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Nilo Azul: Acordo à vista entre Egito, Sudão e Etiópia?

Lusa | Reuters | mjp
27 de junho de 2020

Após semanas de tensão, os três países acordaram retomar e concluir em breve as negociações sobre o megaprojeto. Etiópia quer encher barragem nas próximas semanas. Egito e Sudão temem impacto devastador no acesso a água.

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Äthiopien Grand Renaissance Damm
Foto: Reuters/t. Negeri

É uma disputa com várias décadas, mas que poderá chegar ao fim nas próximas semanas, com a ajuda da União Africana: é esta a esperança dos líderes do Sudão, da Etiópia e do Egito, os três países em divergência sobre a barragem hidroelétrica do Nilo Azul, uma das maiores do mundo e na qual foram investidos mais de quatro milhões de euros. 

Este sábado (27.06), a Etiópia – que está a construir a barragem – admitiu começar a encher a albufeira nas próximas duas semanas, dando tempo suficiente à conclusão das negociações. O anúncio surge horas depois dos líderes dos três países terem retomado as conversações visando um acordo sobre esta operação. "Foi neste momento conseguido um acordo final entre os três países sobre algumas das questões pendentes", informou em comunicado o gabinete do primeiro-ministro etíope.

O Egito e o Sudão tinham afirmado que a Etiópia não encheria aquela barragem no próximo mês sem antes ser alcançado um acordo.     

Um novo alento

Na manhã deste sábado, o Ministro da Água e Energia da Etiópia, Seleshi Bekele, confirmou que os países haviam acordado no decurso de uma cimeira da União Africana (UA), na sexta-feira, recomeçar as negociações e concluir um acordo sobre o megaprojeto no espaço de três semanas com o apoio da UA.  

O anúncio representou um novo alento depois de semanas de troca de acusações e de tensões crescentes sobre a Grande Barragem Etíope da Renascença, a maior de África, que a Etiópia prometeu começar a encher no início da estação chuvosa, em julho.

A Etiópia articulou as suas ambições de desenvolvimento sobre a colossal barragem, descrevendo-a como uma linha de vida crucial para retirar milhões de pessoas da pobreza. O Egito, que depende do Nilo em mais de 90% do seu abastecimento de água e que se debate com um elevado problema hídrico, teme um impacto devastador sobre uma população em expansão de 100 milhões de pessoas. Por seu lado, o Sudão, que também depende do Nilo para ter água, desempenhou um papel fundamental na união dos dois lados após o falhanço das negociações ocorridas em fevereiro e intermediadas pelos Estados Unidos.

Äthiopien Grand Renaissance Damm
Barragem do Nilo Azul é uma das maiores do mundoFoto: Reuters/t. Negeri

Apelos ao Conselho de Segurança da ONU

Numa entrevista este mês à Associated Press, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Etiópia, Gedu Andargachew, alertou que o seu país poderia começar a encher a albufeira da barragem de forma unilateral, após as conversações com o Egito e o Sudão terem falhado um acordo sobre a forma com seria feito o enchimento e sua operacionalidade.         

O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, sem dar mais detalhes, afirmou que os países "concordaram com um processo liderado pela UA para resolver situações pendentes". Os pontos de discórdia nas conversações foram a quantidade de água que a Etiópia libertará a jusante da barragem se ocorrer uma seca de vários anos e como a Etiópia, o Egito e o Sudão resolverão divergências futuras.

Tanto o Egito como o Sudão apelaram à intervenção do Conselho de Segurança das Nações Unidas na crise que há dura há alguns anos, ajudando os países a evitar uma crise. O Conselho de Segurança deve realizar uma reunião pública sobre o assunto na segunda-feira.  

A Etiópia não vê necessidade dessa intervenção e uma nova declaração do gabinete do primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed informou na reunião de sexta-feira que "resolveu notificar o Conselho de Segurança das Nações Unidas de que a União Africana reúne capacidade para resolver o assunto".

A declaração insta também os três países em conversações a "terminar a sua escalada de intervenções na comunicação social".   

Encher a albufeira da barragem sem acordo pode levar o impasse a um nível crítico e tanto o Egito como a Etiópia sugeriram medidas militares para proteger os seus interesses e especialistas temem que um colapso nas negociações possa levar a um conflito.

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