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Uma conferência para debater a paz em Cabinda foi impedida de se realizar pela segunda vez. A polícia cercou a unidade hoteleira onde teria lugar alegando que receberam "ordens superiores".
Pela segunda vez consecutiva, a ONG OMUNGA, em parceria com a Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH), viu impedida a realização da Conferência sobre a Reflexão da Paz em Cabinda, agendada para este sábado (21.05).
No local, a polícia montou uma operação, com mais de vinte agentes, que cercou a unidade hoteleira que seria palco do encontro, impedindo assim a entrada dos participantes e da organização, e alegando que tinham recebido "ordens superiores" e só as estavam a cumprir.
O padre Celestino Epalanga, secretário-geral da Comissão de Justiça e Paz, afeto à igreja Católica, lamenta o sucedido.
"Em Cabinda há jovens, homens e mulheres que querem exercer a sua cidadania, mas vemos sempre ordens superiores, que acabam por impedir as atividades deste género. A ser assim, sinceramente, sairei daqui com a impressão de que Cabinda não é Angola", sublinhou.
Dececionado com a não realização da conferência, questiona se é crime falar de paz numa região onde ainda há bastante violação dos direitos humanos.
"Infelizmente dessa maneira nos impedem de cumprir com a nossa missão. Agora não sei se falar de paz é um crime. O que querem as autoridades locais? Que falemos da guerra?", questiona.
"Estou bastante triste, primeiro porque não esperava isso, pois acreditava que em 2022 Angola seria um pouco diferente”, lamentou o reverendo Ntony A Nzinga, também convidado.
Em declarações à DW África, Ntony A Nznga, diz ainda que não se pode falar de paz em Angola quando, em Cabinda, o povo vive reprimido e impedido de exercer a sua cidadania.
"Angola ainda está em guerra, porque enquanto todo o espaço que chamamos de Angola não tiver a mesma liberdade de viver, falar e fazer como acontece em outros pontos do país, consideramos não existir a paz de que se fala", justificou.
"infelizmente vemos que a figura ‘ordem superior' em Cabinda ainda é muito visível e patente", João Malavindele
Os organizadores da conferência lamentaram a situação recordando também que há custos implicados.
O coordenador da Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ADCDH), Alexandre Nkuanga Nsito, sublinhou que "as organizações sentem-se bastante prejudicadas, porque é a segunda vez que tudo falha".
Já o diretor executivo da OMUNGA, João Malavindele, denuncia "a violação do direito de reunião".
"Nós somos uma organização legalmente constituída e infelizmente vemos que a figura ‘ordem superior' em Cabinda ainda é muito visível e patente. Faz-nos perceber que estamos a viver num país altamente autoritário e não podemos considerar isso como democracia".
Além da polícia local - que alega que cumpriram "ordens superiores” - as autoridades da província não prestaram quaisquer declarações aos órgãos de Comunicação Social em Cabinda sobre o ocorrido.
Entre os convidados da conferência estavam outros nomes como Arão Bula Tempo e Belchor Lanzy Taty.