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MédiaCamarões

Camarões: Jornalista crítico Martinez Zogo encontrado morto

Moki Kindzeka | Martina Schwikowski | ns
24 de janeiro de 2023

Jornalistas camaroneses exigem mais proteção e investigações imediatas após o corpo mutilado de Martinez Zogo, um popular animador de rádio que estava desaparecido, ter sido encontrado numa fase avançada de decomposição.

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Foto: ADRIEN MAROTTE/AFP/Getty Images

O corpo mutilado de Martinez Zogo foi encontrado no domingo (22.01) em Soa, um bairro perto da capital Yaounde, cinco dias após ter sido raptado por indivíduos ainda por identificar.

Na segunda-feira (23.01), a voz de Martinez Zogo foi novamente ouvida nas estações de rádio dos Camarões. Em memória do popular apresentador de rádio, muitas estações transmitiram o que o jornalista disse aos líderes corruptos antes da sua morte: "A única coisa que podem fazer é matar-me. Há muito deixa andar no país de Paul Biya e todos estão atentos porque os camaroneses têm medo."

No último mês, Zogo relatou diariamente que tinha documentos que provavam que alguns altos funcionários do Estado roubaram vários milhões de dólares dos cofres públicos desde 2013.

O jornalista disse ter enviado ao Presidente dos Camarões, Paul Biya, provas daquilo a que chamou a "alta onda de desvio de fundos e corrupção", envolvendo uma organização local dos meios de comunicação social.

Contou ainda que recebia diariamente ameaças de morte de pessoas que, segundo o jornalista, estavam envolvidos no escândalo de corrupção.

O porta-voz do governo dos Camarões, René Emmanuel Sadi, disse num comunicado divulgado na segunda-feira que as primeiras investigações indicam que o repórter foi torturado pelos seus assassinos e descreveu o assassinato como "bárbaro, inaceitável, e indiscutível". 

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Foto: -/AFP via Getty Images

Jornalistas em choque

A sua morte provocou ondas de choque entre os jornalistas camaroneses, que exigem mais proteção. Ndi Eugene Yaounde, presidente da Associação Camaronesa de Jornalistas de língua inglesa, diz que os repórteres receiam trabalhar nos Camarões.

"Precisamos de muita proteção das autoridades, da família, dos amigos. A memória da morte brutal de Samuel Wazizi está ainda muito fresca na mente dos profissionais dos media nos Camarões", recorda.

O jornalista Samuel Wazizi morreu sob custódia policial em 2019, após ter criticado frequentemente o governo sobre as suas políticas e insurreições separatistas no sudoeste dos Camarões.

"Os jornalistas não devem ser atacados, devem ser autorizados a fazer o seu trabalho de forma livre e justa num país que se orgulha de ser uma democracia", defende Ndi Eugene Yaounde.

Patrick Mua, repórter do jornal Guardian Post Newspaper, diz que está pronto para fazer o seu trabalho como jornalista, mas diz que também precisa de protecção.

"A brutal matança do jornalista Martinez Zogo deixou-me devastado. É uma morte demasiado brutal. É lamentável que os jornalistas se tenham tornado alvos especialmente de políticos e pessoas que pensam que os jornalistas não devem exercer as suas funções como é suposto", lamenta.

"Estou em pânico porque ninguém sabe exactamente quem vai ser o próximo. As autoridades devem intervir e assegurar que os perpetradores do crime hediondo paguem pelos seus crimes", apelou Patrick Mua.

O conhecido jornalista e ativista camaronês Jean Bruno Tagne disse que o assassinato de Martinez Zogo indica que a imprensa está abafada e sob ameaça nos Camarões.

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