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Angola: Como resolver as crises que assolam o país?

Manuel Luamba
9 de maio de 2019

O Presidente João Lourenço afastou Carlos Saturnino da presidência da Sonangol face à crise dos combustíveis. Contudo há outros setores que tem mostrado deficiências e posto a nu a incapacidade do atual líder angolano.

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Diesel- und Benzinkrise in Angola
Foto: DW/M. Luamba

Carlos Saturnino foi exonerado do cargo de presidente da Sonangol na sequência da crise dos combustíveis que se vive desde domingo (05.5.) em Luanda. O chefe de Estado angolano, João Lourenço, disse que exonerou Saturnino e os outros membros do conselho de administração da petrolífera angolana por "conveniência de serviço público".

Angola: Reax ao afastamento de Saturnino

A iniciativa presidencial foi louvada por muitos. Mas há analistas que também criticam o facto de o "senhor que se segue" na chefia da Sonangol ter feito parte da gestão anterior. Sebastião Pai Querido Gaspar Martins era até agora o administrador executivo da petrolífera.

Especialistas apontam erros de governação

Cláudio Fortuna é investigador da Universidade Católica de Angola e diz que a atual presidência tem-se mostrado contraditória em relação ao que defende.

"O Presidente da República continua a carregar na sua equipa de especialistas em vícios do passado, os chamados 'marimbondos' e joga em contramão com os ideais que ele defendeu. Esse posicionamento vai dificultar de maneira significativa os seus grandes projetos. E em contrapartida o grau de insatisfação (popular) vai aumentando”.

A crise em Angola não é apenas no setor dos combustíveis. Estende-se aos setores dos transportes, energia elétrica e fornecimento de água. O país continua também com problemas de desemprego, criminalidade e défice de assistência humanitária às populações do sul de Angola, uma região assolada pela seca e pela fome.  

Adalberto Costa Júnior, líder parlamentar da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), diz que há uma "crise de governação".

Portugal Joao Lourenco angolanischer Präsident
Foto: DW/J. Carlos

"A crise nos vários setores da governação agudizou-se. O fornecimento de água insalubre a amplos extratos da população através dos sistemas canalizados do MPLA, originando inúmeros problemas de saúde tais como elevadas incidências de infeções urinárias, problemas de pele, surto de malária e febre tifóide, que aumentaram sobremaneira o recurso aos centros de saúde, atentando assim a saúde pública."

Crise em Huíla

Na província da Huíla, por exemplo, já foram registados mais de 100 mil casos de sarna, e as autoridades de saúde afirmam que não têm medicamentos suficientes para combater o surto. Na Lunda Sul, mais de 40 crianças morreram de sarampo, desde março.

Para o analista político angolano Agostinho Sicatu, as crises que o país atravessa são uma herança da governação anterior do Presidente José Eduardo dos Santos. E as soluções encontradas são paliativas - não resolvem os problemas pela raiz.

"Nós tivemos sempre um Governo de emergência, que tapa furos, e que espera sempre quando acontece alguma crise para dar a entender ao cidadão que está preocupado e quer resolver o problema, que está junto do povo. Faz parte de uma estratégia de populismo também. Porque quando o país está em crise está vulnerável, e quando o Executivo vem e resolve o problema no mesmo instante granjeia uma certa popularidade."

O politólogo diz ainda que os gestores públicos estão mais preocupados consigo próprios do que com o resto da população.

"Esses indivíduos não olham para o cidadão, o foco não é o cidadão. Aliás, não lhes interessa o cidadão para nenhum instante sequer. O que lhes interessa são os seus interesses pessoais e nunca tiveram interesses para a nação."

Por isso, Agostinho Sicatu defende que é preciso "sangue novo" no Executivo do Presidente João Lourenço.

"O melhor seria: mandar para a rua grande parte daquela gente que governou com José Eduardo dos Santos, porque não é boa gente. O próprio MPLA tem muitos quadros não aproveitados. A própria sociedade civil tem muitos quadros. (Aliás), não precisava da sociedade civil. Precisava só dele mesmo. Dentro de si tem muita gente subaproveitada e pode garantir uma melhor governação em relação à que nós assistimos hoje."