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Criminalidade

Enfermeiro admite ter morto 100 pacientes e choca Alemanha

Lusa | EFE | Johannes Beck
30 de outubro de 2018

Na maior série de assassinatos na Alemanha dos últimos 70 anos, o enfermeiro Niels Högel admitiu ter morto cem pacientes. Por causa do caso vieram à tona falhas no controlo de qualidade em vários hospitais alemães.

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Prozessauftakt gegen ehemaligen Krankenpfleger
Niels Högel em tribunal (foto de 2014)Foto: picture-alliance/dpa/Carmen Jaspersen

O enfermeiro Niels Högel assumiu nesta terça-feira (30.10), durante a abertura do seu julgamento na Alemanha, ter morto 100 pacientes. Depois de um minuto de silêncio pelas vítimas e da leitura da acusação, o tribunal questionou Högel se as acusações que pesam contra ele estavam corretas. "Sim", respondeu o enfermeiro em voz baixa, antes de acrescentar de forma estranha que aquilo que confessou "aconteceu".

Segundo a acusação, durante cinco anos, primeiro no hospital de Oldenburg e depois no município vizinho de Delmenhorst, ambos no estado da Baixa Saxônia no norte da Alemanha, Niels Högel injetou intencionalmente drogas em pacientes para causar paragem cardíaca antes de tentar as manobras de ressuscitação.

Os seus motivos: o seu desejo de brilhar diante dos seus colegas mostrando as suas habilidades de ressuscitação e também o "tédio", de acordo com o Ministério Público. Como a ressuscitação falhou muitas vezes, as drogas injetadas como Ajmalina, Sotalol e Lidocaína causaram a morte de cem pessoas.

Investigações profundas apenas após pressão de familiares

As famílias das vítimas querem que a justiça seja feita e encerrar o seu luto, mas também entender como o enfermeiro foi capaz de matar, entre 2000 e 2005, nos hospitais onde trabalhou sem que os funcionários, a polícia ou a justiça percebesse e reagisse. Há fortes indícios que os hospitais envolvidos poderiam ter travado a série de assassinatos, se tivessem investigado de uma forma mais ativa as causas da alta taxa de mortalidade durante os turnos do enfermeiro.

O ex-enfermeiro escolheu arbitrariamente as suas vítimas, com idades entre 34 e 96 anos. A investigação psiquiátrica revelou que o acusado sofre de distúrbios narcisistas e ainda de pânico da morte. Até agora, Niels Högel nunca expressou um verdadeiro remorso e, de acordo com reclusos com quem convive, o ex-enfermeiro está satisfeito em ser o maior criminoso desde a última guerra na Alemanha.

Klinikum Delmenhorst
Hospital de Delmenhorst: 64 dos 100 assassinatos ocorreram aquiFoto: picture-alliance/dpa/Ingo Wagner

Já foi condenado em dois processos anteriores

Após ser surpreendido em 2005 a injetar um medicamento sem receita médica num paciente em Delmenhorst, Niels Högel foi condenado em 2008 a sete anos de prisão por tentativa de homicídio.

Um segundo julgamento ocorreu entre 2014 e 2015, sob pressão de familiares das vítimas. Högel foi condenado por assassínio e tentativa de assassínio de outras cinco pessoas e, desta vez, foi-lhe aplicada a prisão perpétua. O acusado descreveu, neste segundo julgamento, a tensão que vivia em torno do que poderia acontecer quando injetava os remédios nos pacientes, o quão bem se sentia quando conseguia reanimá-los e o quão deprimido ficava quando eles morriam.

Na altura, a dimensão dos seus crimes ainda não foram conhecidos na totalidade. Após a segunda condenação e por mais pressão de familiares foram exumados muitos corpos de pessoas que morreram em circunstâncias pouco claras nos dois hospitais onde Högel trabalhou. Os investigadores estenderam a sua busca e realizaram mais de 134 exumações de acordo com o Hospital de Oldenburg.

Eventualmente até 200 vítimas do pior "serial killer" da Alemanha dos últimos 70 anos

Deutschland Friedhof in Delmenhorst (Niedersachsen)
Cemitério de Delmenhorst: aqui foram enterradas muitas vítimas de HögelFoto: picture-alliance/dpa/I. Wagner

O atual e terceiro julgamento envolve 64 assassínios em Delmenhorst e 36 em Oldenburg, mas Niels Högel ainda teria muitos segredos. Os investigadores estimam que o número real de vítimas possa ser mais de 200, mas é impossível provar porque muitos pacientes foram cremados. Apenas nos casos em que o corpo inteiro foi enterrado é possível detetar ainda restos das drogas injetadas por Högel.

Johannes Beck
Johannes Beck Chefe de redação da DW África
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