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A realidade agridoce das migrações intra-africanas

Mimi Mefo
20 de dezembro de 2021

A migração intra-africana registou um forte aumento entre 2008 e 2017, mas há histórias que revelam fragilidades destas situações. Migrantes que procuram melhores condições ou escapar a conflitos relatam maus tratos.

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Kamerunische Flüchtlinge im Tschad
Foto: Blaise Dariustone/DW

De acordo com a União Africana (UA), entre 2008 e 2017, a migração intra-africana teve um crescimento no número de migrantes que passou de 13 para 25 milhões. Ainda assim, as organizações advertem que as estatísticas contam uma história incompleta das vivências destas pessoas.

Rango Marzia é membro do Centro de Análise de Dados sobre Migração Global (GMDAC) da Organização Internacional para as Migrações (OIM) e afirma que "temos uma imagem muito incompleta das tendências recentes e do número de pessoas que se deslocam através dos países africanos".

Um relatório da OIM, de 2020, confirma que 80% dos africanos, respondendo a um inquérito de 2017, afirmaram não ter interesse em deixar o continente. Ainda assim, Marzia afirma que a migração continuará a aumentar e que antes da criação das fronteiras coloniais, os africanos se moviam dentro do continente e mais além.

Burkina Faso |  Siedlung für Binnenflüchtlinge
Campo de deslocados no Burkina FasoFoto: Giles Clarke/UNOCHA

"Há toda uma história de migrações dentro de África, particularmente entre países das mesmas regiões, como na África Ocidental e que não vemos nos principais meios de comunicação", afirma Rango Marzia.

As razões para este movimento maciço de pessoas através dos países africanos vão desde a economia até à necessidade de segurança. De acordo com Christian Kobla Kekeli Zilevu, inspetor assistente de Assuntos Públicos para imigração no norte do Gana "as pessoas deslocam-se entre países para sobreviver e também porque o seu lar não corresponde ao que anseiam".

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Migrantes discriminados pelos anfitriões 

Embora os números confirmem um aumento na migração entre países africanos, o tratamento de migrantes em alguns países lança uma sombra sobre as perspetivas de uma integração regional mais rápida.

Bissong, nome fictício dado para proteção da identidade, é um imigrante camaronês. Em entrevista à DW África, conta que deixou os Camarões por causa da insegurança nas regiões de língua inglesa. Ainda assim, diz que a vida na Guiné Equatorial não é livre de problemas.

"Eles não acolhem estranhos, mas não temos outra escolha senão viver com isso. Existe este discurso de ódio que usam constantemente e tratam mal os estranhos", afirma Bissong.

Marokko Oujda Illegale Migranten aus Mali
Migrantes do Mali repatriados Foto: Abdelhak Senna/AFP

Na opinião de Rango Marzia, as perceções negativas associadas à migração estão ligadas à instabilidade política, conflitos e alterações climáticas. No entanto, a analista afirma que não são estes problemas que tornam a migração má, mas sim a forma como esta é gerida.

"São mais as políticas que estão, ou não, em vigor para gerir a migração. E isto também é verdade para a migração de África para a Europa", diz Marzia.

Segundo o inspetor ganense Zilevu, a integração na zona da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "está ainda na sua infância" e completa dizendo que "ainda assim, há uma esperança crescente do que está no caminho certo".

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Nem tudo é mau

Más políticas de imigração têm impacto em pessoas com Bissong, que aponta o tratamento pelos países anfitriões como o seu principal problema, "mesmo que tenhas todos os documentos, continuam a tratar-te mal". Bissong diz que este tratamento vem tanto de cidadãos quanto de autoridades, na Guiné Equatorial.

Ainda assim, há africanos que contam uma história mais feliz. É o caso de Okwele Joy Nduli, que saiu da Nigéria e foi para o Gana. "Alguns dos meus colegas que se mudaram antes de mim disseram que estavam a ter bons resultados, foi por isso que saí da Nigéria para construir o meu negócio e houve uma mudança tremenda", diz Nduli em entrevista à DW África.

Outro homem que saiu das zonas conflituosas nos Camarões para procurar melhores condições na Guiné Equatorial disse à DW as vantagens que encontrou: "faço mais dinheiro aqui do que nos Camarões".

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