 

Os organizadores da conferência lamentaram a situação recordando também que há custos implicados.

O coordenador da Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH), Alexandre Nkuanga Nsito, sublinhou que "as organizações sentem-se bastante prejudicadas, porque é a segunda vez que tudo falha".

Já o diretor executivo da OMUNGA, João Malavindele, denuncia "a violação do direito de reunião".

"Nós somos uma organização legalmente constituída e infelizmente vemos que a figura ‘ordem superior' em Cabinda ainda é muito visível e patente. Faz-nos perceber que estamos a viver num país altamente autoritário e não podemos considerar isso como democracia".

Além da polícia local - que alega que cumpriram "ordens superiores” - as autoridades da província não prestaram quaisquer declarações aos órgãos de Comunicação Social em Cabinda sobre o ocorrido.

Entre os convidados da conferência estavam outros nomes como Arão Bula Tempo e Belchor Lanzy Taty.

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